Junho/2008
Quintão, pedreiro mineiro, que sempre chamo quando tenho problemas de construção em casa, atendeu meu chamado para resolver uma súbita e forte goteira que apareceu e inundou sala, quartos e outros cômodos.
Molhação danada, aparentemente sem razão, que afetou a todos nós que vivemos naquela residência; e criou grande mal-estar, bem como uma trabalheira inútil e sem fim.
Meu amigo peão, depois de examinar o teto, lá de cima manifestou-se assim: “Oia professor, a coisa aqui tá feia, tá ruim, e aí em baixo, tá muito pior aqui. Não é simples goteira. O telhado tá todo complicado, empenou e cedeu a cumeeira porque tem cupim nela. Esse bicho é praga, e é pior quando vem de cima, porque o forro esconde ele, e quase sempre quando a gente dá conta, tá tudo perdido.”
Ainda não me atinei porque, mas lembrei-me da minha Igreja; sobre tudo, quando o peão pedreiro não sei a que título, me falou como filósofo – “se o professor quer mesmo ficar livre do aguaceiro, espera a chuva passar, porque não se conserta telhado na hora da chuva. Tem que trocar tudo o que é madeira, fazer um bom tratamento nas ripas novas, porque cupim não sabe que é cupim e não tem limites”.
Creio que a Igreja me veio à mente em função da situação que nela atravessamos. Considero que o quadro que estamos vivendo é terrível, muito semelhante ao aguaceiro descrito. Goteira para todo lado, gente brigando em função do mal-estar criado, outros se esforçando para secar a molhação, mas o aguaceiro continua crescendo.
Diariamente aparecem notícias, antes impensáveis, referentes às instituições de ensino: instituição quebrando, professores e funcionários sendo despedidos com requintes de crueldade sem qualquer preocupação com seus familiares, afastamentos desrespeitosos e humilhantes à diretores ilibados, que prestaram valiosos serviços à Igreja e à educação, e tudo em nome da implantação de “rede” que, de metodismo, nada tem.
Um ingênuo e bem intencionado militante metodista assim se expressou: “no meu jeito de ver, está faltando piedade em cima; ninguém mais pratica o ministério da consolação e da reconciliação; e eu tenho medo que isto chegue à Igreja lá em baixo, porque os homens lá de cima não estão nem aí como o que está acontecendo.”
Pois é!! Meu ingênuo irmão, tem razão! O quadro é mesmo assustador, e tudo se agravou em função dos acordos pouco éticos, e nada fraternos celebrados por ocasião do Concílio Geral, sobre tudo com vistas à composição do Colégio dos Bispos, que segundo desabafo de pessoas atingidas “houve desqualificações perversas, manobras anti-éticas; e se pode falar até mesmo em traição”. Percebe-se por diversas partes os mutilados destes episódios, alguns menos sofridos porque foram engabelados; outros com sofrimentos profundos pelas questões de trabalho e desemprego, por desintegração das famílias, bem como tantos outros danos.
Talvez em função destes fatos, o Colégio dos Bispos optou pela omissão e parece assistir de mãos amarradas, ou protegidos por uma redoma com a mais absoluta indiferença aos atos de injustiças praticados nas instituições, como acontece aqui na UNIMEP sob o patrocínio de uma Direção Geral que, além de desumana, é absolutamente inábil e truculenta.
Conversei com um de nossos pastores de Piracicaba, que me disse: “dou graças a Deus que o problema da UNIMEP está sendo resolvido, pois eu já estava ficando sem condições de falar em missão, em ética e outras coisas mais.”
Olha pastor, considero-o respeitosamente equivocado. A coisa por aqui está feia, está longe de ser resolvida; e ainda vai se agravar no próximo ano, se não se tentar diálogo já. O episódio da demissão injusta de Almir Linhares, entre tantos outros, sinaliza isto. Não tome esta aparente calmaria por normalidade. Trata-se, a meu ver, de uma paciente estratégia da sadia resistência, que aliás deveria ser trabalhada pela Igreja para tentativa de recomeçar as negociações com decência.
De COGEIME e COGEAM por aqui não se falam. Parecem que não existem ou caíram na rede. Do Colégio dos Bispos, ainda se comenta a omissão, a falsa diplomacia e absoluta indiferença com que encara o quadro de injustiça que aqui se vive e até o aprova.
Não sou profeta do Apocalipse, e nem precisa que eu seja, para dar conta de que caso o quadro não mude, continuem os desmandos e a falta de credibilidade das autoridades de forma geral, que nosso relacionamento permaneça imoral e opressor com nossos servidores e nossa gente, nossa Igreja corre o risco de se dividir; e, nesse caso, pesará muito o desamparo dos mutilados e as injustiças praticadas contra eles.
Ninguém fala em consolação nestes colegiados, nem sequer em reconciliação. Pastoral também parece se reduzir à capelania mal feita nas instituições, e começa a se ter um consenso de que há pouca coisa a se fazer nas bases, porque “tem cupim na cumeeira, que não sabe que é cupim”, e pior que pensa que é carpinteiro.
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