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Teologia
Rio, 22/11/2007
 

A Teologia e o Silêncio (Luiz Wesley)

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Teólogos cristãos imaturos tem o péssimo hábito de achar que devem sempre dizer alguma coisa para, pretenciosamente, elucidar e explicar todas e cada uma das ocorrências da vida, boas ou ruins. A teologia madura, contudo, é aquela que se exige saber quando e como ficar em silêncio diante de situações experimentadas pelas pessoas. A teologia sábia e experiente não se pretende ter ou ser resposta para tudo, seja no púlpito, no hospital, na literatura, no campo missionário, na célula, na mesa de bate-papo, no cemitério, durante uma visita ou num debate. O teólogo maduro, ao silenciar-se, confia plena e radicalmente no Espírito Santo, da mesma forma e na mesma medida em que confia n'Ele quando abre a boca.

Historicamente, a teologia e a proclamação têm sido narrativas e vernaculares por natureza. Contudo, é também verdade que a impotência e a impaciência nos traem, notadamente quando estamos diante de quadros depressivos, desesperadores ou complexos. E é aí que o "não poder fazer nada" nos seduz e nos conduz à linguagem verbalizada, e, portanto, à possível subjetividade de palavras ditas ao léu, sem pertinência ou relevância alguma. A nossa lógica é que, se falhamos em dizer ou verbalizar alguma coisa, o silêncio santo de Deus também será incapaz de comunicar à mente e ao coração das pessoas.

Ocorre, entretanto, que o Espírito Santo é aquele que perscruta novas formas de linguagem e novas subjetividades através das quais ele ouve, ora, geme e fala (Romanos 8:18-27), justamente por causa das nossas limitadas capacidades enquanto humanos. Isto inclui nossas doutrinas que, por espantoso que pareça a alguns, não conseguem capturar a totalidade de Deus, simplesmente pelo fato de que são produto da inteligência, da linguagem, do pensamento e do engendramento humano. Nenhuma destas coisas é veículo adequado para a total compreensão do divino.

Não quero dizer com isso -- em absoluto! -- que nossas doutrinas ou sistematizações da fé sejam falsas. O que digo é que elas são inevitavelmente incompletas e, eventualmente, distorcidas quanto a revelar e comunicar Deus na experiência humana. Se queremos conhecer Deus e os seus pensamentos de forma mais ampla, embora ainda e sempre incompleta, temos que ir para além do que sabemos, ou do que pensamos que sabemos! Afinal, as melhores e mais fiéis tentativas de descrever Deus e a humanidade podem acabar sendo nada mais do que auto-interesse idólatra.

Não ser capaz de ficar calado quando o silêncio é necessário, é reproduzir, na teologia e na proclamação, a atitude da "mulher do Aderbal". Refiro-me ao quadro humorístico em que a esposa de Aderbal, pressupondo conhecer detalhes do que vai no pensamento do marido, coloca em seus lábios palavras que ele nunca pronunciou, gerando os maiores constrangimentos para o próprio Aderbal em relação aos seus amigos "ouvintes". Aderbal acaba por perder os amigos por causa daquilo que sequer falou. Pior do que isto é que, ao final, ela própria sentencia o marido, dizendo: "Você fala demais, Aderbal!" Ele, contudo, não chegou sequer a abrir a boca, nem muito menos disse uma só das palavras pronunciadas por sua esposa.

A revelação de Deus se silencia na voz do teólogo quando este se ocupa demais em falar. É como se o som da voz de Deus sofresse um eclipse causado pelas sombras que a precipitação e o excesso de palavras do teólogo impõe ou imputa à revelação. Por isso, é preciso aprender a se silenciar quando necessário, reconhecendo que há algo muito além do que a linguagem verbalizada pode comunicar e operar. Isto acontece quando o teólogo começa por admitir os limites do seu próprio pensamento teológico, e se posta silencioso, humilde, contrito e genuflexo na presença de um Deus que está acima e além das suas tentativas de descrevê-Lo.


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