Há em nós clara obcessão pelo futuro e a maior parte de nossa existência vivemos a nos preocupar com ele e a permitir que ele nos condicione o presente e nos aflija.
A modernidade foi pródiga em suas expectativas de um futuro melhor e apesar de seu esforço e empenho fracassou em suas promessas, porque prometeu paz e colheu guerra, anunciou abundância e colheu fome, ensinou a possível chegada de um mundo novo e sentiu saudades do passado, apesar das dores que nele sofreu.
Assim se pode ver um Augusto Comte que entendia que as coisas se resumiam ao conhecimento experimental “é necessário conhecer para prever”, experimentar e demonstrar. Diferente não se deu com Marx cujas promessas era de que a partir da compreensão do mundo da produção se conheceria um mundo melhor, um futuro mais feliz.
Com esta atmosfera de certeza futurista movimentaram-se os teólogos da libertação que nos venderam a idéia da possibilidade de um mundo novo, construção nossa, onde caberiam todos, antecipação do Reino de Deus, onde se viveria em paz e usufruindo a plenitude da graça de Deus.
O homem se sentia dono de sua vida e com a “História na frente e a certeza nas mãos” caminhava em linha reta com a convicção absoluta de um mundo melhor de paz e de abundância que à semelhança do que ocorreu no monte da transfiguração se pudesse dizer” é bom estar aqui”.
Como “tudo o que é sólido se desmancha no ar” esta esperança se desfez em função de uma condição pós-moderna, que insistimos em negar, mas que está aí a nos esfolar e desmanchar nossos castelos.
Intelectuais brilhantes estão a nos chamar para a realidade e a nos dizer coisas preocupantes como “o futuro já não é o que era” ou mais “o vazio do futuro é tão só um futuro vazio”. E mais “o futuro já passou e não percebemos”.
Morin, com a teoria da complexidade tem procurado oferecer contribuição realista sobre o futuro sem ser futuricida. Chama-nos ele à atenção para o fato de que o problema se encontra ligado à adoção de um conhecimento que não se conhece” e que produz com seu crescimento o avanço de uma cegueira maior que contamina o conhecimento científico, e o faz anti-natural e mutilador.
Após estas reflexões aconselha-nos ele a relermos os fundamentos, a repensarmos os valores adotados e tomarmos consciência que o futuro de fato já não é e não será o que era, mas que rigorosamente o “novo nome do futuro é a incerteza,” é com ela que precisamos trabalhar, sem as ilusões e promessas da modernidade.
Apesar destas constatações, de que o futuro se encontra doente e com os olhos voltados ao particular, se é que ele ainda existe, há que se indagar - que possibilidades ainda temos para uma atitude positiva de reivindicação do futuro, para não admitirmos a morte da utopia e o fim da História?
O futuro tem que ser pensado a partir de um novo conhecimento, não retilíneo, nem cumulativo, mas complexo que se dá em malhas e que leve em considerações o peso do acaso e do incerto entre as múltiplas determinações que entram na composição do sentido da vida.
Mais do que “conhecer para prever” precisamos estar preparados para conviver com as incerteza e entendermos o futuro como equilíbrio instável, sem finalismos programados e sem as falsas promessas da modernidade.
Voltar