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Educação e ensino
Rio, 6/8/2008
 

O futuro está doente

Elias Boaventura


 

O tempo presente na UNIMEP é de extrema delicadeza pelo tom de mediocridade que não só distancia a instituição de seu vigoroso passado histórico como também e muito compromete sua visão de futuro.

Este mesmo tempo presente, necessariamente, mantém ligações inevitáveis com outros períodos e se pode mesmo, com propriedade, se falar como os autores da teoria da complexidade já têm dito, em presente do passado, presente do futuro e com certa dificuldade e pouca possibilidade, até do vazio presente do presente.

Na UNIMEP o presente do passado é muito forte e se percebe nas entranhas da Instituição a força estrondosa de um tempo que se viveu e que insiste em não passar, porque se nutre da força de uma saudade real, imorredoura que se sustenta na própria essência institucional, embora não se submeta nem se limite a ela.

A agenda do tempo passado, que engravidou o tempo presente, foi constituída de temas que emanaram do aleatório, do incerto, do caótico, da dúvida e do acaso e não da ordem carcomida.

Rigorosamente a agenda do presente-passado checa o instituído, o convencional e se sustenta em um equilíbrio instável, do imprevisto, que não permite seu enquadramento em redes e determinações arbitrárias, embora não as negue a existência e nem se furta com elas dialogar.

Este presente-passado registrou e catalogou ações de libertação de exilados políticos, de povos perseguidos, de respeito e solidariedade a seus alunos, funcionários e professores, tratados como parceiros efetivos e não simples clientes ou fregueses, e neste espírito também se arrolaram temas da comunidade local como a defesa do rio Piracicaba e do meio ambiente, a dignidade da população favelada e de outros grupos vítimas de torpes preconceitos.

Como se vê este presente-passado não fazia e insiste em não fazer funcionalismos e tecnicismos pedagógicos baratos que esquecem a formação da cabeça e só se ocupam do preparo, não do trabalhador, mas da força do trabalho alienado e da mão de obra barata com o sujeito desprovido de consciência crítica.

Daí o extraordinário sentimento de pertencimento que acompanha o unimepiano deste passado-presente, que neste momento sofre com o peso das desqualificações perversas que lhe tentam atribuir, mas muito mais com o vazio criado por uma visão tacanha, que por suas fragilidades não consegue impor-se à força do passado-presente e apela para repressões desumanas da maioria dos militantes ativos da tarefa de libertação.

Não se trata de saudosismo ou de vazia nostalgia, mas da força de um tempo, sustentado pela energia humana de seus componentes que, graças à sua forte utopia e ações concretas sem qualquer tipo de ajuda material do Estado ou da Mantenedora lograram colocar no mapa educacional do País um modelo de instituição alternativa, política, em alguns momentos muito reconhecida como se pode ver na fala da eminente educadora e intelectual ligada a USP Irene Cardoso na década de 1980.

“Os metodistas, também primaram pelo ambiente democrático e vivo, cheio de debates em suas universidades. ... é o caso mais fascinante de coragem, liberdade e crítica construtiva de que se tem notícia na história recente de nossa Educação. ... qualquer ação impopular, antidemocrática é rechaçada em energia pela comunidade em Piracicaba.”

O pêndulo neste momento se volta na Academia para o presente-passado, porque o que se poderia considerar “momento presente” encontra-se sem sentido nele mesmo, sofrido e grudado ao passado porque tudo está a indicar que o presente-futuro está doente.

Não se quer a ilusão de um futuro estável, mecânico, rentável, retilíneo, cumulativo e sem surpresa. Aliás a natureza de sua enfermidade degenerativa se encontra no culto a este tipo de pretensão e de falsa ilusão, que já o anuncia inscrito no círculo da morte. Constitui-se de fato futuro moribundo.

A enfermidade do futuro, já visível no presente futuro da UNIMEP pode ser percebida na tentativa de expulsão da dúvida, de eliminação do contrário, na desconsideração do papel do erro e das forças das entropias e muito mais na tentativa de implantação da sociedade dos iguais, dos obedientes, dos hospedeiros do autoritarismo nas palavras de Paulo Freire.

O futuro-presente da UNIMEP, imposto pela Direção Geral, não traz a movimentação do equilíbrio-instável dos aeroportos nem o apelo de novas saídas dos agitados portos marítimos, com acenos e estímulos a distantes navegações. Não contém o fogo da força da desordem juvenil mas apenas exala os odores do envelhecimento precoce, da morte e da quietude reinante nas portas de cemitérios.

Com a maquiagem com que se está trabalhando, sob o beneplácito da cúpula da Igreja Mantenedora, pode-se até vender por curto tempo a ilusão de que se está conseguindo a salvação do velho IEP. Cada vez fica mais claro que na UNIMEP fogosa, diferenciada, libertadora, estribada no “Vida e Missão”, o futuro-presente sustentado pela intervenção descabida; está doente, vítima de enfermidade contagiante da intransigência e da ordem estereotipada que já exala cheiro de morte.

Quando se tem um presente menor do que o passado e com medo dele, com toda certeza o futuro se encontra hospitalizado e na UTI.

______________________________________________ Julho/2008

* Elias Boaventura é professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unimep e ex-reitor.

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