Ílídio Christino de Oliveira
Ílídio Ílídio Christino de Oliveira Filho, o pastor Dico
Quem nunca ouviu ao telefone a forma padronizada, fria e impessoal dos atendimentos quando ligamos às empresas? No senso comum de nossa sociedade, os funcionários cristalizaram o seguinte padrão: o nome da empresa, a saudação e a identificação pessoal. Agora, quem já ouviu a seguinte expressão: “ALÔ? JESUS TE AMA!!!”, (e eu ainda o ouço atendendo assim) sabe de quem estou falando, pois, com esta marca registrada, o Pastor Ilídio conseguiu deixar história. É verdade, deixou saudades...
Nascido em 09 de fevereiro de 1936, em Estiodoro, a mais ou menos 70 Kms de Juiz de Fora, Minas Gerais, o Pastor Ilídio Christino de Oliveira foi o quinto filho do casal Etelvino Christino de Oliveira e Carmelita de Oliveira, e mais nove irmãos: Isaías, Elias (falecido), Regina (falecida), Maria, Nair, Nainha, Luis, Israel, Ismael, Marta e Nilza. Criado no meio da roça, viveu a tradicional família mineira com comida feita com banha de porco e no fogão a lenha, a galinha criada no quintal era preparada em casa, o leite tirado da vaca, as frutas colhidas no pé, as verduras e legumes tiradas das terras, que segundo Pero Vaz de Caminha, “tudo dá”... Começou cedo a trabalhar, ainda criança. O primeiro trabalho foi na roça, depois entregando marmitas, e mais tarde, engraxate. A vida começava despertar nele o tino comercial.
O jeito engraçado e muito comunicativo teve sua origem no seu passado. Em suas muitas histórias, relato uma parte de sua biografia que denota seu lado alegre e espontâneo que se tratava do seu trabalho de entregador de marmitas. Um dia, saiu ele para entregar as famosas marmitas em Juiz de Fora. Entre carros, cavalos e bondes, o pastor Ilídio, no início da sua juventude, estava atrasado para fazer suas entregas, quando viu o bonde passando. Ele correu para pegá-lo mas o que aconteceu? Uma das marmitas caiu no chão. Foi carne para um lado, feijão pro outro, ou seja, um verdadeiro terremoto. Ele, sem perder tempo, de maneira que a comida caiu no chão ele a colocou para dentro da marmita. A marmita ao ser entregue, o distinto cliente ao ver a “pororoca” das comidas, fez o seguinte comentário: “O que aconteceu aqui?” A primeira reação dele foi sair o mais rápido dali.
Outra vez, quando pequeno, seus irmãos mais velhos estudaram no Grambery e o Pastor Ilídio ia ao refeitório para pegar os farelos dos pães que ficavam sobre as mesas, e com isso, os levava para casa para comer misturado ao leite. Por várias vezes, o Pastor Ilídio mostrou, com orgulho, o prêmio de sua infância levada: o braço torto, quebrado ao brincar de pular carniça. Este fato, anos mais tarde, o deixou fora do serviço militar, porém, acontecimento que ele muito desejou em sua vida. Além disso, dormiu sobre o parapeito da ponte que passa sobre o rio Paraibuna, em Juiz de Fora, sob o risco de cair no rio. Detalhe: ele nunca soube nadar.
Pelos idos de 54, aos 19 anos, meu pai chegou ao Rio de Janeiro, onde morou em Copacabana, dividindo o apartamento com seus primos e amigos de Minas Gerais. Começou trabalhando em uma leiteria na Rua Siqueira Campos, Copacabana, e mais tarde, como empregado do seu primo em uma loja de disco, próximo ao cinema Roxy. Tempos depois, meu pai inicia seu próprio negócio, primeiro em sociedade com um outro jovem da Igreja Metodista do Jardim Botânico, Ney Varanda, uma papelaria, e depois, sozinho. Em 1961 iniciou a Discadoro, a primeira loja de disco que atuava com compra, venda e troca de discos. Um de seus funcionários, em tempo de seminário, foi o bispo David Ponciano Dias.
Concomitantemente a sua vinda ao Rio de Janeiro, ele começou a freqüentar a Igreja Metodista do Jardim Botânico onde fez grandes amigos e amigas. Entre eventos, passeios e festas, o mais importante aconteceu no Pão de Açúcar. Por que? Porque ali meu pai e minha mãe começaram a namorar. No dia 10 de setembro de 1965, Ilídio Christino de Oliveira e Alice Morais de Oliveira uniram-se pelos laços do casamento, sendo celebrada na própria igreja do Jardim Botânico, pelo reverendo Juracy.
Moraram na Rua Júlio de Castilho, 34/304 – Copacabana, local onde mais tarde nasceram os filhos: Ilídio C. de Oliveira Jr. (Dico) em 27 de dezembro de 1966, o nome deveria ser Márcio, mas como o pai de minha mãe o obrigou a colocar o nome do pai no primeiro filho, então...; Flávio Moraes de Oliveira em 17 de julho de 1968 e Cíntia Moraes de Oliveira em 08 de janeiro de 1975. Depois fomos morar no Leblon e retornamos para Copacabana, onde permaneceu toda a sua vida.
Em 1990, quando o pastor Ilídio foi nomeado Evangelista da Igreja Metodista do Jardim Botânico, Deus o foi direcionando para que toda a sua vida fosse voltada para a Sua Obra. Este desejo foi aumentando, sendo culminado com a finalização da venda da loja para um de seus antigos funcionários. Esta loja continua no mesmo lugar e no mesmo ramo até hoje em Copacabana, na rua Rainha Elizabeth, 122/loja B – Posto Seis, agora, é claro, com outro nome. Em 1991, recebeu a primeira e única nomeação para Igreja Metodista em Copacabana, local onde começou e terminou sua vida no Rio de Janeiro.
No dia 22 de junho de 2004, enquanto fazia seus exercícios físicos, conforme recomendações médicas, nadava na piscina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Urca, onde, por volta das 9:20hs ele sentiu-se tonto. Ao comunicar à professora, ela recomendou que se sentasse na borda e o auxiliou para isto, quando por um infarto fulminante ele partiu para o Senhor.
Esta breve homenagem representa o quanto o amamos e quanto ele foi importante para nós, à família, e muita gente, pelo exemplo de dedicação, zelo e vontade própria. Vindo com quase nada, conseguiu ser empresário, pai, marido e pastor. Tornou-se bacharel em Teologia no ano de 2003 e em 2004, dava início ao primeiro ano do período probatório ao presbiterado da Igreja Metodista, no entanto, não conseguiu chegar ao fim. Por durante 68 anos, Deus esteve morando com ele, agora, chegou a hora dele morar com Deus. Deus o chamou no dia 26 de junho de 2004, às 9:20 da manhã, e ele obedeceu, pois era o que ele mais desejava em sua vida. Sua alegria contagiante dos almoços de domingo deixaram lembranças eternizadas pela sua presença e saudades incicatrizáveis da sua maneira excêntrica e peculiar em atender ao telefone com a famosa, célebre e inesquecível frase: “ALÔ? JESUS TE AMA!!!”.
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