IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
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Natal
Rio, 7/1/2009
 

Do Advento ao Natal

Bispo Paulo Lockmann


 

“Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando seus filhos, e não querendo ser consolada, porque já não existem.” (Jr 31. 15)

1) Celebrando e enxergando
Vivemos o Advento, com ele a primeira estação do calendário cristão, a qual designa o período em que a Igreja recorda e celebra a vinda do Filho de Deus ao mundo. Advento quer dizer vinda, chegada.

Quem primeiro dá o sinal do Advento, Natal, infelizmente, não é a Igreja, mas o comércio, que vê no Natal uma oportunidade de superar as perdas pesadas de um ano de recessão econômica, falta de emprego, falta de dinheiro no bolso do trabalhador, e, com isso, uma cadeia de diminuição das atividades produtivas, miséria e marginalidade. Especialmente com a crise econômica do mundo capitalista de hoje.

Nesse horizonte, vemos notícias de violência que nos intimidam, uma jovem estudante de medicina é morta quando retornava a casa, virou notícia aos 22 anos de idade. Mortes iguais ocorrem nas áreas pobres das nossas cidades, a cada dia, sem serem noticiadas; isso porque nas periferias a violência transformou-se em rotina.

Relatório da Unicef sobre a situação das crianças no mundo, hoje, nos diz o seguinte: a) Hoje morrem 15 milhões de crianças no mundo, por ano, de causas tratáveis, como desidratação e inanição (fome). b) Mais de 350 milhões de crianças estarão trabalhando, sem condições de ir à escola no mundo. c) Mais de um milhão de crianças (90% delas meninas) sofrem abuso e violência sexual a cada ano.

“Bispo, isto é mensagem de Natal?” Diriam alguns irmãos e irmãs. Eu respondo: Sim, Natal é uma boa nova – Evangelho, em um mundo marcado pela violência e miséria. Ainda que nesta época nossas esperanças se reacendam, sejamos tomados de um novo impulso de fraternidade e amor por todas as pessoas, isso por recordarmos do amor de Deus, revelado no menino Jesus, no entanto, não podemos esquecer que o Natal precisa ser uma festa inclusiva, devemos recordar que milhares de famílias tem poucos motivos, ou nenhum para celebrar o Natal; não há moradia, não há esperança. Para todos esses é que nós precisamos sinalizar amor e esperança, mas não somente no Natal, e, sim, em todo ano de 2009.

Nossa celebração não terá pleno sentido de Natal se não se projetar numa ação missionária de misericórdia e socorro. Foi de uma constatação da violência, que Mateus, em seu Evangelho, se deu conta do quanto sofreram muitas mães nos tempos em que nasceu Jesus.

2) Celebrando e denunciando
Vejamos o que nos diz Mateus 2. 13-22: “Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho, e diz: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar.” Quero comentar, brevemente, esse texto, para que entendam o que estou dizendo.
O relato começa com o aviso do anjo. É Deus tendo de exilar-se. O aviso do anjo é uma subversão em relação ao ato de Herodes. Deus é um rebelde, e o anjo um agente que conspira contra o rei. Um absurdo? Não, pois a ordem imperial era: “Matem os meninos desta cidade de dois anos para baixo”. Ao tirar do alcance de Herodes o menino Jesus, o anjo buscava preservar a vida, garantir a continuidade do propósito de Deus. Hoje, seguimos contemplando a morte de meninos e meninas nas nossas cidades. O martírio das crianças persiste. Este texto é uma denúncia: Herodes não morreu; continua sob outro nome, matando crianças. O sacrifício de criança é muito antigo; Abraão se defrontou com ele (Gn 22. 2), Moisés, José e Maria também o enfrentaram.

Em meio ao sofrimento da morte dos meninos, do exílio, há um sinal de esperança. Não é à toa que o exílio do menino Jesus e o choro das mães em Belém são relacionados, no uso da profecia de Jeremias (31. 15), com o choro das mães no exílio, em Babilônia, usando a imagem simbólica de Raquel como a mãe de Israel, isso porque, segundo a tradição, ela foi sepultada em Belém. “Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque já não existem”. A referência a Jeremias 31. 15 nos aponta a certeza de que Deus traria de volta do exílio; o tempo da opressão seria substituído pelo tempo da libertação: essa era a mensagem de Jeremias 31. Assim, o texto de Jeremias introduz a descrição da morte de Herodes, o opressor, que passa a ser feita no versículo que segue a citação de Jeremias; o verso 19 depende do cumprimento dado em Jeremias, e acena para a superação do jugo, que o martírio apontava. Ou seja, o Senhor traria novo tempo. O anjo faz o anúncio que o profeta fizera. “Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José do Egito e disse-lhe: - Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino.” (Mt 2. 19-20).

O retorno não é tranqüilo com a morte de Herodes; não era uma solução segura, pois assumiria Arquelau, o qual conseguiu, em 10 anos, acumular grande antipatia popular. José fica indeciso sobre que decisão tomar, e retorna, mas não a Belém, território de Judá, mas toma o rumo da Galiléia, precisamente Nazaré. Com isso, a comunidade explica por que Jesus inicia seu ministério vindo da Galiléia, o que fora contestado pelos escribas. O texto, de certo modo, está inserido na polêmica sustentada pela comunidade de Mateus com o judaísmo.

Finalmente, o texto teve uma apropriação hermenêutica por parte da comunidade judaico-cristã que, também, perseguida, vivia de certa maneira no exílio, pois ela vivia a dispersão judaico-cristã, uma desinstalação do povo migrante, itinerante, que marcava o estilo de vida assumido pela comunidade de Mateus (Mt 10). Migrantes, perseguidos e exilados são José, Maria e o menino Jesus; migrante, perseguida e exilada era a comunidade de Mateus. Neste mesmo chão da vida, continua pisando o povo pobre de nossa América Latina, meninos e meninas como Jesus, e outros tantos em nossos bairros e cidades.
Neste Natal, o desafio é sermos como o anjo foi para José e Maria: advertir, discipular e ensinar o caminho da libertação e da vida. Enfim, este é o anúncio do Natal de Jesus: “Eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu ... o Salvador, que é Cristo, o Senhor.” (Lc 2. 10-11). Levar esta mensagem a cada pessoa, em cada grupo de discipulado, plantando igrejas em cada bairro, para ganharmos 1.000.000 de discípulos/as, é a nossa visão.

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