IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
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Rio, 24/4/2008
 

1800: O metodismo norte-americano ao oeste dos montes Aleghains (Paul Eugene Buyers)

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O METODISMO AO OESTE DOS MONTES ALEGHAINS


O Metodismo, antes de findar o século dezoito, espalhou-se entre as treze colônias primitivas dos Estados Unidos. Logo depois, ou mesmo antes, da guerra da Independência, imigrantes das colônias passaram para as planícies ao oeste dos montes Aleghanis. Pioneiros, como Daniel Boon, já tinham penetrado nas florestas e planícies existentes entre o rio Mississipi e os montes Aleghanis e para o norte do Rio Ohio. Chegara já o tempo dos itinerantes seguirem as pegadas dos imigrantes. Antes de 1800, Asbury tinha feito algumas viagens além dos montes Aleghanis, até Kentucky. Já existia uma escola à beira do rio Kentucky, no lugar chamado Betel. Havia alguns pregadores e crentes metodistas espalhados por aquela vasta, e promissora zona. O número de imigrantes aumentava dia a dia; homens de toda espécie, bons e maus, penetravam naquela zona. Estava o tempo propício para evangelizá-la. Mas precisava-se de homens fortes, corajosos e inteligentes para conquistar aquele povo para Cristo.

Asbury, vendo a situação e, com ela, grandes possibilidades e oportunidades, queria passar além e conquistar a região para seu Mestre. Não somente via ali grandes oportunidades, mas também conhecia o homem talhado para elas, Guilherme McKendree.

Guilherme McKendree nasceu em 6 de julho de 1757, no estado de Virgínia. Seus pais eram do mesmo estado. Seu pai era fazendeiro. Guilherme cresceu na roça. Estudou nas escolas que por lá existiam naquela época. Depois de ter adquirido instrução regular, ensinou por algum tempo em escolas particulares. Prestou serviço militar na guerra da Independência. Esteve no exército de George Washington e tomou parte na batalha de Yorktown, achando-se presente quando o general britânico Cornwallis se rendeu às forças americanas, pondo fim a guerra, que durara 7 anos.

Bem cedo se manifestaram seus sentimentos religiosos. Se não tivesse tido um professor ateu, ter-se-ia convertido na primeira mocidade. Seu professor o ridicularizava pelos seus sentimentos religiosos e o rapaz se escandalizou e deixou de lado a religião. Por Alguns anos viveu na incredulidade. Só depois de uma grave enfermidade é que a sua consciência despertou de novo, mas não suficientemente para firmá-lo na vida cristã. Depois de ouvir as pregações dos metodistas, caiu em, si e rendeu-se a Deus. Foi no pastorado de João Easter que se converteu e se identificou com o povo metodista. As lutas por que passou, foram tremendas, porém finalmente achou a paz de espírito e todas as dúvidas se lhe dissiparam. Ao ouvir um sermão pregado pelo seu pastor, sobre a santificação, se interessou nesta doutrina e logo começou a examiná-la. O resultado disso, como ele mesmo narrou, foi o seguinte:

"Minha alma crescia na graça e na fé que vence o mundo. Uma manhã, quando eu andava e meditava no campo, um poder irresistível do Ser divino apoderou-se de mim de maneira nunca antes por mim experimentada. Não podendo ficar em pé, cai ao chão e fiquei extasiado. Meu cálice transbordava: gritei de alegria! Se não tivesse tido certas experiências dolorosas que me sobrevieram depois, poderia ter-me regozijado eternamente. Meu coração ficou engrandecido e vi, sob luz mais clara do que nunca, o perigo dos que se acham no estado de incredulidade Por tais pessoas orei com ansiedade. Às vezes, quando era convidado para orar em público, minha alma agonizava por elas, e o Senhor com grande compaixão sobre elas derramava seu Espírito. Foram convencidas e convertidas muitas almas e Sião se regozijou naqueles dias. Sem qualquer idéia de pregar, comecei a contar minha experiência acerca daquilo que o Senhor fizera por mim e o que poderia fazer pelo povo. Isso produziu efeito, causou impressões duradouras. Assim, sem eu perceber, fui guiado por Deus e os pregadores e o povo começaram a insistir para que eu continuasse a falar em público” (McTyeire, p. 483-484).

Guilherme McKendree hesitou, não querendo entrar no ministério. Seu pai, vendo a sua perplexidade, falou com ele sobre o assunto, aconselhando-o a não resistir ao Espírito Santo.

Poucos meses depois, a pedido do seu pastor, assistiu à Conferência, onde foi nomeado, como pregador, para a zona de Mecklingbilrg. Ficou abismado, duvidando se deveria aceitar ou não a nomeação. Mas seu pastor e também o superintendente distrital, rev. Easter, vendo o embaraço dele, procuraram-no e abraçaram-no, dizendo: "Quando você estava perante a Conferência, creio que Deus nos manifestou que tem trabalho para você fazer". Oh. como estas palavras calaram no espírito do jovem pregador! Cobrou ânimo, aceitou a nomeação e mais tarde foi eleito o primeiro bispo nascido em solo americano.

McKendree trabalhou dois ou três anos no estado de Virgínia e nos das Carolinas do Sul e do Norte antes de ser levado pelo bispo Asbury para as fronteiras das possessões dos Estados Unidos.

No outono de 1800 o bispo Asbury e Whatcoat, passando pelo campo de McKendree, o levaram para as fronteiras, além dos montes Aleghanis. Iam realizar a Conferência do Oeste, em Betel, no estado de Kentucky. McKendree prontificou-se a acompanhá-los Dizem que era homem de perfeita ordem, que podia arrumar mais coisas no seu alforje como o melhor jeito do que qualquer itinerante do seu tempo. Foi nomeado superintendente de toda a zona da Conferência do Oeste. Nele se achava um homem talhado e preparado para implantar o cristianismo na civilização de uma nação nova, aproveitando a maior oportunidade que se concederia a alguém em vida a história ao povo americano. Durante oito anos McKendree trabalhou nessa zona, cresceu e se desenvolveu no ministério, tornando-se um dos pregadores mais destacados da sua época na história da Igreja Metodista.

Terminada a Conferência, Asbury, Whatcoat e McKendree partiram de Betel, atravessando Kentucky e Tennessee, e chegaram à cidade de Nashville. Ainda a caminho, McKendree escolheu um lugar para construir uma capela e convidou um pregador local para ajudá-lo numa série de Conferências ali. Antes de findar o ano o prédio estava acabado e um grupo de crentes adorava a Deus naquele lugar. Foi isso presságio do que havia de dar-se em muitos lugares naquela vasta região, no decorrer de muitos anos. Quantas capelas ou casas de oração foram construídas durante a vida de McKendree! Uma das igrejas mais antigas e históricas da cidade de Nashville foi organizada naquela época e ainda hoje temo nome de "McKendree Church"

Asbury e seus companheiros de viagem passaram alguns dias nesse lugar onde foram procurados por quatro pregadores locais, McGee, Sugg, Jones e Speer. O rev. Guilherme Lambuth, bisavô do rev. J. W. Lambuth, era o pastor da zona de Cumberland, naquele tempo. O rev. J. W. Lambuth foi missionário na China e era o pai do saudoso bispo W. R. Lambuth.

O Bispo Asbury, escrevendo no seu Diário acerca da sua visita a Nashville, nessa ocasião, disse:

"19 de outubro de 1800. Cheguei a Nashville. Tinha apenas ouvido falar desta cidade. Alguns julgavam que a congregação seria pequena; porém, eu acreditava que seria grande. Nada menos de mil pessoas entraram e saíram do prédio feito de pedra. Se fosse forrado e pintado, seria magnífico. Tivemos um culto que durou três horas. McKendree pregou sobre "O salário do pecado é a morte" e leu Rm 10:14 e 15. O irmão Whatcoat pregou sobre "Quando Cristo, que é nossa vida, for manifestado, então vós sereis também manifestados com ele na glória". Voltamos na mesma tarde e realizamos culto em casa do sr. Dickson (McTyeire, p. 487).

O bispo Asbury encontrou em Nashville um irmão, Green Hill, que ele conhecera anos atrás, na Carolina do Norte, e que se mudara para essa nova zona. Teve o prazer de abraçá-lo, mas não teve tempo para parar na sua casa, como antigamente fazia. Em 21 de outubro o bispo teve uma nova experiência, ao assistir, pela primeira vez, a um "culto de acampamento (camp meeting)". Vamos citar o Diário do bispo que dará uma idéia do que era um culto de acampamento. A origem deste culto se deu da seguinte forma: um homem que morava distante do local dos cultos regulares, para não faltar a qualquer reunião de uma série de pregações, resolveu levar tudo aquilo de que precisava para si e para sua família num carroção e ficar ali por alguns dias, até terminar a série. Foi um expediente tão prático que seus vizinhos começaram a seguir-lhe o exemplo. Em pouco tempo a moda pegou e assim apareceram os "camp-meetings".

Eis o que diz o Diário do bispo Asbury, em 21 (terça-feira) de outubro de 1800:

"Ontem, especialmente durante a noite, testemunhei cenas de profundo interesse. No intervalo dos cultos de pregação o povo tomava refeições e dava alimentos aos cavalos. O púlpito ficava ao ar livre, no meio de árvores altas e frondosas. Os ministros de Deus — metodistas e presbiterianos — uniram-se no trabalho e misturavam-se com a simplicidade de crianças, em condições primitivas. As tochas, colocadas aqui e acolá, iluminavam o ambiente, enquanto os gritos de alegria dos redimidos e os soluços dos arrependidos quebravam o silêncio da meia-noite. O tempo era ideal — como se o céu sorrisse — enquanto a misericórdia de Deus descia em torrentes abundantes de salvação sobre pecadores perdidos. Julgamos que, ao menos trinta almas se converteram nessa ocasião. Eu me regozijo em ver que Deus está visitando os filhos dos puritanos que têm franqueza bastante para reconhecer a sua obrigação para com os metodistas" (McTyeire, p. 487).

Foi no ano de 1800 que apareceram os cultos de acampamento. As zonas eram grandes, levando-se de duas a cinco semanas para percorrê-las. Os cultos de acampamento se realizavam em toda a regido de Tennessee e Kentucky, logo no princípio. Mais tarde os crentes em outras partes os adotaram, até que o costume se generalizou em todos os lugares do país. Ainda hoje se realizam cultos de acampamento, mas com muito mais conforto e luxo.

Os presbiterianos uniram-se aos metodistas nestas reuniões. Muitas almas nelas se convertiam. O avivamento que começou no ano de 1800, produziu os cultos de acampamento e é natural que eles servissem para propagar e estender o próprio avivamento. Foi neste período de oito ou dez anos que o povo daquela região foi realmente evangelizado.

O avivamento generalizou-se por toda a parte do país. Houve, tanto na Inglaterra como na América, agitações e perturbações físicas que acompanhavam as manifestações espirituais. Tanto os incrédulos como os crentes ficavam sujeitos a essas perturbações físicas. As desordens físicas se manifestavam, às vezes, sob a forma de agitações do corpo todo, ou só da cabeça e do pescoço. Às vezes a pessoa corria e falava. Às vezes caia como se estivesse morta. Esses mesmos fenômenos se davam nos cultos de João Wesley, ainda que ele não concordasse com eles. Igualmente na América, os pregadores não desejavam que tais cenas se verificassem. Verificavam-se, porém, freqüentemente. É notável. que tais agitações não deixassem defeitos físicos nas pessoas atacadas por elas.

Certa pessoa que testemunhou essas cenas, descreve-as assim:

"Quando afetava só a cabeça, era agitada para a frente e para trás ou de um lado para outro com tanta rapidez que o semblante não podia ser reconhecido. Quando afetava o corpo todo, vi que a pessoa ficava num lugar, enquanto o corpo se dobrava para a frente e para trás, até a cabeça tocar no chão. De todas as classes, santos e pecadores, fortes e fracos, foram atacados. Havia ataques de rir, mas só entre os crentes. Ouviam-se gargalhadas fortes, mas não excitavam outros a rir. A pessoa ficava solenemente arrebatada e o seu riso excitava solenidade nos crentes e nos incrédulos. Realmente não se pode descrever o que acontecia! Havia casos em que a pessoa afetada queria correr, para fugir de tal excitação, mas geralmente não podia correr muito, pois caia logo ao chão muito agitada. Conheci um jovem médico, de boa família, que veio de grande distancia para testemunhar essas coisas estranhas. Ele e uma moça já tinham entre si combinações de cuidar um do outro, se por acaso qualquer dos dois caísse. Finalmente o médico sentiu uma coisa estranha e saiu da congregação para correr para a floresta. Mas não correu muito: caiu ao chão e ali ficou até submeter-se ao Senhor. Depois se tornou membro zeloso da Igreja. Tais casos aconteciam freqüentemente" (McTyeire, p. 493).

Quem sabe se Deus não permitiu esses fenômenos físicos para impressionar um povo de dura cerviz, pois havia muita incredulidade, perversidade e dureza de coração entre o povo daquela época.

McKendree era o homem para essa época e para essa região. Não somente sabia promover cultos de avivamento, mas também guiar e disciplinar os novos crentes. Organizaram-se comissões com autoridade para nomear os pregadores para cultos de acampamento e para formular regulamentos que conservassem boa ordem entre o povo, nessas ocasiões.

McKendree pregava as doutrinas, metodistas e administrava a disciplina com firmeza, mantendo as classes, os ágapes e a itinerância e seus colegas pregaram as doutrinas da redenção universal, da salvação de graça, presente e completa, da justificação pela fé, da regeneração pelo Espírito Santo, do gozo da salvação, que é o fruto do Espírito, e da importância de aceitar a salvação imediatamente. Os pregadores e os superintendentes distritais seguiam com rigor o sistema da itinerância. Os presbiterianos que tomavam parte nos cultos do acampamento, não seguiam com tanto rigor o seu sistema e houve divisão entre eles. Uma nova Igreja Presbiteriana organizou-se com o nome de Cumberland Persbiterian Church, com tendência, na sua doutrina, para o arminianismo.

O trabalho prosperou e Asbury procurou visitar essa zona anualmente para realizar as Conferências anuais. Em 1802 o que era um distrito se dividiu em três, a saber: o distrito de Holston, com João Watson como superintendente; o distrito de Cumberland, com João Page como superintendente; e o distrito de Kentucky, com Guilherme McKendree como superintendente.

A visita do bispo Asbury, nessa época, fez-se com grande sacrifício e sofrimentos para ele, que estava doente. Escrevendo no seu Diário acerca da bondade de McKendree no cuidado que teve com ele e com o trabalho dele, disse:

"O irmão McKendree me fez uma tenda com o seu cobertor e com o de João Watson e assim evitou que eu ficasse indefluxado, enquanto eu dormia duas horas sob o meu próprio cobertor. O irmão McKendree colocou sua capa sobre o galho de uma árvore e, abrigando-se debaixo dela, ele e seu colega dormiram também. Creio que não devo tentar outra viagem pelas florestas, sem levar uma tenda comigo". Pouco adiante acrescenta: "Tenho estado doente há vinte e três dias. Oh! que história triste eu poderia narrar! Meu caro McKendree teve de ajudar-me a montar a cavalo e a desmontar, como eu fosse uma criança. Minha doença foi causada, creia, pelo fato que tive de dormir ao relento, sem cobertor" (McTyeire, p. 495).

No ano seguinte, em 1803, a Conferência achou por bem criar mais um distrito ao nordeste do rio Ohio, tendo Guilherme Burke como superintendente. De ano a ano havia progresso e se ocupava novo território. Também novos obreiros apareciam e, entre
os que se destacaram mais, pode mencionar-se: Samuel Parker, que trabalhou no estado de Mississippi; Pedro Cartwright, que trabalhou nos estados de Kentucky e Illinois; Tomaz Lasley, que trabalhou com Axley no estado de Loisiana. Para se apreciar mais
como o trabalho era feito, citaremos um trecho de James Gwin:

"O irmão McKendree, logo depois de nomeado para o trabalho do Oeste, formulou plano de levar o Evangelho a todos os recantos. Empregou todos os pregadores locais e exortadores que podia achar, para visitarem os lugares não ocupados. E foram e, com eles, o Senhor. As boas novas de salvação dentro em pouco se ouviam em todas as povoações. Como eu comecei, nessa época, a falar em público, ele me mandou para uma ,povoação nova. Ali preguei até a reunião da Conferência. Então fui recebido em experiência. A ordem que recebemos, eu e Jesse Walker, que foi admitido à experiência na mesma ocasião, foi: "Estender o trabalho". Jesse Walker começou a formar zonas de percursos para Oeste e para o Norte, até chegar ao rio Ohio, e o irmão McKendree elaborou plano para levar o Evangelho ao Oeste dos rios Ohio e Mississippi. E, como Luisiana fosse adquirida pelo nosso governo, enviou ele os irmãos Walker e Luiz Garrett, para abrirem trabalho naquela região e foram bem sucedidos em levantar ali o estandarte da cruz" (McTyeire, p. 497).

O trabalho ia de vento em popa. Nunca houve na história do Metodismo da América do Norte tanto progresso em qualquer região em tão pouco tempo como houve nesta, onde McKendree trabalhou por oito anos. Na ocasião da Conferência do Oeste, que se realizou em 20 de setembro de 1806, o bispo Asbury relatou: "Houve um aumento de 1.400 nesta Conferência e a nomeação de cinqüenta e cinco pregadores. Todos ficaram contentes. Os irmãos estavam em necessidade, portanto vendi o relógio, a capa e a camisa". O bispo Asbury cuidava dos seus pregadores. A última coisa que preocupou seu espírito, antes de partir para a eternidade, foi levantar fundos para suprir grandes necessidades de heróicos pregadores.

McKendree enviava os pregadores para novos campos e logo se achava no meio deles, ajudando-os na realização dos cultos de acampamento. Deixemos James Gwin narrar os fatos que se deram numa das viagens de McKendree:

"Em 1807 eu e os irmãos McKendree e Goddard visitamos a povoação de Illinois. Atravessamos o rio Ohio, entramos na floresta e viajamos até a noite. Não conseguindo chegar a qualquer habitação, acampamos. O irmão McKendree fez-nos um pouco de chá, deitamo-nos sob a copa duma árvore amiga e passamos agradavelmente a noite. Partimos cedo, no dia seguinte, apressamos a marcha e chegamos ao meio da planície, onde passamos a noite seguinte. Na terceira noite, chegamos à povoação. Ficamos ali um dia e, depois, atravessando o rio Kaskaskia, passamos a quarta noite com o velho irmão Scott. Em sua casa nos encontramos com Jesse Walker, que tinha fundado uma zona de trabalho e marcado e planejado três cultos de acampamento para nós. Depois de descansar alguns dias fomos para o lugar marcado para o primeiro culto de acampamento. Viajando vinte quilômetros, chegamos ao rio Mississippi. Não achando meio para atravessá-lo com os nossos cavalos, mandamo-los para trás e, com a bagagem aos ombros, fomos a pé até ao lugar do culto de acampamento. Encontramos o irmão Travis no caminho. Quarenta pessoas converteram-se nessa reunião.

“Desse culto de acampamento voltamos e, atravessando o rio, chegamos a casa do juiz .... que nos hospedou e mandou nossa bagagem, numa carroça para a casa do irmão Garrettson, no lugar chamado Three Springs, onde havíamos de realizar o segundo culto de acampamento. Aqui chegamos sexta-feira. O lugar era bonito, no meio da floresta, mas cercado de pequenas planícies. Uma multidão de gente tinha chegado, porque se haviam espalhado por toda parte notícias do nosso primeiro culto de acampamento naquele lugar, o que provocou muito entusiasmo entre o povo. Alguns apoiavam estes cultos e outros não nos apoiavam. Certo major juntou um grupo de pessoas desordeiras para nos atacar e expulsar. No sábado, enquanto eu pregava, o major e seus companheiros apareceram a cavalo e estacaram no meio da congregação, o que produziu confusão e alarme. Parei de pregar e os convidei a se retirarem. Afastaram-se um pouco e beberam cachaça. O major disse que tinha ouvido falar que os metodistas; perturbavam o sossego do povo por toda parte onde andavam, que pregavam contra corridas de cavalos, jogos de baralho e outros esportes. Às três horas da tarde, quando eu e o irmão Goddard cantávamos um hino, o poder do Espírito Santo desceu sobre a congregação. Um homem, com expressões de horror no rosto, veio a mim e perguntou: "É o senhor que toma conta do rol?" "Perguntei-lhe a que rol se referia. "Aquele rol", respondeu ele, "no qual a gente que vai para o céu, escreve o nome". Julguei que se referisse a lista dos membros de classe e encaminhei-o para o irmão Walker. Virando-se para o irmão Walker, disse: "Escreve aí meu nome, faça o favor". Depois caiu ao chão. Alguns tentaram fugir mas caíram ao chão e alguns fugiram e escaparam. Conseguimos juntar todos os que caíram ao chão, num lugar, ao por do sol, e então o homem que pedira que seu nome fosse escrito no rol, se levantou e fugiu como se fosse uma fera. Olhando ao redor de mim, tive a impressão de um campo de batalha, depois duma peleja. Toda a noite a luta continuou. A vitória estava do lado do Senhor. Muitos foram convertidos e, ao nascer do sol, do dia seguinte, houve gritos de júbilo no acampamento. Foi o dia do Senhor mais lindo que já vi. Pouco depois, o homem que fugira, voltou, molhado pelo orvalho da noite, mostrando sinais de loucura. Às onze horas o irmão McKendree administrou a santa ceia e, enquanto explicava a sua origem, natureza e objetivo, alguns do grupo do major ficaram tocados e produziram cena comovente. Depois da comunhão o irmão McKendree pregou. Todos os homens principais daquela região estavam presentes e todos os que, morando distantes, puderam vir, lá estavam. Eis o texto do sermao: "Vinde, pois, arrazoemos". Talvez ninguém tratasse do assunto melhor ou com melhor resultado. Seus argumentos sobre a expiação, o grande plano de salvação e o amor de Deus eram claros e fortes, pronunciados com tanta compaixão, que a congregação ficou em pé e de todos os lados avançava na direção do pregador. Enquanto pregava, referiu-se ingenuamente à conduta do major e observou: "Nós somos americanos, alguns de nós lutamos pela nossa liberdade e chegamos até aqui para mostrar ao povo o caminho, para o céu". Isto comoveu o major que se tornou amigo nosso e o é até agora.

“Este foi um dia notável. A obra geralizou-se, o lugar tornou-se terrível e muitos se converteram. Entre os convertidos estava o louco. A sua história é singular. Morava ele no lugar chamado American Bottom, possuía grande propriedade e era ateu Contou-nos que poucas noites antes da nossa chegada sonhara que o dia do juízo estava próximo, que três homens vieram do oriente para avisar o povo e prepará-lo para esse dia, e assim, quando nos viu, ficou alarmado, acreditando que éramos os três homens e, querendo saber quem éramos, veio ao culto do acampamento. Tornou-se homem reformado e bom". (McTyeire, ps. 498-499).

No terceiro culto de acampamento mais de cem pessoas fizeram profissão de fé.

Para dar uma idéia mais clara a respeito do trabalho feito por McKendree e seus colegas, citaremos um trecho dele mesmo:

"Com exceção de quatro domingos, tenho assistido a reuniões públicas, todas as semanas, desde fevereiro. Neste prazo viajei seis mil setecentos e cinqüenta quilômetros, através de florestas, até ao estado de Illinois e, na volta, passei a maior parte do tempo numa região infestada de malária, contudo, graças a Deus, a saúde e as forças me foram conservadas" (McTyeire, p. 499).

Essa viagem durou dois meses e foi o começo da evangelização ao oeste do rio Mississippi. Os colegas.de McKendree cooperaram com ele nos seus planos e na administração, porque sabia dirigir e fazer o trabalho. Tal homem com tais colegas não podiam fracassar.

Tobias Gibson foi nomeado para abrir o trabalho no estado de Mississippi. Iniciou sua obra em Natchez, à beira do rio Mississippi, e logo conquistou diversas almas para Cristo naquela localidade. Uma delas era Randall Gibson, seu parente, homem de recursos. Foi nomeado guia de classe e mais tarde se tornou pregador local. Em pouco tempo ali se formou uma sociedade de oito pessoas.

Tobias estendeu o trabalho em todas as direções, mas, enquanto seu trabalho aumentava e se desenvolvia, sua saúde se enfraquecia. Houve necessidade de mais obreiros naquela região, para que seu pedido tivesse, resposta favorável, resolveu assistir à Conferência que se realizou em setembro de 1802 no lugar chamado Shorter. A viagem para lá foi longa e penosa.

Quando chegou à Conferência, fraco no corpo, o bispo Asbury o abraçou e deu-lhe a sua benção, e nomeou mais um homem, Moises Floyd, para ajudá-lo no trabalho. Voltaram juntos contentes; mas no ano seguinte, Tobias Gibson voltou à Conferência para pedir novos trabalhadores. Estava tuberculoso e não estava longe o fim da sua jornada, porém não queria morrer, sem conseguir mais obreiros para continuar o trabalho que ia tão bem. Desta vez o bispo o abraçou e o sustentou em seus bravos, porque estava muito fraco. O coração dele ficou alegre, quando o bispo nomeou mais dois obreiros para aquela zona. Em poucos meses percorria aquela zona e chegava à Florida a triste notícia de que Tobias Gibson tinha completado a sua carreira. Tinha só vinte e oito anos, quando faleceu.

Realmente a maioria dos pregadores itinerantes naquela época morria, pode dizer-se, na mocidade. Corria entre o povo, quando tempo, no inverno, ficava frio e chuvoso este dito "Não há ninguém fora de casa hoje, senão os corvos e os pregadores metodistas".

Homens como Natã Barnes, Leones Balcknian, Bowman e outros entraram e possuíram a terra da Florida, de Alabama, do Mississippi e da Lousiania. Em 1808, a Conferência escolheu onze delegados para representar a zona do Oeste na Conferência geral, e McKendree chefiou a delegação. McKendree, voltando para o Leste, depois de oito anos no Oeste, podia relatar que, quando entrou naquela zona, havia só um distrito e agora deixava cinco; havia só 2.307 membros brancos e 177 membros de cor. Tornou-se o pregador das fronteiras. Deixava-a com 15.202 membros brancos e 795 membros de cor. Esses oito anos foram os mais frutíferos da sua vida. Durante esse tempo estava se preparando para ocupar o lugar mais alto na Igreja Metodista. Na ocasião da Conferência geral de 1808 foi eleito bispo, o primeiro bispo nascido em solo americano.

A Conferência geral realizou-se na cidade de Baltimore. O bispo Whatcoat tinha falecido e a saúde do Bispo Asbury não estava boa. Havia necessidade de eleger, ao menos, mais um bispo.

No primeiro domingo da Conferência, McKendree foi nomeado para pregar, na Light Street Church. A igreja estava repleta de delegados à Conferência geral. McKendree tinha passado oito anos no Oeste, nas fronteiras e não era bem conhecido pelas igrejas do Leste. Tinha adquirido o jeito e os costumes do povo rústico das florestas. Sua roupa era grosseira e simples e seu porte desajeitado, influenciado pelos costumes da roça. Não tinha boa aparência no púlpito. No princípio do sermão, pareceu embaraçado; mas, no meio, esqueceu-se de tudo menos do assunto e tornou-se eloqüente e a sua voz clara e agradável ecoava em toda a parte do grande auditório; sua eloqüência arrebatou a congregação. Quando parou, o povo sentiu a doçura e a suavidade da verdade evangélica, e houve um silêncio calmo, doce, tão agradável como a luz da tarde num dia calmo de verão. Os delegados à Conferência geral começaram a dizer: "Este é o homem para o bispado". Poucos dias depois McKendree era eleito bispo. Tinha cinqüenta e um anos de idade e estava bem preparado para levar avante a obra que Asbury tinha promovido por tantos anos. Era homem disciplinado nas florestas, educado na escola da experiência e conhecia bem e de perto os problemas dos pregadores da Igreja.

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(*) Texto extraído das páginas 206 a 220 do livro História do Metodismo, de Paul Eugene Buyers, publicado pela saudosa Imprensa Metodista em 1945.

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