Ele mede 1,54m, pesa 43 quilos é um senhor franzino, mas cheio de vitalidade no auge dos seus 93 anos. Lormindo Martins de Almeida é daquele tipo de senhor que esbanja simpatia e exibe uma paciência enorme com os mais jovens, coisa raro hoje em dia. Pai de duas filhas e história da família do seu Lormindo como é conhecido na Igreja Metodista em Pilares (IMP), começa mais ou menos há 60 anos quando ele foi visitar seus parentes na Bahia, sua terra natal e conheceu a dona Maria Nogueira numa festa popular. “Ele era amiga de minhas primas e fomos juntos para a festa”, conta ele.
Vinte anos se passaram depois dessa festa e Lormindo, já morando no Rio de Janeiro, reencontrou dona Maria também na casa de uns parentes. E um ano depois em janeiro de 1956 eles se casavam. Seu Lormindo nesta época estava com seus 46 anos completos. “Eu não quis casar antes porque não tinha paradeiro em lugar algum desde que tinha saído da casa dos pais em Triunfo, na Bahia”, lembra ele.
Na época nosso personagem era agricultor de profissão e já tinha passado por vários estados sem, entretanto, fixar residência. São Paulo, Mato Grosso (naquela época o estado do MT não tinha sido dividido em dois estados), Goiânia. “Em São Paulo ganhei muito dinheiro com a colheita de algodão e sai pelo Brasil afora”, conta. Antes, entretanto, de se aventurar nas viagens, seu Lormindo, que começou a trabalhar ao 12 anos arriscou outras profissões como a de feirante.
Aos doze anos vendia lenha na cidade – seu primeiro trabalho – depois aos 17 anos trabalhou numa farmácia (na época praticamente só existiam farmácias de manipulação, ao contrario de hoje onde elas são a exceção). Mas, sua profissão de ‘farmacêutico’ teve vida curta e três anos depois com o fim de sua carreira na farmácia, seu Lormindo foi trabalhar com seu irmão mais velho numa carpintaria. “Isso foi às vésperas de eu vir para o Sudeste. Mas, antes eu passei pelo garimpo em Xique-Xique na Chapada da Diamantina. Meu pai pediu a um amigo que me levasse, mas fiquei pouco tempo”, lembra.
Mas, aos 46 anos ao reencontrar dona Maria, o coração falou mais alto e ele se convenceu que era hora de fixar residência. Como já conhecia o Rio de Janeiro, decidiu pela Cidade Maravilhosa e foi trabalhar na Base Aérea de Santa Cruz. Lá seu Lormindo aprendeu o oficio de carpinteiro. Talento herdado do pai. Antes, porém, de se casarem ele levou dona Maria para campos do Jordão para se tratar de uma “doença do pulmão”. Fomos para lá através de uma irmã que na época era presidente da Sociedade de Mulheres e consegui que nós fossemos para lá para a Maria se tratar”, conta. “Daqui, pouco mais de um ano, vamos fazer bodas de ouro”, se entusiasma seu Lormindo que tem duas filhas, quatro netos e um bisneto. “Meu neto, o Danilo é músico, toca violão no ministério de Louvor”, diz ele sem disfarçar a satisfação.
Além de ser o idoso mais velho da igreja local, seu Lormindo também é um dos remanescentes fundadores da Igreja Metodista em Pilares. Desta época ele lembra de muitas passagens como o inicio da história da IMP. “Eu era membro da igreja Metodista em Irajá e um dia recebi o convite do irmão Abelardo para um culto em sua casa. Eram cerca de vinte pessoas que freqüentava e logo viraria um ponto de pregação.
“Os cultos – continua ele - eram realizados debaixo de uma mangueira. Sentávamos em bancos sem encostos e quando levantávamos depois de horas de pregação, sentíamos dores nas costas. Mas foi um período rápido e logo fomos para um local na rua Itaparica e depois para a Álvaro de Miranda e finalmente viemos parar aqui”, lembra seu Lormindo que, com uma memória perfeita lembra de datas, nomes e ruas. Nada escapa de suas memórias. Quando construímos o templo em 1988, eu fiz o telhado sozinho, não quis ninguém me ajudando” conta.
Para um fundador de qualquer instituição era de ser esperar que, o que o marcasse mais seria alguma acontecimento relacionado à época, mas não com seu Lormindo. Para ele o que mais marcou foi à chegada do avivamento na igreja local, em 1987 com o pastor Carlos Alberto Tavares. “Quando ouvi aquele barulho, eu levantei e fui embora”, lembra. O “barulho” na verdade eram as palmas e gritos de aleluia e glória a Deus. “Eu era tradicional e nunca tinha visto aquilo, mas depois do primeiro momento o susto passou e hoje até danço para Jesus”, diz seu Lormindo se divertindo com a própria reação.
Passado o susto inicial, seu Lormindo foi aos poucos entendendo o “barulho” e se adaptou. “Mesmo antes do avivamento eu já cria nos dons do Espírito Santo. Mas uma coisa é crer outra e viver e ver a manifestação desses dons”, diz ele, hoje tão familiarizado com essas maravilhas.
Praticante da Palavra seu Lormindo atribui a sua longevidade a Deus. “Em janeiro próximo faço 94 anos e penso que se cheguei até aqui é porque Deus tem um propósito em minha vida”, conjetura ele. Outra passagem da Bíblia que ele vê claramente acontecer na sua vida hoje a de Provérbios que diz: “... lança teu pão”. Quando ele trabalhava como feirante ele dava toda semana duzentos réis para sua irmã mais nova de seis anos comprar banana para ela. Hoje ela retribui a ele com uma expressiva mesada que o ajuda na sua aposentadoria. Assim é seu Lormindo, um baiano arretado na fé.
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