IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
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Evangelho
Rio, 6/10/2008
 

O cheiro da vida (Joao 11)

Elias Boaventura


 


Assegurou-me meu amigo teólogo que o hábito de enfeitar os caixões com flores vem da antigüidade e tinha finalidade de neutralizar o desagradável odor da morte exalado pelo cadáver depois de algum tempo exposto.

Movido pela curiosidade, fui atrás do tema, não encontrei mais referências e me dei por satisfeito até porque a colocação de flores, como simples ornamentação em tais circunstancias, constituiria estética de péssimo gosto, que dificilmente seria assimilada pelos observadores.

Independente do cadáver, a morte sempre cheira mal e sua simples aproximação através de seus agentes, provoca ambiente fétido e descomunal mal estar pela irritação que dissemina.

No texto em questão pode-se ver claramente este fenômeno. Seu simples anúncio provocou a morte da esperança. Tomé disse: “viemos aqui para morrer com ele”, Marta ficou travada e se deixou abater - “se estivesses aqui ele não teria morrido”, os amigos judeus choravam, lamentavam e bradaram: “Ele que abriu os olhos dos cegos, não poderia salvá-lo?” O próprio Cristo também se agitou, chorou e se sentiu mal diante dela. Todos passaram por um processo de desestabilização e sofreram em presença da morte.

A morte não atingiu só a Lázaro, mas a multidão presente para a qual havia também morrido a paz, a esperança, a felicidade a harmonia e desaparecido o sentido da própria vida.

Para afastar a morte providências enérgicas teriam que ser tomadas com a participação de todos e nesta metáfora são claramente anunciadas.

Em primeiro lugar retirem o obstáculo opressor da pedra que fecha o túmulo. Este obstáculo pode significar - pobreza, opressão e tantas outras manifestações, que sozinha a pessoa atingida não pode resolver.

Em segundo lugar valorize as possibilidades ainda restante no indivíduo e estimule sua participação – “Lázaro venha para fora”, saia deste ambiente fétido, marcado pelos agentes da morte – sair depende inicialmente de vontade pessoal.
Em terceiro lugar indicou atitudes que só a força do coletivo poderia tomar:
- “Desatem seus pés”, tirem estas amarras que impedem o caminhar. São muitas: fome, doenças, exploração, pobreza, perseguição e tantas mais.

- “Retirem-lhe o lenço que inibe sua fala”, devolvam-lhe a voz para que livremente possa se manifestar. Os lenços também são muitos: autoritarismo, repressão tortura, obsessões cegas e muito mais.

O moribundo recuperado, seguiu seu caminho e não se falou mais em desespero, em choro, em mal cheiro. Mesmo sem flores, a vida voltou!! O mau cheiro acabou.
Há que se indagar: De quem foi o milagre? Dos homens ou de Deus?
Faz sentido ampliar a questão: A quem se deve atribuir o milagre de resgate do sentido de uma boa qualidade de vida? A busca da paz, a eliminação da fome, da falta de moradia, a conquista de um mundo melhor agora e com menos violência, são tarefas milagrosas a esperarmos de Deus ou do homem? É possível imaginá-los assim separados?

Lázaro continuou na mira da morte tramada pelos mesmos agentes, mas agora, de posse do sentido da vida, prosseguiu sua caminhada participando do derramamento de ungüento por parte de sua irmã, não para neutralizar o cheiro da morte mas para celebrar o perfume da vida já no presente e viver seu encantamento.

(Setembro/2008)

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