Stanley Jones, missionário metodista na Índia, afirmou que o cristianismo se sustenta sobre quatro pilares: nascimento, morte e ressurreição de Cristo e o Pentecostes.
O Pentecostes, como relata no livros de Atos dos Apóstolos, ocorrido 50 dias após a Páscoa, revela o cumprimento de pacto e um momento de plenitude espiritual da Comunidade Cristã, quando ela se deixou embalar completamente pelo Espírito Santo e logrou colher a graça desta disponibilidade.
A revolução social que Ele provoca constitui fenômeno extraordinário e revela novo modo de viver entre os homens, que traz vivos sinais de uma nova ordem, de um mundo novo, que não se constrói sem sacrifício, pois é precedido de “ventos impetuosos”, que nos indicam que o novo tempo não nasce espontaneamente, mas é uma construção histórica que implica em lutas renhidas contra as forças contrárias, que querem deter os avanços tão sonhados e buscados pelos mais sofridos, os preferidos do Reino.
Os efeitos do Pentecostes são extraordinários e anunciam claramente a possibilidade de antecipação do Reino a partir do “aqui” e do “agora”.
Em primeiro lugar, com o Pentecostes ocorre a unificação universal da linguagem. Todos falavam a mesma “língua”, e se entendiam harmoniosamente, recuperando a unidade perdida na construção da Torre de Babel.
Junto com este amplo entendimento criado, e valendo-se da celebração do Jubilei, ocorre a substituição do sistema de trocas pelo sistema de doação. Dá-se radical redistribuição de riquezas, onde “todos tinham tudo em comum”, pondo fim à pérfida acumulação de bens por poucos, em detrimento de muitos, razão dos conflitos e da existência de multidões de mutilados sociais ainda hoje.
No Pentecostes ficaram superadas barreiras lingüisticas, fronteiras nacionais e diferenças de classes sociais, porque nEle era “uma a alma e o coração de todos”, descrição sucinta de uma sociedade socialista perfeita.
Nesta sociedade, portadora de uma mesma linguagem, sem antagonismo de classe e sem culto à propriedade privada, é natural que muitos problemas, que hoje ainda nos atordoam, tenham sido levantados e resolvidos. Assim diz o texto que os “velhos sonharão sonhos”, isto é, não sonharão pesadelos, que sempre um sistema iníquo lhes impõe. O velho, anunciado no Pentecostes, não é peso morto nem carga pesada, ao contrário, é produtivo, vive feliz, não sofre preconceitos, tem suas necessidades essenciais atendidas e suas esperanças renovadas, porque o amanhã se lhe apresenta trazendo aos cores vivas de uma nova primavera, em que ele se sente útil como mordomo e jardineiro, no cuidado que dispensa às flores nos jardins do Reino.
Ao lado deste “velho – novo” que ganhou o direito de sonhar diz o texto, que os “jovens terão visão”, adquirirão por força do Espírito a precoce maturidade que lhes permite participar na construção da Nova Ordem; em que todos se sentirão protegidos e seguros. Não há a necessidade de manter o jovem dependente, amordaçado sob censura, fora do mercado de trabalho, porque ele se encontra dotado de experiência e visão privilegiadas da vida. É a completa superação das diferenças entre gerações tão almejada por todos nós.
O Cristianismo constitui um ciclo de notáveis conquistas. No nascimento de Cristo, o poder usurpador entra em grave crise, e o frágil berço se transforma em trincheira de resistência. Em sua morte esfacelam-se os túmulos e as pedras que obstaculizam a realização humana são removidas. Na Ressurreição confirma-se a retumbante vitória da vida, que ganha sua plenitude na realização do Pentecostes com a implantação da harmonia universal completando o ciclo da fé cristã.
Por longo tempo o “Pentecostes” se viu esquecido e colocado em situação secundária em relação aos demais eventos do cristianismo, nas últimas décadas, em diferentes partes do mundo, vem ocorrendo o fenômeno de “reavivamento”, que enfaticamente o colocam como fonte de inspiração, dando origem aos grupos carismáticos, que, bem orientados, agem como verdadeiras comunidades em torno do Espírito Santo e revelam um novo modo de ser e viver.
Em um mundo em que os idosos mantêm viva a esperança, vislumbram um futuro sem trevas a partir de um presente iluminado, o jovem pode valer-se de suas energias e caminhar sem empecilho, construindo sua existência, e todos se sentem participantes de uma economia de doação, a paz se torna um dado natural e a felicidade hóspede permanente da humanidade e todos poderão “ Sonhar Sonhos”.
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