IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
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Joćo Wesley
Rio, 14/1/2009
 

Joćo Wesley - em busca de uma Teologia ** (Rev. W. H. Fitchett)

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Nos começos de 1725, Wesley, tendo completado com êxito o seu curso universitário, tinha de escolher uma carreira. A sua posição de lente abria-lhe a porta para uma das três profissões doutas, o direito, a medicina ou a Igreja. Wesley possuía, em grão supremo, alguns dotes, pelo menos, que constituem o grande advogado; e também tinha uma forte inclinação natural, como os sucessivos anos demonstraram, em direção da medicina. De fato, lidava com medicamentos durante toda a sua vida. Contudo a Igreja foi para eIe inevitável. As forças hereditárias, a pressão de sua educação, e certas qualidades de temperamento natural o levaram nesta direção. Havia também colações colegiais e colações ao dispor da Charterhouse que tornavam agradável a perspectiva. O seu pai havia lhe feito pressão neste sentido; e logo no começo do ano Wesley escreveu a Epworth dizendo-se disposto tomar ordens sacras.

A escolha foi para eIe de importância suprema, pois definitivamente lançou a sua vida nas correntes da religião. Carlos Wesley, traçando as forças que lhe determinaram o espírito na mesma direção, diz: ”A diligência me levou a pensar seriamente”. A seriedade, com que se aplicava aos estudos, despertou, como se fosse por vibrações aparentadas, porém mais profundas todas as faculdades mais nobres da sua alma. E como no caso de seu irmão João, a sua decisão de tomar ordens sacras fê-lo contemplar a religião com novas vistas. Mais tarde Wesley ensinou à sua Igreja que a conversão era o primeiro requisito essencial ao cargo ministerial; mas no caso dele mesmo essa ordem foi invertida. Ele decidiu tomar ordens sacras, e então resolveu “a pensar seriamente” para descobrir qual o preparo espiritual que possuísse para a vocação que encolhera.

É curioso ler a exposição que o seu pai faz dos motivos que devem atuar o candidato para o grande cargo do ministério cristão. Ele escreve:
“É da minha opinião que, se não houvesse mal algum no propósito de galgar esta posição, mesmo como os filhos de Eli, a fim de comerem um pedaço de pão, ainda assim, o desejo e o propósito de seguir uma vida mais estrita, e a crença que se deve fazer isto, seria razão ainda melhor. E isto, no entanto, deve-se começar antes ou são dez para um que enganar-nos-emos depois”.

Isto nos parece uma descrição curiosamente inadequada do equipamento espiritual necessário para um tão grande empreendimento.

Suzana Wesley toca numa nota mais elevada: -
“Querido Joãozinho,a mudança no vosso espírito tem me ocasionado muitas cogitações. Eu, que sempre me inclino ao otimismo, espero que isto seja o resultado da operação do Espírito Santo de Deus, que, por tirar-vos o gosto pelos prazeres sensuais, quer-vos preparar e predispor-vos o espírito para uma consagração mais séria e constante às cousas de uma natureza mais sublime e espiritual. Se for assim, faríeis bem em nutrir tais sentimentos; e agora, pois, com toda a sinceridade resolvais a fazer da religião o principal empreendimento da vossa vida. Agora, que falo nisto, me recordo da carta que escrevestes ao vosso pai em relação ao vosso propósito de tomar ordens. Fiquei mui contente e gostei desse propósito. Aprovo a disposição do vosso espírito e acho que quanto mais cedo for diácono, tanto melhor, porque pode ser que vos seja um incentivo para uma maior aplicação ao estudo da teologia prática, que eu humildemente considero como a melhor matéria de estudo para os candidatos a ordens”.

A Senhora Wesley, segundo seu costume, propõe que o seu filho imediatamente proceda a uma interrogação de si mesmo, “para que saibais se tendes uma esperança racional de salvação”; isto é, se estais num estado de arrependimento e fé ou não. Se estiverdes”, diz ela, ”a vossa satisfação em sabê-lo será uma abundante recompensa de vossos esforços. Se não estais, tereis uma ocasião mais razoável para lágrimas do que se pode encontrar numa tragédia”.

É sem dúvida um bom conselho; mas aqui, outra vez, encontramos a mesma inversão da verdadeira ordem espiritual. O ofício espiritual vem primeiro, e depois o preparo! O seu filho não deve tomar ordens porque já tem o necessário preparo em teologia prática; mas precisa ordenar-se afim de que estude essa teologia.

Entretanto, Wesley, tendo decidido quanto a sua carreira, dedicou-se com o denodo característico em preparar-se para eIa. A sua própria narração diz: “Quando tive cerca de vinte e dois anos o meu pai insistiu comigo que eu entrasse em ordens sacras. Comecei a mudar toda a forma da minha conversação e a tentar sinceramente a entrar numa vida nova”.

Sendo estudioso, dado a livros acostumado a se aproximar a tudo do lado Iiterário, dedicou-se a literatura devocional. E três escritores largamente separados, quanto ao tempo, uns dos outros, e mui diferentes em gênio e atmosfera - Thomaz A. Kempis, Jeremias Taylor e Guilherme Law – impressionaram-no profundamente. Grande, sutil, e de largo alcance é o poder de um bom livro! Em certo sentido, como ensinou Milton, é uma força imortal. A mão que o escreveu e o cérebro no qual foi concebido voltam ao pó; mas o livro ainda vive e canta, instrui ou adverte as sucessivas gerações de leitores novos.

O livro A imitação de Cristo, de Thomaz A. Kempis tem sido impresso em mais línguas, tem achado mais leitores e talvez tem exercido uma influência sobre maior número de almas, do que qualquer outro livro fora da Bíblia. Quem o escreveu não se sabe ao certo, mas o monge que na sua cela distante, soube destilar nas sentenças da Imitação, segundo as palavras do Deão Milman, “tudo de elevado e animador que havia em todos os velhos místicos”, foi o primeiro que, através do espaço de três séculos, despertou um sentimento profundamente religioso no coração de Wesley. Ao passo que lia esse livro imortal, ele nos diz: “Eu comecei a ver que a verdadeira religião tem a sua raiz no coração, e que a lei de Deus aplica-se a todos os nossos pensamentos bem como a todas as nossas palavras e ações... Eu destaquei uma ou duas horas por dia para um retiro religioso. Eu tomava a comunhão uma vez todas as semanas; vigiava contra todo o pecado, quer por palavra quer por ação. De modo que, agora, fazendo tanto e levando uma vida tão boa, eu não duvidava que era bom cristão”.

Jeremias Taylor impressionou a Wesley quase tão profundamente como Thomaz A. Kempis. Entretanto não podia haver contraste maior entre duas inteligências: Wesley, com a sua lógica, clara como o gelo e quase tão fria, e com o seu desprezo da retórica; e Jeremias Taylor, ”o pregador da boca áurea”, com a sua mais que trópica profusão de eloqüência. Jeremias Taylor tem sido chamado “O Shakespeare da teologia”. De Quincey nos conta que começou uma biografia do grande teólogo, mas nunca foi além da primeira sentença – “Jeremias Taylor, o mais eloqüente e o mais sutil dos filósofos cristãos, era filho de barbeiro e genro do rei”. Mas o próprio De Quincey, um dos mestres supremos do estilo da literatura inglesa, nunca se cansa em cantar o louvor da prosa de Jeremias Taylor. Ele o classifica junto com o autor do “Enterro da Urna” e com o Jean Paul Richter, como sendo o mais rico, o mais deslumbrante e o mais cativante retórico. E talvez o homem que, durante o tumulto e as lutas da Guerra Civil, escreveu “As Regras de uma Vida Santa”, tivesse a voz mais melodiosa na literatura cristã. E ainda se ouve sua voz sobressaindo às lutas partidárias e ao ruído das batalhas entre as quais o Jeremias Taylor se movia.

A sua erudição, o seu fervor espiritual, o seu gênio meigo, por algum tempo, cativavam o espírito de Wesley. Entretanto, Jeremias Taylor devia ter exercido em certo sentido, uma influência perniciosa sobre Wesley. Coleridge afirma que o autor do “Santo Viver e da Morte Santa” era, “de coração meio sociniano” (que aceita a doutrina baseada na teologia de Fausto Socino, falecido na Polônia, em 1604, que era antitrinitária, rejeitava o batismo e a ceia do Senhor como meios de graça e o pecado original e afirmava que Jesus de Nazaré era apenas um homem); e certo é que a cruz de Cristo não aparece, senão mui indistintamente, através da áurea neblina da retórica Tayloriana. Era protegido do Arcebispo Laud, e o seu alto eclesiasticismo, que, a semelhança do eclesiasticismo (afeição excessiva e/ou culto a formas, métodos e práticas eclesiásticas, a instituição igreja) mais moderno da mesma atitude, é dificilmente distinguido do papismo. Coleridge , queixa-se de que Taylor, “nunca falava com o menor sintoma de afeto ou respeito por Lutero, ao passo que chamam de santos todos os pseudo-monges e frades até as mais recentes canonizações dos modernos”. Jeremias Taylor nada contribuiu para a clarificação da teologia de Wesley; antes serviu para dar-lhe um acrescido sabor de sacerdotalismo (clericalismo, teocracia).

Mas Wesley não confiava em seus mestres, nem em si mesmo. Ele os interrogava, com a mesma diligência incansável, em que sindicava de sua própria condição espiritual. Portanto, o seu bom senso levou-o a rejeitar o elemento ascético do livro A Imitação de Cristo, onde Kempis combate a alegria inocente, e exagera o valor espiritual da tristeza. Wesley diz à sua mãe: “Não posso entender que Deus, ao enviar-nos para este mundo, irrevogavelmente decretasse que aqui estejamos sempre tristes”. O seu pai, entretanto, concordava com Kempis, e dizia que: “a mortificação era ainda, para o cristão um dever indispensável”. Contudo, os traços heróicos da Imitação eram elevados demais para o bom parocozinho (Samuel), e com um rasgo de sensatez descomunal, eIe recomenda a João que consulte a mãe, dizendo: “ela terá tempo para peneirar o assunto até o farelo.”

A Senhora Wesley discute com notável sensatez toda a moral do prazer:
“Se quereis julgar da legitimidade ou da ilegitimidade de qualquer prazer, segui esta regra: Tudo que vos enfraquece a razão, debilita-vos a sensibilidade da consciência, obscurece-vos a percepção de Deus, ou vos diminui o gosto pelas cousas espirituais - mesmo que seja inocente em si mesmo - é para vós um pecado”.

Os mais sábios casuístas talvez achariam dificuldade em formular melhor interpretação do dever humano!

Wesley, com notável presteza observou o que havia de salutar em seus novos mestres. Do livro A Imitação de Cristo eIe aprendeu algo da altitude e do escopo da vida espiritual. Depois de tê-lo lido, eIe diz: “Vi que, mesmo dando toda a minha vida a Deus, supondo que isto me fosse possível, nada me aproveitaria, sem eu dar-lhe o meu coração, sim, todo o meu coração”. Jeremias Taylor, ensinou-lhe a grande verdade, na qual ele medita com ênfase tão terna e comovente, da necessidade de um propósito absolutamente puro e simples. Wesley diz: “Instantaneamente resolvi dedicar toda a minha vida a Deus - todos os meus pensamentos, palavras e ações - sendo convencido de que não existe meio termo, mas que todas as particularidades da minha vida - não algumas somente - têm de ser um sacrifício a Deus. Ou a mim mesmo, isto é ao diabo”.

Mas ele discorda, com a sensatez inevitável, do exagero de Jeremias Taylor quanto a virtude da humildade. Seria, deveras, uma forma da piedade o julgarmo-nos piores do que a outros quaisquer? “É tudo”, diz Wesley, “questão determinável pelos fatos. Por exemplo, alguém, estando na presença de um livre-pensador, não pode deixar se conhecer como sendo o melhor dos dois”.

Nesse tempo, entretanto, Wesley se achava mais empenhado em tornar clara a sua teologia do que em determinar a sua própria condição espiritual. Discute uma multidão de questões difíceis de teologia, com o seu pai e a sua mãe e é difícil crer se, que nesse tempo houvesse qualquer outra correspondência na Inglaterra que rivalizasse, em sensatez e seriedade, com as cartas que se trocavam entre João Wesley, em Oxford, e a família no presbitério de Epworth. A sua mãe era, talvez, a mais adestrada em teologia do grupo, posto que a sua teologia nem sempre fosse do tipo evangélico.

João Wesley discute com a mãe a intrigada questão da predestinação. Ela lhe diz: “Essa doutrina, como mantida pelos calvinistas rígidos, é horripilante, e deve ser odiada; porque diretamente acusa ao Deus Altíssimo como sendo o autor do pecado”. Ela assevera que “Deus tem uma eleição, mas é baseada na sua presciência, e de modo algum derroga na livre graça de Deus, nem prejudica a liberdade do homem”. Anos depois, Wesley publicou as cartas da sua mãe na Arminian Magazine, e sem dúvida, eIas lhe ajudavam em formar a sua teologia, e a da Igreja que eIe fundou.

Mãe e filho ainda debatiam assuntos tais como a verdadeira natureza da fé, do arrependimento, da Trindade; as cláusulas condenatórias no credo de Anatanásio; o castigo futuro, a doutrina de plena certeza, etc., etc. Sobre o assunto da plena certeza Wesley, nesse tempo, teve idéias mais acertadas do que a mãe. Ela diz: “A certeza absoluta que Deus nos tem perdoado, nunca podemos ter até que formos ao céu”. Wesley respondeu: “Estou persuadido que possamos agora saber, se estamos na graça de salvação, visto ser expressamente prometido nas Santas Escrituras em recompensa dos nossos esforços sinceros”. Mas aqui ele vacila e perde - como perdeu durante os treze anos seguintes - a grande verdade da atestação pelo Espírito Santo, na alma crente, ao perdão dos pecados. Diz eIe: “Certamente somos capazes de julgar da nossa própria sinceridade;” e a estimação que a alma humana é capaz de fazer da sua própria sinceridade é, aparentemente, o único alicerce sobre o qual se pode construir a alegre certeza do perdão de pecados!

Wesley foi ordenado diácono aos 19 de Setembro de 1725. Pregou o seu primeiro sermão em South Leigh, vila pequena na vizinhança de Whitney. Mais tarde, passou o verão de 1726 em Epworth, pregando com o pai e seguindo os seus estudos.

Esta visita devia ter sido mui apreciada pelos pais. João Wesley teve sobre si as glórias de sua então recente eleição a posição de lente; para ele a vida começara fulgurantemente; era de caráter imaculado, e estava no limiar do mais sagrado cargo dado aos homens exercerem. O seu pai lhe escrevera, havia poucos meses, ao perceber nas cartas do filho uma nova nota de seriedade: “Se és o que escreves, eu e tu seremos felizes”. E agora o pai podia julgar que o filho era o que escrevera.

À lareira do presbitério, toda a noite, Wesley sentava-se com os pais, palestrando com eles sobre grandes temas. Ele anota no seu Diário a lista dos tópicos que essas palestras versavam: Como aumentar nossa fé, a esperança, o amor a Deus; a prudência, a simplicidade, a sinceridade, etc. Para uma mãe, com o espírito nobre e sério de Suzana Wesley, aquelas palestras à lareira com o seu douto e brilhante filho, que lhe viera da atmosfera da Universidade, e que manifestamente se achava ao limiar de uma grande carreira, deviam ter constituído um prazer indizível.

Mas Wesley, nesse tempo, era, no sentido claro e escriturístico do termo, cristão? Que ele responda por si mesmo. Em 1744 ele fez uma exposição das grandes verdades evangélicas que lhe mudaram a vida, e por cuja pregação, estava afetando as vidas de multidões. Então ele passou revista no tempo que acabamos de descrever:

“Passaram muitos anos, diz ele, depois de ter-me ordenado ao diaconato antes de convencer-me das grandes verdades que acima citamos; e durante todo esse tempo eu era completamente ignorante tanto da natureza como da condição da Justificação. Às vezes eu a confundia com a santificação, particularmente quando eu estive na Geórgia. Outras vezes eu tinha alguma noção confusa acerca do perdão de pecados; mas eu então tomava por verdade que a ocasião deste perdão devia ser ou na hora da morte ou no dia de juízo. Eu era igualmente ignorante da natureza da fé salvadora, julgando que significava unicamente um firme assentimento a todas as proposições contidas no Antigo e no Novo Testamento”.

Certamente foi um grau de ignorância teológica bastante notável numa inteligência tão clara e que havia sido tão bem educada. Mas a teologia do presbitério de •Epworth, não obstante seu encanto e seriedade, era mui defeituosa. E se bem que os homens são julgados, não por sua teologia, mas por suas vidas, entretanto, qualquer erro grave na interpretação da verdade divina tem de afetar profundamente a vida.

Quanto a Wesley, uma incessante inteireza assinalava, a cada passo a sua têmpera religiosa. Não queria incerteza alguma, nem ilusões suaves e fáceis. A religião como dom de Deus e como experiência humana era algo definido. Ele o possuia ou não o possuía; não era admissível qualquer meio termo. E com um sábio - se bem que inconsciente - instinto ele sujeitou a sua teologia à prova final. Lançou-a no alambique da experiência. Provou-a pelo toque vital: o seu poder em determinar e formar a vida. Gastou os dezenove anos seguintes neste processo; experimentando o seu credo com uma coragem infinita e com uma sinceridade transparente, e freqüentemente com sofrimentos e trabalhos, pelo áspero ácido da vida, até finalmente alcançar aquela concepção de Cristo e de seu Evangelho que elevou o seu espírito às regiões resplandecentes do gozo e poder.

É indubitável que, nessa época, Guilherme Law exercia uma influência mais profunda sobre Wesley do que o próprio Thomaz A. Kempis ou Jeremias Taylor. A Chamada Séria é um dos grandes livros da literatura cristã. Dr. Johnson disse a Boswell que ele havia, com pouco escrúpulo, falado contra a religião até ler essa obra de Law. Ele disse: “Peguei no livro, esperando achá-lo insípido, como são em geral tais livros; mas Law era demais para mim; aquele livro me fez pensar sinceramente”. Wesley, na tarde da vida, e depois de ter renunciado o próprio Law como guia religioso, ainda declarou que “não havia na língua inglesa qualquer obra que sobrepujasse A Chamada Séria quer na beleza de expressão quer na justiça e profundidade de seus pensamentos”.

Law existe vagamente na idéia popular como um místico; e é verdade que, como diz o Southey, “o homem que abalara tantas inteligências finalmente sacrificou a dele às divagações e rapsódias de Jacob Behmen”. Mas se o Guilherme Law, findou-se no misticismo, os seus primeiros anos não estavam envoltos nessa malfadada cerração (nevoeiro espeço, escuridão, trevas).

Não havia qualquer indício do misticismo nas aparências de Law, um homem corpulento, de rosto cheio, com as faces coradas, de passo pesado e de corpo sólido. Não há nada, tão pouco, da nebulosidade mística em suas primeiras obras. Seria difícil igualar a lógica de Law, na rigidez de fibra, na presteza e penetração com que descobre as falácias no argumento do adversário. Os seus livros, para o gosto moderno, perdem muito do seu encanto pelo hábito do autor em personificar todos os seus vícios e virtudes, rotulando-os com nomes latinizados – “Paternus,” “Modestus,” etc. Entretanto poucos escritores usam tão facilmente de inglês tão ressonante e expressivo como Guilherme Law. As suas sentenças picantes freqüentemente contêm um tempero de sátira digna de Swift.

Law, durante algum tempo, era o diretor espiritual da família do pai de Gibbon, o famoso historiador, e a este serviu de tutor. Existe um elemento humorístico nessa associação - a combinação do místico, que contemplava tudo no mundo material como sendo uma parábola do universo espiritual, e o cético árido, que tratou o mundo espiritual como irrelevante, ou como se não existisse. Entretanto, a manifesta sinceridade e consagração de Law ganharam a admiração do próprio Gibbon. Diz ele: “Law, achando, nem que seja, uma só faísca de piedade em qualquer espírito, logo a soprará em chamas”.

O efeito produzido pelo grande e poderoso escritor sobre Wesley é por este descrito assim:
“Tendo encontrado nesse tempo A Perfeição Cristã e A Chamada Seria, do sr. Law, não obstante ter-me escandalizado com muitos trechos de ambas; entretanto, por elas, eu me convenci mais do que nunca do grande comprimento, largura e profundidade da lei de Deus. A luz me veio à alma tão poderosamente que tudo parecia em nova perspectiva. Clamei a Deus que me ajudasse; resolvi como nunca antes, a não protelar o tempo de obedecer-lhe. E, por meus constantes empenhos para guardar a lei interior e exteriormente até onde me dessem as forças, eu me persuadia que seria aceito por Ele, e que eu estava então mesmo na graça da salvação.

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** (Esse texto corresponde ao capítulo VI, Em busca de uma Teologia, do livro "Wesley e seu século – um estudo de forças espirituais", volume I, páginas 68 a 78, Edição de 1916 publicada pela Typographia de Carlos Echenique, Porto Alegre, RJ).

OBS: Esse livro originalmente não usa parênteses. As notas explicativas dentro de parênteses são de iniciativa dessa edição on line do presente texto).

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