Dois caminhantes frustrados com os fracassos ocorridos em suas vidas, em Jerusalém, que perderam a noção do passado e conseqüentemente do sentido da vida presente e das expectativas do futuro, diz o texto “como que cegos” para as novas oportunidades, puseram-se a caminho de volta para casa, lugar que certamente elegeram como espaço seguro, procurando se distanciar do passado e de Jerusalém.
A eles se juntou um terceiro caminhante esperançoso, também vindo de Jerusalém, onde ainda percebia vida, que os questionou sobre o perigo de não se saber ler o passado, mas ao mesmo tempo entrou na agenda deles, ouviu atentamente suas razões, fez com eles uma parada para reflexão e aceitou solidariamente fazer com eles a caminhada de volta para casa, como processo necessário de preparação a novos avanços na direção da libertação.
No texto ficam claros os sinais de participação e solidariedade: ouvir o outro, adotar sua agenda e suas preocupações, caminhar junto com ele às vezes em sua marcha frustrada, respeitar o olhar embaçado que o conflito lhe criou e fazer com ele uma releitura do passado.
A caminhada solidária que se fez produtiva pelo diálogo, ia chegando ao fim e o terceiro viajante, que não tinha vontade de parar, fez sinal de que ia em frente sozinho mas se viu constrangido por um gesto de solidariedade e pousou. Convidaram-no para entrar e ficar em casa com eles, e ele aceitou, embora soubesse que o fim da caminhada ainda se encontrava distante, porque havia ainda muita gente aflita a ser socorrida.
Solidários, agora tomados por fortes esperanças e agradecidos repartiram o pão e nesse momento alcançaram a plenitude da participação do sentido da unidade na diversidade e o terceiro caminhante seguiu em frente, depois de os ter contagiado.
Neste momento os dois caminhantes recuperaram suas energias e se manifestaram: “Por acaso não nos aquecia o coração enquanto dialogávamos com ele?”
Após o ápice da comunhão celebrada e da participação respeitosa ninguém dos três ficou em casa para se esconder, mas saíram não para obterem mais poder, mas para partilhar a dádiva recebida em Jerusalém, lugar do aparente fracasso, retomar o projeto.
Isto foi possível a partir da solidariedade, do respeito ao diferente, da preocupação de libertar e não de pisar e humilhar o outro, o diferente, mas de reforçar-lhe as energias para a caminhada.
Coração aquecido, força para as novas caminhadas só se consegue no respeito mútuo, no caminhar junto e não no esconderijo permanente da casa com pactos e acordos perversos que destroem e aniquilam vidas e nos tornam como que cegos para prosseguir a jornada.
Quero me imaginar em Emaús e comparar nossa caminhada na UNIMEP àquela.
Às vezes somos tentados a não compreender nossas conquistas do passado e vê-las apenas como fracasso, como algo que se perdeu. Por outro lado, a incompreensão da fértil oportunidade do difícil momento, embaça nossos olhares em relação ao futuro e torna mais sofrida ainda a marcha.
O texto entretanto nos passa que o viver dentro do espírito de solidariedade, nos devolve a visão, nos mantém aquecido o coração e nos faz ir mais adiante ao encontro daqueles que foram atingidos e permanecem ainda trancados mesmo estando em Jerusalém.
Nossa casa é o PLANETA e nossa parada para refazer as forças só se dá no repartir do pão que nos impõe nova partida.
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