No primeiro artigo desta série, teci considerações sobre o sofrimento e as grandes perdas que atingiram o professorado da UNIMEP em função da crise que se instalou na Instituição como produto de uma nefasta intervenção do Conselho Diretor do IEP, sob a presidência de Luiz Alceu e do Colegiado dos Bispos Metodistas, que o apoiou.
Foi trágica a iniciativa. Ainda que por hipótese absurda, se tivesse que fazer o que se fez, o modo grosseiro como atuou a equipe interventora revelou completa incompetência administrativa, total desrespeito aos professores, funcionários e alunos e uma inabilidade tamanha, que se deu a impressão de que todos nós da comunidade éramos bandidos que deveriam a qualquer custo ser banidos da Instituição. Foi de fato deprimente e danoso aos professores que perderam muito.
Hoje quero enfocar como vi o que se passou em termos da Igreja Mantenedora em função do modo como a sua cúpula conduziu a questão. Faz-se necessário que eu esclareça, que sou membro da Igreja Metodista, gosto dela e faço parte daqueles que apesar de tudo, acreditam na proposta de educação da Igreja e desejo vê-la implantada. Portanto neste texto meu olhar é metodista, ainda que muitos contestem.
Em primeiro lugar a Igreja Metodista, vista na ação do Conselho Diretor interventor presidido por Luís Alceu e também pelo Colégio dos Bispos que o referendou, apesar de todas as negociações em andamento, são os grandes responsáveis pelos dois longos anos de sofrimento e tentativa de desmantelamento da Instituição. Estes órgãos não foram os geradores da crise mas os responsáveis pelo agravamento dela por a terem conduzido equivocadamente.
Por isto mesmo a Igreja Metodista, pela ação inexplicável de sua cúpula sofreu enorme e desnecessário desgaste não só em Piracicaba como no resto do País, perante a sociedade civil e o Estado Brasileiro, especialmente o MEC, onde a UNIMEP sempre mereceu tratamento respeitoso e o reconhecimento da seriedade como vinha operando.
Esta desconfortável condição em que se viu a Igreja, por culpa do Conselho Diretor e do Colegiado dos Bispos, estava eivada de graves equívocos praticados contra a comunidade interna unimepiana, que o judiciário brasileiro condenou de modo contundente através das sucessivas derrotas que impôs à intervenção, notadamente a justiça trabalhista.
Objetivamente, que prejuízos sofreu a Igreja Metodista, enquanto Entidade Mantenedora?
- Revelou-se completamente despreparada para lidar com o mundo do trabalho e em função desta limitação tem contraído enorme passivo trabalhista e mostrou-se incapaz de se relacionar bem com os sindicatos, associações existentes e com a classe trabalhadora.
- Viu colocada em questão a validade de seus documentos, especialmente o “Diretrizes para a Educação, O Vida e Missão e o Credo Social. É bom que se registre que estes Documentos já haviam sido assimilados pela Academia da UNIMEP e incorporados a seu cotidiano por insistência da própria Igreja.
- Paira no ar grande dúvida sobre o que se chamou “venda da UNIMEP”. A Igreja Metodista por meio do Colégio Episcopal está devendo uma explicação, pelo menos à Piracicaba, porque a UNIMEP não é só um projeto metodista, mas sua concretização se deve ao esforço conjunto de muitas organizações piracicabanas.
- Tem-se mantido um tipo de segredo em torno do assunto que compromete diretamente o Presidente do Colégio Episcopal, que ao que tudo indica manteve o tema preso a círculo muito restrito. Por que isto? A sociedade piracicabana espera uma explicação clara, que ponha fim as dúvidas levantadas.
- Ainda, a forma como se erodiu a valiosa marca UNIMEP, comprometeu todo seu rico passado de luta e que atingiu em cheio sua imagem de uma tentativa de projeto alternativo, respingou também e de modo muito forte na Igreja, colocou em questão seus propósitos missionários, pela imagem de Instituição referendadora de prática administrativa injusta e selvagem.
- O Diretor Geral de então insistiu em afirmar “o que faço aqui é cumprir ordens que recebi da Igreja”. De fato a Igreja ficou como referendadora dos atos administrativos injustos praticados pelo Diretor Geral, uma vez que nenhuma autoridade dela desmentiu essa afirmação feita por ele.
- Em menor proporção, creio facilmente explicável, porque nela não se vê má fé, mas tratada de maneira bastante equivocada, está também a questão da cobrança dos aluguéis à Instituição.
A pergunta que mais se faz hoje nos meios acadêmicos que frequento pode ser assim posta: Afinal, o que a Igreja Metodista quer com a UNIMEP? A prática dela comprometeu a Igreja? De que modo? O que há de verdade sobre a dívida, os aluguéis e a venda da UNIMEP pela Igreja?
O Colégio dos Bispos, com a aceitação, embora tardia, da renúncia do Diretor Geral seu deslocamento até Piracicaba para acolhimento do novo Reitor, o pedido de perdão pelo equívoco cometido, feito em alto e bom som no dia da posse dos novos dirigentes, na pessoa do Bispo Paulo Ayres, demonstrou vontade de resolver o problema no que foi muito feliz. Falta pouco para se chegar a bom termo e garantir a nova administração as condições necessárias para a reconstrução do projeto, hoje ainda esfacelado.
No próximo e último artigo sobre o assunto, pretendo examinar os prejuízos sofridos pela UNIMEP ao longo desse tumultuado período.
Elias Boaventura
Março/2009
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