Nos relatos de conversão registrados neste livro, muito da ênfase se deu sobre do que a conversão salva: preocupação, auto-centralizada, temores, ressentimentos, conflitos íntimos, orgulho, mau gênio, falta de caridade, culpas, impureza, ociosidade, o vazio de uma vida sem sentido, frustrações, tensões, fugas, materialismo, cobiça. A lista é longa e importante. A conversão salva de. Mas talvez a pergunta mais importante é: Para que a conversão salva? Se a ênfase da conversão se der no de que ela nos salva, significará uma volta - olhar para o passado na religião. Jesus disse: "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus". As reuniões de testemunho e as de classe de algumas gerações no passado morreram por olharem para trás, do recontar o que se deu com a conversão no passado. Hal Luccock diz que se ele morrer na rua atropelado, poder-se-á dizer dele: "Morreu porque estava olhando o lugar errado". Muitos movimentos e indivíduos morreram espiritualmente por estarem olhando para o lugar errado - para trás. Provaram que não eram aptos para o Reino de Deus.
Se muitos morreram espiritualmente por olhar para trás, muitos outros morreram por olhar para adiante a metas muito pequenas, muito inadequadas para metas da vida. Muitos se converteram e se uniram à Igreja como membros, o que é bom, mas não suficientemente bom. Não podem abandonar todo o seu peso sobre ela, porque se assim o fizerem se desiludem. Pois a Igreja é constituída de pessoas semelhantes a elas mesmas - inconstantes. Tantos vagueiam de grupo a grupo em busca daquela sociedade perfeita. Nunca a encontrarão, porque no momento que dela participarem, ela não será perfeita. Quando me dizem: "Há hipócritas na igreja", minha resposta é: "Entre para ela, e teremos absorvido mais um". A Igreja é a melhor sociedade sobre a terra, contém a melhor vida da humanidade, mas, mesmo assim, se você confiar inteiramente nela com sua meta de vida ela o abandonará.
Outros se convertem com a esperança de escapar do inferno e alcançar o céu. Isso está envolvido na conversão, mas se é realizada com esse alvo, também ela o abaterá. Se você busca o céu como um alvo, quando o alcançar não se ajustará a ele, porque você teve um falso motivo ao tentar alcançá-lo. O céu é um subproduto e não o alvo ou fim.
Outros ainda se convertem para escapar à infelicidade, à doença, ao fracasso. Elas se incluem na conversão, mas se a tônica estiver nessas coisas, elas também se tornam inadequadas como alvos de vida, porque se se buscá-las por si mesmas elas deslizarão de seus dedos gananciosos. São subprodutos de algo maior e melhor. O que é melhor e maior?
O próprio Jesus nunca foi maior e melhor do que ao dar esse maior e melhor. Com infalível visão indicou o Reino de Deus como aquilo para o qual os convertidos se convertem. A conversão, o novo nascimento, se fundamenta dentro da estrutura do Reino de Deus.
O arrependimento estava nessa estrutura. "Dai por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos porque está próximo o Reino dos Céus!" Mateus 4.17. Você não se arrependeu somente de, você se arrependeu para, para o Reino de Deus.
A conversão estava nessa estrutura: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus" Mateus 18.3. De novo aqui você não se converteu somente de - você se converteu para - para o Reino de Deus.
O novo nascimento está nessa estrutura: "Se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus" João 3.3. Aqui o recém-nascido não é nascido meramente das entranhas do passado, mas nasce para uma nova vida e um novo fundamento de relações no Reino de Deus.
O Reino de Deus é o todo e o fim do arrependimento, conversão e novo nascimento. Isso é de extrema importância porque eles o apresentam ao mais surpreendente fato individual e social do universo - o Reino de Deus.
Que queria Jesus dizer por Reino de Deus? Ele o chamou de seu Evangelho: "Percorria... pregando o Evangelho do Reino" Mateus 4.23. Foi o único fato que Ele chamou de Seu "Evangelho", e ordenou-lhes que fossem e pregassem o "Evangelho do Reino". O que Ele quis dizer por isso? É baldado definir o Reino, porque o Reino é Ordem Absoluta entrando na ordem relativa, e nós temos que usar palavras e frases relativas para descrever o Absoluto; que, certamente, não pode ser feito adequadamente. Jesus permite que olhemos através das frinchas das sugestões e palavras para aquilo que desafia a descrição. "É melhor entrares na vida aleijado... é melhor entrares no Reino de Deus com um dos teus olhos" Marcos 9.45, 47. Aqui "Vida" e "Reino de Deus" se usam como sinônimos. Vida aqui indica vida eterna - "entrar na vida". Portanto, Vida e o Reino de Deus são uma coisa só. O Reino de Deus é vida.
"O Reino de Deus" e "o Caminho" são também usados como sinônimos. "Paulo... falava ousadamente, dissertando e persuadindo, com respeito ao reino de Deus. Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho, diante da multidão" Atos 19.8-9. Aqui o "reino de Deus" é "o Caminho". Não é "o caminho" com letra minúscula - é "o Caminho". Não é meramente o caminho da salvação - é isso, Atos 19.8-9. Aqui o "reino de Deus" é "o Caminho" sem qualificativo. É o Caminho no qual se pensa, se age e se é como indivíduo ou em sociedade, para Deus e o homem. É o Caminho. Há somente duas coisas - o Caminho e anti-Caminho. O Reino é sempre o Caminho, e tudo contra o Reino ou fora do Reino é anticaminho.
O Reino é a Ordem Absoluta de Deus confrontando essa ordem relativa do homem com um imperativo: "Arrependei-vos, convertei-vos, nascei de novo, e através desses aceitai e vivei de acordo com o Reino".
É bom notar que não se "constrói o Reino", como há uma geração atrás se insistia e ainda hoje subsiste em vocabulários anêmicos - "recebe-se o Reino". “Recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça" Hebreus 12.28. "Construir o Reino" retrata ao ego insubmisso a idéia de que ele pelo seu próprio esforço pode construir o Reino. Mas "receber o Reino" revela ao ego submisso e receptivo, de mãos vazias, aceitando o dom da graça de Deus, o perdão, a conversão, o novo nascimento, e eis a questão - apresentando-o ao fato mais importante do universo, o Reino de Deus. Nele as fontes divinas para a vida humana estão à disposição daqueles que são suficientemente humildes para receber. "Bem-aventurados os humildes de espírito (suficientemente humildes e receptivos para receber) porque deles é o reino dos céus" (Mt 6.3). "Deles é o reino do Céu", eles não somente pertencem ao Reino do Céu, o Reino do Céu lhes pertence. Todas as suas fontes estão à sua disposição. Defende-os e sustenta-os, e dá-lhes a aprovação cósmica, universal. Conduz toda a vida à coerência, ao sentido, ao alvo.
Porque os totalitarismos como o Fascismo, Nazismo e Comunismo surgiram? Percebi de um relance quando estive em Frankfurt, na Alemanha, ao ocaso da guerra, falando sobre o Reino de Deus. Nos lugares da frente estavam lideres religiosos proeminentes, entre os quais o Dr. Martin Niemöller. Eles batiam, concordes, nos bancos enquanto eu falava. Fiquei perplexo. Quando se concluíram os trabalhos eles me fizeram entender:
O Senhor compreende porque o povo alemão voltou-se para o Nazismo. Eles queriam algo que totalmente os comandasse e conduzisse a vida em coerência e sentido. A vida se achava desagregada, separada em compartimentos. O Nazismo reuniu tudo sob uma filosofia integral de vida. Por algum tempo parecia ser a Tal. Era, contudo, um falso totalitarismo e os abateu. O que realmente eles buscavam era o totalitarismo de Deus, o Reino de Deus e não o sabiam. Equivocados, tomaram o Nazismo pela coisa real.
A mesma desilusão vai ocorrer com outro totalitarismo - Comunismo. Eles também buscam algo que trará sentido à vida toda e a dirigirá a nobres alvos. Mas é o substituto do homem ao totalitarismo de Deus e os abaterá. A desilusão virá - vem vindo.
Os psicólogos nos dizem que há três necessidades básicas da personalidade humana - o pertencer, o ter importância e o ter segurança. Observem que a primeira necessidade básica é "pertencer". Sentindo essa necessidade de pertencer, os homens firmam lealdade às coisas erradas e essas coisas os frustram. Somente quando prometem lealdade suprema e absoluta ao Reino de Deus sentem eles como o negociante mencionado neste livro: "Agora sei. Meu problema terminou".
Desde que a conversão nos apresenta ao Reino de Deus como uma Ordem Absoluta que exige obediência total na vida total - individual e social, ela também determina o conteúdo dessa conversão. O conteúdo dessa conversão é pessoal. Ela une o indivíduo à pessoa de Cristo na lealdade suprema e amor. Ele é o portão para o Reino. A verdade é que o Reino a Ele se incorpora. "Por amor a mim" e "por amor ao Reino" Ele o fez intermutável. Eram um. Ele disse: "Eu sou o Caminho". O Reino de Deus se chama "o Caminho". E coisas iguais às mesmas coisas são iguais entre si. Ele é o Reino personalizado. Portanto, na conversão você não se une primeiramente a uma ordem, a uma instituição, a um movimento, a um conjunto de crenças, a um código de ação - você se une primeiramente a uma Pessoa, e em segundo lugar a essas outras coisas. "Chamados a pertencer a Jesus Cristo". Você não é chamado para ir ao céu, a ser bom, a fazer o bem - você é chamado a pertencer – a pertencer a Jesus Cristo. Fazer o bem, ser bom, alcançar o céu são subprodutos desse pertencer. O centro da conversão é o pertencer de uma pessoa a uma Pessoa.
Incorporado a essa Pessoa está o Reino, por isso quando você se une a essa Pessoa você tem relações com esse Reino. Mas a natureza desse Reino é social - a vida integral, individual e social, se sujeita ao seu domínio. Exige obediência total na vida total. A entrada para o Reino é pessoal, mas a natureza do Reino é social. Por isso o conteúdo da conversão é por sua própria natureza tanto individual como social, não uma hora individual e outra social - é ambas as coisas e uma só ao mesmo tempo. Isso está de acordo com a própria contextura do indivíduo como indivíduo. Ele não é ora individual e ora social. Ele é ambos ao mesmo tempo. "Ser é ser em relações". Você não pode "ser" sem ser "em relações". Assim como o homem pela sua própria natureza é ao mesmo tempo pessoal e social, assim também a conversão pela sua própria natureza são ambas as coisas. Desapareceu a divisão entre o evangelho individual e social. Separá-los é separar o que Deus ajuntou na Encarnação quando a Palavra se tornou carne.
Desde que a conversão converte ao Reino de Deus, então a área de operação-conversão é a vida integral, individual e social. Jesus deu o conteúdo do Reino quando pronunciou Seu manifesto na pequena sinagoga de Nazaré, no começo de seu ministério: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me a proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e evangelizar os pobres (os economicamente deserdados); enviou-me para proclamar libertação aos cativos (os social e politicamente deserdados) e restauração da vista aos cegos (os fisicamente deserdados); para pôr em liberdade os oprimidos (os moral e espiritualmente deserdados, os que se contundiram nas leis moral e espiritual), e apregoar o ano aceitável do Senhor (ou o ano do Jubileu do Senhor - o Ano do Jubileu no qual todos os escravos eram libertos, todas as dívidas canceladas e toda a terra redistribuída e a nação começava sobre uma base de íntima aproximação à igualdade. Isso o que Jesus anunciou era o Ano do Jubileu do Senhor - um mundo recém-começado.
Aqui estava uma reconstrução que havia de refazer econômica, social, política, física, moral e espiritual, e coletivamente o mundo. Isso era um esboço do objetivo do Reino e, portanto, o conteúdo da conversão a esse Reino. Desde que o Reino é o Caminho, sem qualificativo, assim a conversão ao Reino é o converter-se à conversão, sem qualificativo. A vida total é a área de operação. Conversão, qualificada, é conversão cancelada a esse ponto.
Uma conversão viva, que se desenvolve é conversão que alcança maiores e maiores áreas da vida. Uma conversão que não se desenvolve está se aniquilando. Degenera em formas e frases mortas cujo conteúdo desapareceu. Nesse vazio os espíritos do mal entram e dominam. A conversão é pervertida. Queimava-se uma cruz em frente à casa de um negro, e um meninozinho judeu perguntou ao pai o que aquilo significava. O pai vagarosamente replicou: "Os cristãos perderam o Caminho". Uma cruz a queimar é uma cruz que se queima com ódio e preconceito - uma cruz pervertida - em vez da cruz de Jesus que se queima com amor pelos inimigos. Os cristãos que a queimaram ou aprovaram o que por trás se achava - ódio racial - perderam o Caminho.
Esse abastecer da conversão com conteúdo mais e mais profundo e com alcance de áreas mais e mais amplas se pode perceber nessa carta de Paulo Santamurti, da Índia. Ele era um brâmane da casta nobre do Sul da Índia e como um hindu em revolta contra as castas dirigiu-se ao bairro dos párias de Madras, pediu que as moças disponíveis fossem dispostas em linha, escolheu a mais escurinha delas todas e disse: "Vou casar-me com você". E assim fez. Quando ela morreu, ele casou-se com sua irmã. A nobreza não somente se uniu a uma criatura dos párias, mas, entre essas, à mais humilde de todas elas. Isso era completar seus princípios de fraternidade com vingança. Como ardente nacionalista foi preso durante o movimento de Gandhi por libertação. Mahatma Gandhi enviou-lhe um Novo Testamento para que ele o lê-se na prisão. Gandhi, que não acreditava na conversão, foi o instrumento para a conversão de Santamurti. Ele se converteu lendo o Novo Testamento, e foi batizado. Enviei-lhe meus livros à medida que iam sendo publicados, e o último, Maturidade Cristã, provocou esse comentário:
"O recebimento desse livro é um ponto decisivo em minha vida íntima em Cristo. É um marco. Quando aceitei o Senhor Jesus como meu Mestre e Líder aceitei-O porque Ele me deu autoridade decisiva para rebelar-me contra os erros sociais e os rituais supersticiosos da religião; Ele deu autoridade devido à liberdade, igualdade e fraternidade que Ele instilou em meu coração. Aceitei-o por causa de seu martírio e coragem. Não fazia idéia da salvação e pouco cuidei dela. Jesus Cristo era o mais puro, o maior dos heróis e libertadores do mundo, e eu marcharia sob Sua bandeira e de mais nenhum outro. Então, depois de entrar em contato com o senhor e com os seus livros, o lugar do programa do Reino de Deus inaugurado pelo Mestre se firmou em mim como a campanha para a emancipação universal da humanidade, resolvendo todos os problemas do fanatismo religioso, da injustiça social, dos desajustes econômicos, e do obscurantismo político. Quando eu quis dar meu coração inteiramente a esse programa, descobri que era impossível a qualquer um que não levasse uma vida cristã a realizar o programa cristão. Dediquei-me de novo a Cristo e prometi-lhe inteira lealdade, a Ele somente como o Senhor e Mestre Supremo, e afirmei que lutaria dia a dia, por apropriar-me da semelhança de Cristo e a trabalhar pelo Seu Reino. Assumi a tarefa sem contar com o custo ou o preço a pagar. Todos os meus esforços culminaram em fracassos - quanto maior o esforço, tanto maior o fracasso. Estava em desespero. Foi nesse momento que seus livros Vida Abundante, O Caminho, O Caminho ao poder e ao Equilíbrio, Como Ser uma Pessoa Transformada, Crescendo Espiritualmente, e Mestia revelaram-me que eu nada poderia fazer por mim mesmo, que eu devia submeter-me e entregar meus defeitos a Cristo. Tinha aprendido o caminho da fé, da oração e da luta, mas não o da entrega. O caminho, embora novo para mim, tornou-se perfeitamente familiar em alguns meses, com exceção de um ponto. Não era possível dominar meu gênio e controlar-me e evitar de desejar ou proferir, todas as más coisas contra aquelas pessoas que, de acordo com o meu julgamento, tinham errado. No momento que o mal surgia em minha mente, ou palavras de injúrias subiam à minha boca, verificava que fora de encontro ao meu juramento a Cristo e me arrependia e orava. Não era possível amar as pessoas que eram o flagelo da humanidade. Assim pensava eu. Seu novo livro abriu meus olhos. Até esse momento não ouvira falar do amor ágape, embora eu estivesse lutando por obedecer ao programa de Rearmamento Moral - absoluto amor. Todo o amor que eu tinha era do tipo eros, e quando os homens falhavam, meu amor por eles falhava. Por isso comecei a submeter meu amor também a Cristo pedindo-Lhe que transforme todo meu amor Eros em amor Ágape. Ore por mim, por favor".
Aqui se vê uma história ilustrativa da ampliação do sentido da conversão: 1) Conversão significa conversão a um Líder de reforma social. 2) Conversão ao Reino de Deus. 3) Conversão à entrega. 4) Conversão do amor tipo Eros ao amor tipo Ágape.
Cristo tomou-o no ponto de seu mais sublime interesse - um ardente e sincero nacionalista que desejava a reforma social e política da estrutura de seu país. Jesus era um Líder da reforma social, por isso ele seguiria sob Sua bandeira. Então foi conduzido ao Reino que embora inclua a reforma social, era muito mais - era um modo integral de vida. Descobriu que não podia viver esse modo total de vida sem auto-entrega. O que de mais profundo se deu nessa auto-entrega foi a conversão do seu amor básico de Eros para Ágape. A conversão atuou da periferia ao centro. O centro da conversão é a conversão de nosso amor.
Aqueles que vivem no Ocidente provavelmente fariam o percurso de outra maneira. 1) O clima básico conosco é o individualismo. Por isso a conversão começaria com um desejo por salvação individual dos conflitos íntimos, das culpas, temores, ressentimentos, da preocupação auto centralizada. Desejamos paz, reconciliação, inteireza. 2) Se a conversão operar-se em verdade conduzir-nos-á à auto-entrega. 3) No centro dessa auto entrega está a conversão de nosso amor - conversão do amor tipo Eros que é amor que quer receber, ao tipo Ágape que é amor que se dá. 4) Isso nos conduzirá à conversão ao Reino de Deus, que é a conversão à ordem total, trazendo a vida integral, individual e social, sob um caminho total de vida por uma completa entrega e completa obediência ao Reino. "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" Mateus 6.33.
Se buscarmos primeiramente o Reino de Deus, todas as coisas de que necessitamos nos serão asseguradas eis o penhor que temos.
O convertido que se converte ao Reino retirará de seus ganhos aquilo de que necessita e conservará o restante para, sob a direção de Deus, ser distribuído em benefício dos que dele têm necessidade. Suas próprias necessidades serão sujeitas a princípios tais como este: Cada um tem direito àquilo de essencial que o torne física, mental e espiritualmente apto para o Reino de Deus. Tudo o mais pertence às necessidades dos outros.
A base do Novo Testamento é "necessidade" - não a ganância. "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Fp 4.19). "Distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade" Atos 2.45. "Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas" Mateus 6.32. "E se alguém vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviará" Mateus 21.3. A necessidade é a base cristã.
Os leigos - e os ministros - seguirão seus negócios ou vida profissional com uma sensação de dedicação, dedicação ao Reino - e estarão em serviço cristão de tempo integral, usando seus negócios ou profissão como instrumentos de demonstração do Reino. Juntamente com isso sentirão que eles têm direito a ver suas necessidades e as necessidades de seus queridos dependentes supridas. Então terão o privilégio de ser mordomos do remanescente a fim de distribuir, de suprir as necessidades dos outros. Isso dará à vida total coerência e foco, e dar-lhe-á um senso de missão. A falsa divisão entre o secular e o sagrado será dissipada. O todo da vida será sagrado, porque empregado sem fins sagrados - em fins do Reino de Deus.
À medida que colocam seus bens materiais e seus ganhos à disposição do Reino de Deus, assim colocam seu tempo, talentos e influência a serviço do mesmo Reino. Isso inclui seu testemunho pessoal.
A conversão é conversão ao Reino de Deus.
EPÍLOGO
Ao falar do novo nascimento e da conversão Jesus empregou uma palavra muito decisiva em ambos os casos - "Se". "Se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus". "Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus". Será esse "se" muito dissonante, muito estreito, muito dogmático, muito importuno? Estaria Ele erguendo algo fora do coração da realidade? Estará a vida dizendo a mesma coisa? Sim - inequivocamente sim.
Lembre-se de que Stanley Hall, o psicólogo, disse: "Se a igreja permitir que isso (a conversão) se fossilize, a psicologia, quando se tornar verdadeiramente biológica, o pregará". Essa profecia proferida há uma geração passada está sendo agora cumprida - a psicologia prega isso - das necessidades profundas, sombrias da natureza humana ela proclama a conversão. A medicina prega isso também. O diretor de uma Faculdade de Medicina disse-me: "Se os ministros não podem produzir conversão, nós, os médicos, teremos que fazê-la, pois a vida assim o exige".
A necessidade de conversão se estende dos elementos mais elevados que o homem pode produzir ao extremo inferior de que é capaz o pecado - todos os altos e baixos de toda a escala da vida, toda a natureza humana necessita de conversão - não alguns - todos. Não há exceção a esse "se".
O que de melhor a religião pode produzir à parte da conversão não é suficientemente bom. A religião se subordina a esse "se não vos converterdes". Santa Teresa foi durante muitos anos uma irmã desconhecida fazendo fria e mecanicamente sua rotina de deveres e repetindo suas orações. Um dia entrou na capela como havia feito regularmente durante dez anos. Nesse dia, contudo, foi diferente. Ao se fixarem seus olhos sobre a cruz, ela compreendeu realmente o amor de Deus por ela. Caiu de joelhos, entregou-se inteiramente, e ergueu-se para começar nova vida. Suas palavras dessa época em diante foram palavras de vida. Onde as declarações de outros caíam sobre corações insensíveis que não respondiam ao apelo, as palavras dessa irmã reavivavam as almas daqueles que a ouviam. Foi o Espírito Santo que a despertou para o sentido da cruz, e foi o Espírito Santo que transformou seu ministério num instrumento vibrante e poderoso de redenção. Uma irmã devotada e dedica precisou da conversão.
Pastores cristãos devotados precisam da mesma conversão. Um jovem e zeloso ministro que, porém, Se sentia abatido e vazio, passou por uma igreja com esse aviso no quadro: "Jesus Cristo está neste lugar. Tudo pode ocorrer aqui". Feriu-o. Ele entrou, ajoelhou-se diante do altar de oração e entregou sua frustração e solidão. Jesus Cristo estava naquele lugar, e o encontrou. Um novo homem saiu daquela igreja e seu ministério é agora esplendidamente fecundo.
Essa necessidade por conversão se estende dos elementos mais elevados aos piores que há. O presidente dos Alcoólatras Anônimos, sociedade que tem sido útil na redenção de dez mil alcoólatras, falando perante a Associação Psiquiátrica Americana, confessou que depois de um longo período em que ele era incapaz de abandonar o vício, pensou: "Se há um Deus Ele se revelará". "O resultado, disse ele, foi instantâneo, elétrico, indescritível. O lugar se iluminou, ofuscando pela brancura. Senti-me em êxtase e parecia que me encontrava numa montanha. Um grande vento soprou, envolvendo-me e impregnando-me. Não era de ar, mas do Espírito. Qual lampejo veio-me o pensamento tremendo: "Tu és um homem livre" . O êxtase desapareceu. Uma grande paz se apossou de mim". Era um homem livre e então começou o trabalho maravilhoso de libertar os outros.
Estive com um redator de projeção na Costa do Pacífico, e quando ele me disse que tinha sido um bêbedo, mal pude acreditar. Não havia sinais disso em sua fisionomia. "Sim", disse ele, com dignidade sincera, "o álcool apossou-se do melhor que havia em mim - gradualmente tomou conta total de mim. Lutava, mas sabia que estava vencido. Fui a uma instituição para ver se a ciência poderia ajudar-me. Para essa instituição levaram um homem em condições muito precárias. Então eu disse ao médico: "Esse homem está em condições muito graves, não é?", "Sim, respondeu o médico, mas dentro de um ano ele estará bom. Mas você dentro de um ano não estará curado". Aquelas palavras percorreram meu cérebro como um ofício fúnebre. Retirei-me sob um céu estrelado naquela noite, sentindo-me abandonado e derrotado. Aí lembrei-me do que um leproso disse a Jesus: "Ó Jesus, se tu quiseres tu podes tornar-me limpo". A resposta foi rápida: "Eu quero, fique limpo". Nesse momento o poder do álcool sobre minha vida rompeu-se. Nunca mais bebi desde então. Foi-se". Aquele grande redator abriu uma gaveta de sua mesa e mostrou-me as notas que tinha para os editoriais e então abriu outra e mostrou-me a Bíblia. "Esse livro é a base de minha vida e meus editoriais".
Nada, a não ser a conversão, podia ter transformado aquela irmã e o jovem ministro, ambos dedicados e devotados elementos igualmente necessitados; nada, a não ser a conversão pode transformar o presidente da Sociedade de Alcoólatras Anônimos e aquele redator, no extremo oposto da decadência, igualmente necessitados da conversão. Nada, a não ser a conversão, pode transformar as pessoas dentro das igrejas ou fora delas que representam o grupo de permeio aos dois extremos.
A conversão converte tudo - do alcoolismo às atitudes e tudo de permeio. Não há substituto para a conversão. Se a Igreja perder seu poder de converter, perde seu direito de chamar-se cristã.
Nesta idade esfalfada, a perder-se de nervos e a voltar-se para os substitutos, chegam as boas novas da conversão de tudo para Tudo.
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Este texto corresponde ao capítulo XV e ao Epílogo do livro "Conversão", de Stanley Jones.
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