IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
Fundada em 15 de Junho de 1902

Boulevard Vinte e Oito de Setembro, 400
Vila Isabel - Rio de Janeiro - RJ
CEP: 20551–031     Tel.: 2576–7832


Igreja da Vila

Aniversariantes

Metodismo

Missão

Artigos e Publicações

Galeria de Fotos

Links


Biografias – Bispos(as) Metodistas
Rio, 21/4/2007
 

Sante Uberto Barbieri

SANTE UBERTO BARBIERI, um Bispo Metodista

Rev. Luis de Souza Cardoso


Sante Uberto Barbieri nasceu em Dueville, província de Vicenza, no Vêneto, ao nordeste da Itália, em 2 de agosto de 1902. Chegou ao Brasil com 8 anos, em 16 de julho de 1911. Sua família fez parte de um dos mais extraordinários fluxos de população, que entre o final do século XIX e primeira metade do século XX jorrou para fora da Itália cerca de 24 milhões de imigrantes. Suas memórias, registradas ao longo da vida, nos revelam uma bela história.

“De que nacionalidade é você? Perguntam as pessoas que não me conhecem. E, francamente, às vezes desejo saber se eu posso dar a resposta exata. Alguém pode dizer: mas você não sabe onde nasceu? Claro que sim. Mas minhas andanças foram tantas que eu acho difícil dizer que pertenço a este ou àquele país. Cada vez mais eu me sinto um cidadão do mundo”.[1 ]

Logo na infância conheceu o preconceito nacionalista, como rememora em sua poesia “Estrangeiro”.[2] Esta palavra, que lhe foi pronunciada com desdém por ser diferente, qualificou de “odiosa” e “dura”. Contudo, herdeiro de um ousado estilo de vida dos pais anarquistas, amantes da liberdade e lutadores pela justiça, Barbieri superou estes e outros reveses ao longo de sua vida.

A partir de sua experiência com Cristo a convicção de cidadania universal sedimentou-se. Em sua palavra ao 10° Concílio Geral, em Belo Horizonte, 1970, destacou: “Quando eu, peregrino que tenho sido no mundo, senti a minha orfandade nacional, um estrangeiro em toda parte, encontrei em Jesus o meu irmão universal, e, em seu Reino, a minha cidadania, a qual por ninguém me pode ser tirada.”[3]

Em 1921 o missionário metodista em Passo Fundo, RS, Rev. Daniel Lander Betts, conheceu Barbieri. Este, aos 19 anos, proferia conferências no auditório da Prefeitura municipal. Seus temas: a “Liberdade”, em honra da Revolução Francesa; a “Caridade”, baseado em teses sobre a defesa da dignidade humana. Logo Betts percebeu seu potencial e o convidou para continuar seus estudos e trabalhar no Instituto Gymnasial, colégio metodista recém fundado naquela cidade (1920).

Barbieri reconheceu que à época “era um jovem agnóstico, um livre pensador, imbuído de idéias revolucionárias”[4], simpatizante dos ideais anarquistas de seus pais; não tinha portanto nenhum interesse em qualquer aspecto da religião. Contudo, não tinha ele condições de perceber ainda, o quão próximo estava, por seus ideais de liberdade, justiça e defesa da dignidade humana, do cristianismo, da teologia wesleyana e da tradição metodista. Aos poucos foi se integrando com a leitura da Bíblia e conheceu as práticas e a piedade metodista.

Conta que ao conseguir sua primeira Bíblia, começou a leitura pela epístola de João, onde encontrou a definição: “Deus é amor” (1Jo 4.8). Depois deparou-se com Cristo, como relembra: “...encontrei o carpinteiro Jesus, encarnação desse amor em seu trato com o ser humano... muito mais digno do que aquele dos meus filósofos e dos ideais políticos de meus pais. A violência devia dar lugar ao amor. Não foi nenhum pensamento sobre a deidade de Jesus que me atraiu, senão seu amor à humanidade.”[5]

Em pouco tempo, diante daquele impacto com Cristo, o “jovem agnóstico” estava vivendo uma profunda inquietação existencial, conforme descreve: “Em um certo entardecer, enquanto os raios do sol estavam morrendo por sobre as ondas do mar, em Santos, Brasil, justamente só alguns meses antes de meu pai morrer, eu estava caminhando com ele ao longo da praia. Eu sempre tive uma tremenda paixão pelo mar e nunca deixei de admirar o seu maravilhoso mistério. Posso ficar horas e horas ouvindo sua voz murmurando e olhando seus movimentos incessantes. Enquanto admirava aquele maravilhoso pôr do sol, eu comentei com meu pai: ‘Você poderia acreditar que toda essa maravilha é mero produto do acaso?’ Ele olhou-me espantado e disse: ‘Você cogita com esta pergunta que poderia haver um Deus? Você se deixou influenciar por algumas idéias religiosas?’ Eu respondi: ‘Não posso lhe afirmar com certeza. Mas é difícil eu acreditar que tudo aquilo que há no mundo só exista por mero acaso. ’ Então o silêncio caiu entre nós e não falamos mais. As sombras da noite nos encontraram olhando longe o horizonte, onde o céu encontra o mar...”[6]

Assim, sua relação com Cristo e com o metodismo evoluiu passo a passo, como ele mesmo reconhece: “...fui conduzido por mão invisível e gradualmente, sem que percebesse Quem me guiava. Nunca tive uma experiência surpreendente, súbita, que sacudisse minha consciência. Tudo foi coisa natural e quase de modo sensível. O que me impactou foi a figura de Jesus em seu trato com os seres humanos...”[7]

No primeiro domingo de abril, de 1923, Barbieri foi recebido como membro da Igreja Metodista em Passo Fundo. Três meses depois, recebeu da Conferência Distrital de Cruz Alta a credencial de “pregador local”. Em 1926 foi o primeiro aluno a formar-se pelo Porto Alegre College, Bacharel em Artes e Teologia. Mais tarde obteve grau de Mestre em Antigo e Novo Testamento, na Southern Methodist University e na Emory University, nos Estados Unidos, de onde voltou ao Brasil em 1933 para dirigir a Faculdade de Teologia do Concílio Regional do Sul.

Barbieri foi ainda o primeiro reitor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, criada pelo 3º Concílio Geral, em fevereiro de 1938, a qual dirigiu nos primeiros passos de implantação até outubro daquele ano, quando se demitiu por divergências com o Conselho Superior. Um ano depois deixou definitivamente o Brasil, passando a servir a Missão Metodista no Uruguai e Argentina.

Em Buenos Aires foi reitor do Union Theological Seminary, tendo sido eleito Bispo pela Conferência Central Metodista da América Latina, em 1949. Como Bispo da United Methodist Church, dirigiu as Igrejas da Argentina, Bolívia, Uruguai e Peru, até suas respectivas autonomias. Em 1949 foi presidente da Primeira CELA - Conferência Evangélica Latino-americana; posteriormente em 1954 foi eleito presidente do CMI - Conselho Mundial de Igrejas. Na década de 1970 ajudou a fundar o CIEMAL - Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina e foi um dos principais articuladores da organização do CLAI - Conselho Latino Americano de Igrejas.

Barbieri faleceu em 13 de fevereiro de 1991, em Buenos Aires, Argentina. Deixou uma extensa obra literária, com mais de oitenta livros publicados em português, inglês, espanhol e italiano, compreendendo teologia, poesia, prosa, novelas e contos. Desta forma o Bispo Barbieri foi um cidadão do mundo e um cidadão do Reino. Nosso reconhecimento à sua vida e obra no metodismo brasileiro, latino -americano e mundial.


Outros detalhes da biografia estão disponíveis em:
www.biografiahistoria.hpg.com.br


NOTAS:
[1] BARBIERI, S.U. A short biography of Sante Uberto Barbieri. Buenos Aires, maio 1949. p.1. (Datilograf.)

[2] Extranjero, Montevidéu: 12 de novembro de 1941. In: Peregrinaciones de mi espiritu. Buenos Aires: Club del Libro Evangélico – Imprensa Metodista, 1942. pp.109-110.

[3] CHAVES, D.A. Cidadão do mundo. Porto Alegre: Segunda Região Eclesiástica, 1973. p.27. (Datilograf.)

[4] BARBIERI, S.U. How I met Christ . Buenos Aires, s/d. p.4. (Datilograf.)

[5] BARBIERI, S.U. Mi desconocido itinerário hacia Cristo . Buenos Aires, dezembro 1976. p.7. (Datilograf.)

Voltar


 

Copyright 2006® todos os direitos reservados.