IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
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Biografias – Bispos(as) Metodistas
Rio, 21/4/2007
 

Natanael Inocêncio de Oliveira

Bispo Natanael Inocêncio de Oliveira

João Wesley Dornellas

Era 1965, véspera de um Concílio Geral, e o jornal Expositor Cristão dizia:
‘‘Concílio Geral - Aproxima-se mais um Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil.
A ocasião é oportuna para examinarmos o corpo, as funções porventura supérfluas ou dispensáveis no presente, a corrigir-lhe disfunções e a insuflar-lhe mais altas expressões de vida.

Em primeiro lugar, é indispensável reconhecermos que quem opera, corrige e vivifica a Igreja é Deus e que o agente dessas obras, é o Espírito Santo. Essa não foi, não é e jamais será obra humana.

Entretanto, hoje como sempre, o instrumento temporal dessa realização é o homem. Não o homem comum, impulsionado pela terrena sabedoria e trabalhado por objetivos meramente mundanos. Mas o homem rendido a Deus, movido pelo divino amor, opinando e operando com visão profética, antecipando as realidades temporais e espirituais que aguardam a Igreja nos caminhos do amanhã.

Em segundo lugar, é imperativo que se reconheça a tipicidade do organismo visado. É uma Igreja Episcopal, cuja autoridade é constituída de baixo para cima, mas, depois opera de cima para baixo.

As modificações não devem importar na transformação da Igreja Metodista de episcopal em congregacional. Não se trata de criar anomalias e aleijões, tentando reunir num só corpo eclesiástico, índoles, peças administrativas e procedimentos diferentes e conflitantes. As modificações sugeridas devem estar em harmonia com a natureza da Igreja que se quer aperfeiçoar.

Em terceiro lugar, é igualmente imperativo lembrar que as modificações, que as mudanças a serem introduzidas na estrutura e nas funções da Igreja, devem ser escalonadas no tempo e não determinadas todas de uma vez. Um doente que portasse várias anomalias, em vários órgãos, não seria operado de todos os males de uma vez. Poderia morrer do choque operatório.

Assim sob a direção divina, conhecendo e respeitando a índole da organização, com serenidade e com o mais alto senso de responsabilidade, disponhamo-nos ao aprimoramento estrutural e operacional da nossa querida Igreja Metodista do Brasil’’.
Nota de Wesley Dornellas

Este artigo, publicado no Expositor, foi republicado por mim, que era o seu redator-chefe, na revista Homens em Marcha, edição de abril/maio/junho de 1965. Antes do Concílio Geral, o Bispo Natanael liderou um movimento de mudanças na Igreja, denominado ‘‘Esquema’’, que influenciou muito na montagem das delegações. O movimento tinha características secretas, isto é, só os seus membros sabiam exatamente o que seria proposto no Concílio Geral. Esse artigo do Rev. Natanael foi uma das poucas informações públicas sobre os objetivos do ‘‘Esquema’’, que não é mencionado no artigo. O Rev. Natanael foi eleito bispo naquele concílio de 1965
e designado para a 1ª Região,, da mesma forma que Almir dos Santos (4ª), Wilbur Smith ( 6ª) e Oswaldo Dias da Silva (5ª). Os Bispos Amaral (3ª) e Pinheiro (2ª), eleitos pela primeira vez em 1955, foram reeleitos.

O Rev. Ronan Boechat me pede que escreva algo sobre o ministério do Bispo Natanael.
Conheci o Rev. Natanael quando ainda era menino. Ele já era um dos maiores oradores do Metodismo brasileiro. Nossos contatos se tornaram mais intensos quando foi reitor da Faculdade de Teologia. Nessa condição, sempre estava presente no Rio de Janeiro, especialmente nos concílios e congressos. Eu mesmo o trouxe muitas vezes ao Rio para série de conferências e colaboração em congressos. Trabalhei mais intimamente com ele quando, após a debandada de pastores e leigos para fundarem a igreja metodista
wesleyana, que não é nem uma coisa nem outra, fui eleito Secretário Regional de Missões e Evangelização. Posso testemunhar o seu amor à Igreja Metodista e sua extrema fidelidade às nossas tradições e doutrinas. Divergi muito dele em algumas providências que tomou como bispo mas essas divergências não diminuíram em nada a admiração que tinha por ele.

Gostaria de destacar algumas coisas do seu ministério O Maestro
O Bispo Natanael gostava muito de música. Como reitor da Faculdade de Teologia, ele criou um grande coral, do qual participavam, como base, alunos e professores da Faculdade de Teologia, reforçado por centenas de cantores de diversas igrejas de São Paulo. Um dos desafios ao qual se impôs foi ensaiar o oratório ‘‘São João
Batista’’, de Leo Schneider.

Durante meses e meses, reunidos a princípio em pequenos grupos nas diversas igrejas, o Bispo Natanael ensaiou o oratório, peça de difícil execução, especialmente, especialmente para cantores sem formação técnica. Foi um trabalho cansativo, ao qual não faltaram o grandioso esforço dele, sempre presente, motivando a todos para a grande tarefa.

Finalmente, depois de centenas de ensaios, de mais de mil horas de trabalho, foi planejada a audição cujo sonho de todos era que ela ocorresse no Teatro Municipal de São Paulo. Conseguiram a cessão do teatro mas seus diretores exigiram que a qualidade técnica do coral fosse atestada por uma comissão composta de seus principais maestros e músicos. Marcou-se, então, a audição teste, com a utilização da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo. O maestro Leo Schneider, que morava em Porto Alegre, à última hora, não pôde vir para reger coral e orquestra.

Os cantores no palco, o Bispo Natanael esperava que algum dos maestros do teatro ou da própria orquestra regesse tudo. Negaram-se a fazê-lo. Era o momento decisivo. Se o coral não mostrasse sua capacidade, não teria outra oportunidade. O Bispo Natanael, que nunca regera uma orquestra, tinha agora a tarefa de dirigir uma das melhores orquestras do Brasil. Antes de fazê-lo, orou junto com o grupo. Depois, dirigiu a palavra aos músicos profissionais que compunham aquela importante orquestra. Explicou que nunca havia regido uma orquestra e nem tinha conhecimentos técnicos para isto. Falou, então, do ideal da música e valorizou o fato de que aqueles cantores eram, em sua maior parte, operários dos subúrbios de São Paulo, e que cantavam por amor à música e a sua fé. Enfim, fez um apelo aos músicos para que, esquecendo-se do maestro improvisado, dessem o melhor de si por amor à música, o mesmo amor que aqueles cantores humildes possuíam. Feito isto, pegou a batuta e regeu.

Quando terminou a linda peça musical, os maestros da Comissão de julgamento estavam aplaudindo de pé. O grande coral tinha sido aprovado com louvor. O objetivo tinha sido alcançado. Algum tempo depois, o grande coral apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo em noites de grande gala. O Bispo Natanael era reconhecido como a força-motriz de todo o programa.


Faculdade de Teologia

Quando foi eleito reitor da Faculdade de Teologia, da qual era professor, o Bispo Natanael começou logo a desenvolver planos de melhoria dos prédios e instalações da Casa dos profetas, como era chamada. De plantas na mão e um sonho no coração, andou o Brasil todo em busca de contribuições para as grandes obras. Criativo como era, conseguia ofertas grandes que eram representadas por notas promissórias com pagamentos mensais. Com prestígio bancário, descontava as promissórias e conseguia dinheiro vivo para a compra de material. Ganhou, mediante bem planejadas e criativas estratégias, grande parte dos materiais, inclusive todo o mármore usado na obra. Muita gente criticou o luxo do mármore mas não sabia que ele tinha sido ganho. Assim, o mármore saía mais barato do que os azulejos e ladrilhos convencionais.

Foi um tremendo sacrifício mas finalmente os novos prédios de aulas, de administração e o majestoso auditório foram inaugurados.


Uma conversão

Como presidente dos jovens de Cascadura, convidei-o para uma série de conferências evangelizantes e fizemos muita propaganda com visitação de casa em casa. Na primeira noite, o tempo estava repleto. Entre os muitos que deram o primeiro passo estava um homem que era vizinho de um dos nossos jovens. Na noite seguinte, ele chegou cedo e pediu para conversar com o Bispo Natanael antes do culto. Foi levado por mim à casa pastoral. No fim dessa breve entrevista, aquele homem ofereceu a Natanael um pequeno saco de compras disse que, depois do sermão da noite anterior, resolvera
mudar de vida e ser um cristão. Assim, como não tinha mais necessidade do que estava naquele saco, ele estava oferecendo ao Bispo Natanael para jogar fora. Dentro do saco, para espanto de todos nós, estavam uma revólver calibre 32, um maço de cigarros incompleto, um isqueiro Zippo e uma garrafa, também incompleta, da cachaça Ypioca.


A cisão da Igreja

Em 1967, no Concílio Regional realizado em Friburgo, a Igreja Metodista na Primeira Região foi apunhalada por alguns pastores e centenas de seus membros leigos. Era um grupo que havia perdido o seu ideal metodista e tentava impor, de maneira indisciplinada e covarde, doutrinas e práticas estranhas ao Movimento Metodista.

Os bispos da época, em pastorais criteriosas e firmes, exortaram os pastores a voltarem às antigas práticas metodistas, no que não foram ouvidos. Finalmente, em pastoral mais enérgica, foi feito um apelo para que aqueles pastores abrissem mão de suas posições e disciplinadamente acatassem as leis da Igreja Metodista e suas ênfases doutrinárias. Se não pudessem fazer o caminho de volta, aqueles pastores foram exortados a devolverem suas credenciais. Assim, em flagrante desrespeito à Igreja Metodista, numa das salas da Fundação Getúlio Vargas, onde se realizava o Concílio, foi criada a Igreja Metodista Wesleyana. Deixaram nossa igreja, nesse movimento de rebeldia, meia dúzia de presbíteros e cerca de mil membros.

Naquele Concílio, na recusa de pastores em assumir o desafio, fui eleito secretário regional de missões e evasngelização, com a tarefa de liderar, ao lado do bispo Natanael, o esforço de recompor o nosso rol de membros. Durante os anos que se seguiram e até hoje, alguns pastores que não tiveram coragem de sair da Igreja Metodista, e alguns que foram e depois voltaram, criticaram o papel desempenhado pelo Bispo Natanael naquela crise que, para alguns, tinha sido criada por ele próprio.

Tive na época muitas reuniões com o Bispo e participamos juntos de muitas atividades de evangelização. Posso testemunhar duas coisas. Foi com muita tristeza que ele teve que tomar medidas, junto com os demais bispos, de preservação de nossas doutrinas e práticas. Se não fosse por isto, nossa igreja teria sido alvo fácil daquelas práticas. Tudo o que fez, foi com amor. Tentou tudo e, apesar dessas críticas, os pastores que saíram declararam, conforme consta das atas do concílio: ‘‘não poderemos jamais nos queixar da Igreja Metodista do Brasil que nos acolheu por longos anos’’.

A Igreja Metodista deu todas as oportunidades para que os pastores que se retiraram voltassem atrás em suas ênfases doutrinárias não metodistas. Porque não queriam respeitar a tradição metodista, deixaram nossa igreja e, em práticas n ão muito corretas, aliciaram seus rebanhos para que os acompanhasse. Portanto, não cabe à Igreja Metodista nenhum pedido de perdão aos que dela saíram. O que ela tinha que fazer, ela fez. Orou por eles e os perdoou. Pedir perdão pelos erros deles - covenhamos - é um exagero injustificável.

Encontros Regionais

No decorrer do ano de 1967, sob a liderança do Bispo Natanael, foram realizados diversos encontros especiais com grupos diversos. O mais importante deles, sem dúvida, foi o ‘‘Encontro dos mil jovens’’, realizado no estádio Caio Martins, que contou de fato com a participação de 1.400 jovens. Foi sem dúvida o maior evento realizado no Brasil metodista com a mocidade. No programa, cultos, palestras e muitas oficinas de trabalho, se bem que naquela época não se chamavam assim. Outros encontros naquele ano foram o das mulheres (cerca de 1.000 mulheres) e o dos Ecônomos, cerca de 300 participantes, que foram informados sob todos os aspectos da administração material da Igreja. Também durante seu episcopado, foi criado o Seminário Metodista Bispo César Dacorso Filho, que funcionava no Bennett, que sucedeu ao Instituto Asbury, que funcionava precariamente no Instituto Central do Povo.

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