IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
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Rio, 17/10/2009
 

A realidade na qual vivemos e realizamos a missão: de uma visão bíblica a uma visão nacional

Bispo Paulo Lockmann


 

“Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus. O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios. Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem” (Oséias 4.1-3).

“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Oséias 6.3).

1) Quando o mal se instala na vida do povo
As notícias são, em sua maioria, assustadoras neste ano de 2009. São dias difíceis: a guerra no Afeganistão mata todo dia dezenas de pessoas; a natureza está em revolta, chove onde raramente chovia, e não chove onde sempre choveu.

Deus nos fez mordomos da criação (cf. Gn 1.28-30) e nós nos tornamos opressores da criação. O aquecimento global atinge a todos. Continuando como está, em mais 50 anos, parte das cidades litorâneas, como o Rio de Janeiro, submergirá.. O mau uso da natureza, na maioria das vezes, não ocorre por parte das populações nativas. As sociedades tidas como “primitivas” têm uma relação muito mais respeitosa e preservacionista da natureza. O capital internacional é reconhecidamente depredador; o que vale é o lucro. Dentro em breve, não veremos mais somente a guerra pelas fontes de energia, especialmente o petróleo como é no Iraque, mas, sim, por fontes de água potável. Desperdiça-se e polui-se as fontes de água, os oceanos. Como exemplo, temos a Baía de Guanabara.

A violência presente nas relações institucionais e pessoais: governantes, membros do ministério público são ameaçados de morte, quando se recusam a compactuar com os diversos esquemas de corrupção, a maneira como se quita a oportunidade de educação, saúde, moradia, emprego, de mais de 40 milhões de brasileiros, os quais aprenderam a se contentar com uma bolsa de alimento. Tanta insensibilidade está gerando milhares de marginalizados, especialmente entre os jovens. Estes não são respeitados, educados, enfim, humanizados, mas tratados como animais, e muitos deles respondem como tal. É violência gerando violência.

Morre mais gente inocente na violência urbana contra a criança, as mulheres, os negros nos grandes centros no Brasil do que na guerra do Afeganistão.

E, agora, o que fazemos diante de tudo isso? Vamos aprender com Oséias, onde ele identifica a causa de Israel, no reinado de Jeroboão II, ter chegado a uma situação de opressão, mentira, corrupção e violência, na qual, guardadas as proporções, tem muito a ver com o quadro descrito acima.

2) A mensagem do profeta Oséias: denúncia e anúncio
Deixem-me dizer que, embora o enunciado seja ambicioso, reconheço ser meu espaço pequeno para traduzir tudo que nos ensina o profeta. Ficaremos com o que consideramos o essencial, para o nosso relatório.

O profeta Oséias(1) era originário do reino do Norte – Samaria; foi contemporâneo de Amós, pois começou a profetizar no período de Jeroboão II; seu ministério continuou após Jeroboão II. Sua indignação contra as classes dirigentes de Israel é tão dura quanto a de Amós (2). “O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios.” (Os 4.2), como em Amós: “Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta.” (Am 5.12). Nesse conjunto de semelhança entra a linguagem simbólica própria, quando descreve o seu casamento com uma adúltera, e usa a infidelidade da sua esposa para ilustrar a relação de Israel com Deus, marcada pela infidelidade do povo para com o Senhor (cf. Os 3.1). Há, no entanto, na profecia de Oséias, a possibilidade sempre desejada por Deus, ou seja, do arrependimento e conversão do povo a Deus. “Volta, ó Israel, para o SENHOR, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído...”

Dentre as transgressões do povo de Israel contra o Senhor e seus mandamentos, estão:

a) “...a terra se prostituiu, desviando-se do SENHOR” (Os 1.2c).
Quando o profeta fala da prostituição de Israel, não considera a exclusividade de sentido que o termo tem para nós, envolvendo a sexualidade. No sentido profético e bíblico, é muito mais: é desviar-se dos propósitos de Deus; no caso, o povo afastara-se da aliança com Deus, quebrara seus mandamentos (3), por isso a descrição de prostituir-se e desviar-se. Devemos sempre lembrar que o Senhor, o Deus dos profetas, é um Deus ético (4). Assim, nós, hoje, quando quebramos os mandamentos de Deus, estamos nos prostituindo, nos desviando de Deus. O mundo, hoje, a terra, está em prostituição, desviada de Deus, por isso há tanta falta de justiça, e há a banalização da vida, etc. ...

b) “...Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus.” (Os 4.1).

b.1) “... não há verdade ...”
Esta é a palavra do Senhor, como no capítulo 1.1, aqui, não é um narrador, é uma nova parte do livro, onde Deus fala ao povo: “...vós, filhos de Israel”. Aqui, verdade não é no sentido grego de um conceito, onde se encontram o pensamento e a realidade; essa é uma compreensão ocidental. No mundo bíblico, emmet – verdade, da raiz mn, de onde vem amém, é fidedignidade, coerência entre palavra e ação. No judaísmo rabínico, verdade se confunde com a Palavra de Deus.

A verdade é tudo que não havia em Israel em tempos de Oséias. Havia engano, se celebravam cultos pomposos a Deus, mas Deus não estava presente; afinal, o culto escondia a quebra constante do mandamento: “Não dirás falso testemunho contra teu próximo” (Ex 20.16). Hoje, nós ouvimos mentiras dos políticos, dos comerciais de televisão, e até no meio religioso há mentiras sendo praticadas, como, por exemplo, Igrejas que prometem prosperidade num ato místico e mágico. Deus está em contenda contra a nossa terra, também, por causa da mentira que entre nós se instalou.

c) “... nem amor ...”
A que conceito de amor se referia o profeta Oséias, quando diz que Deus está em contenda com a terra, porque não há amor? O primeiro termo é o verbo aheb, que pode significar o ato sexual, o amor conjugal; o amor fraternal e entre amigos é o verbo traduzido maiormente na tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, pelo termo ágape ou verbo agapao. O amor de Deus é inclusivo e, também um mandamento (cf. Dt 6.5). No caso de Oséias, o amor do Senhor por seu povo é o fundamento da Aliança. Israel e o Senhor são inseparáveis; por isso, o uso da união do profeta com uma adúltera. Essa relação em amor foi profanada pela esposa infiel – Israel, que negou o amor (5).

Assim, podemos dizer que o sentido de amor que Oséias dá, fala da relação entre o povo e Deus, mas não só, pois os discursos proféticos mostram que a ausência de amor, temor de Deus, traz uma relação de indiferença, insensibilidade para com o próximo, e, neste caso, o termo que o profeta usa mais frequentemente é hesed, cujo significado é mais abrangente, traduz amor, fidelidade, generosidade, e até misericórdia. No caso de Israel, a ausência do amor gerava opressão do pobre (cf. Os 4.3), da viúva, enfim, aumentava o número dos marginalizados.

d) “... nem conhecimento de Deus ...”
As expressões do verso 6 do capítulo 4 de Oséias ilustram e explicam o porquê da ausência de conhecimento de Deus: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei. (Os 4.6).

Ah! Quão distante do conhecimento de Deus está o mundo presente! É como diz o profeta: “Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem.” (Os 4.3). A terra brasileira está de luto porque a natureza está sendo assassinada, as matas amazônicas agonizam. A vida de crianças, a vida da natureza está ameaçada: Quem as salvará? Nós temos a mensagem, o mandado missionário, as pedras já estão clamando.

e) “... O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote ...” (Os 4.6a).
A minha, a tua, a nossa responsabilidade é grande nisso tudo que está acontecendo com o nosso mundo. Afinal, afirmamos como Lutero: “O Sacerdote Universal de todos os crentes.”

Nós somos chamados para fazer diferença no mundo. A sentença do profeta em seu contexto incidia sobre os líderes religiosos de Israel. Hoje, também incide. Mas, também sobre toda a Igreja.

A acusação do profeta foi clara: “... porque rejeitaste o conhecimento (de Deus), também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim ...” Quem não deseja cair na rejeição de Deus, precisa restabelecer a dignidade do altar, da intimidade com Deus, de uma teologia bíblica, comprometida, primeiro, em conhecer e ouvir a Deus. Não dando ouvidos aos desejos e cobiças do nosso próprio coração, crescendo no amor e conhecimento do Senhor. Aqui, também, a mensagem de Oséias é o caminho da bênção: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3).

3) O que o profeta anuncia?
Nem tudo é denúncia do pecado e condenação na profecia de Oséias. Há várias declarações de amor, de misericórdia, de esperança, de perdão. Na verdade, as denúncias do pecado são atos de amor e advertência, que visam ao arrependimento e à conversão do povo. Desse modo, a pregação do profeta, e também a nossa, hoje, devem, junto à denúncia clara, audível, sem subterfúgio, levar o povo ao arrependimento e ao reencontro com Deus.

a) No primeiro capítulo: “Disse o SENHOR a Oséias: Põe-lhe o nome de Não-Meu-Povo, porque vós não sois meu povo, nem eu serei vosso Deus. Todavia, o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que se não pode medir, nem contar; e acontecerá que, no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo” (Os 1.9-10).

b) No segundo capítulo, referindo-se à sua mulher adúltera: “Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E lhe darei, dali, as suas vinhas e o vale de Acor por porta de esperança (Os 2.14-15).

c) No breve capítulo 3: Depois, tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao SENHOR, seu Deus, e a Davi, seu rei; e, nos últimos dias, tremendo, se aproximarão do SENHOR e da sua bondade.” (Os 3.5).

d) No capítulo 6, há um notório convite ao retorno à intimidade com Deus, a receber dele a cura: “Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele (Os 6.1-3).

Para Oséias, o restabelecimento da comunhão com Deus trará sobre a terra a justiça: “Então, disse: semeai para vós outros em justiça, ceifai segundo a misericórdia; arai o campo virgem; porque é tempo de buscar ao SENHOR, até que ele venha e chova a justiça sobre vós.” (Os 10.12).

Atentemos para as lições de Oséias, e construamos um tempo de esperança e de cura para nossa terra e seu povo.

4) A realidade mundial e nacional
As mudanças são inéditas em todo mundo atual porque elas não são mais localizadas em países, mas alteram as relações humanas e sociais em todo o planeta. A internet, a televisão, a informática aceleram as mudanças.

A vida está sendo profundamente afetada através da biologia, do genoma isolado. Tudo graças à informatização, à aceleração das descobertas científicas. O desenvolvimento acelerado colocou nas mãos de poucas empresas transnacionais influência e poder de controle sobre 80% dos meios produtivos. Cada vez mais a globalização torna-se uma ideologia, sempre mais e mais se encolhe o Estado, em benefício do mercado que ocuparia o controle de todos os setores, através dos grandes oligopólios (grandes grupos econômicos multinacionais).

O dinheiro, o lucro, adquiriram caráter divino e despótico, pois decidem quem deve viver ou morrer. A competitividade é a eliminação definitiva da compaixão. Ela comercializa o individuo, pois o que importa é o lucro. O individualismo leva à coisificação do outro, e este passa a ser um degrau em que posso pisar, para subir mais um pouco. O resultado disso traz o fim da ética e da política. A ética adquire a característica de “os fins justificam os meios”. A política, que fora a ação em defesa dos interesses comuns do povo, passa a ser ações individuais, em meu benefício e do grupo a mim associado. O argumento é que quem não concorda com isso, com a globalização, está ultrapassado, está dando soco no vazio.

Há exatamente um ano, o mercado entrou em crise. Bilhões de dólares que inflavam os valores das ações desaparecem. Uma recessão trouxe desemprego, outros bilhões foram dados por governos a bancos e indústrias, para não falirem. Dinheiro que não havia para a saúde, e mesmo para salvar da fome milhões de pessoas na Ásia, África e América Latina, apareceu. Que grande contradição!

Toda essa ideologia condena definitivamente o ser humano, cada vez mais pessoas ficam à margem, empobrecem, e cada vez menos pessoas controlam as riquezas do mundo. Neste momento, os pobres da periferia tentam invadir os países ricos, o mercado, em busca de uma vida melhor. Com tristeza, vemos jovens arriscar a vida para chegar ao Primeiro Mundo.

Diante disso, qual é a agenda da Igreja? Queremos ser uma Igreja Missionária. Uma Igreja de Discípulos e Discípulas.

Junte a este ideal, dados objetivos postos pela mídia há poucas semanas: - O Globo de 22 de julho de 2009 noticiou: “ Brasília. Um estudo divulgado ontem, com base em dados do Ministério da Saúde e do IBGE, estima que 33.504 jovens de 12 a 18 anos serão vítimas de assassinatos entre 2006 e 2012, caso as taxas de 2006 permaneçam inalteradas”. A pesquisa considerou 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Trata-se de um verdadeiro genocídio. Só para comparar, no Oriente Médio, região conflagrada em constante guerra, a previsão de mortos no mesmo período, não chega a 1/3 dos jovens que poderão morrer violentamente no Brasil. Entre as 25 cidades das 267 onde haverá mais mortes de adolescentes – Duque de Caxias está em 7º lugar, e o Rio de Janeiro em 21º. O número de mortos para cada 1000 jovens em Duque de Caxias em 2006 foi 6.07, a projeção é que morrerão, se nada for feito até 2012, em Duque de Caxias 683 jovens, e no Rio de Janeiro 3.423, nestes 6 anos. As causas mais comuns de mortes são homicídios 45%, e acidentes 22%. A nossa presença como Igreja oferecendo reforço escolar, sendo espaço para cursos de agências do Governo são formas efetivas de diminuir a violência contra crianças e adolescentes, junto a estes serviços um trabalho intenso de evangelismo e discipulado.

- O Globo do domingo, 13 de setembro de 2009, sumariamente noticiou (ponho apenas resumo dos termos constantes na 1ª página):

a) Brasil não garante soberania do pré-sal com pacote bélico
Os últimos gastos militares do governo federal – incluindo um submarino nuclear e a promessa de comprar 36 caças – estão longe de garantir a soberania brasileira sobre as reservas petrolíferas do pré-sal, informa CHICO OTAVIO. Parte delas fica em águas mais distantes da costa. Até outubro de 2008, pelo menos 40 nações, entre as quais Estados Unidos e Venezuela, não haviam assinado a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que fixa direitos de um país em sua Zona Econômica Exclusiva – faixa de 200 milhas náuticas além do mar territorial.

As jazidas de petróleo e gás nas camadas mais profundas da costa do sudeste brasileiro, não estão plenamente garantidas e podem ainda gerar conflitos, frutos da cobiça das grandes capitais internacionais. Isto sem falar de todo o debate político-econômico que está instalado na nação, os bilhões e bilhões de dólares que pertencem ao povo brasileiro correm o risco de fugir das nossas mãos, não gerando desenvolvimento, que se reflita, em saúde, educação, moradia e emprego para todos.

5) A Realidade da Igreja: Corpo de Cristo
Além disso, como Igreja, nos deparamos com uma competitividade total no meio religioso, nossa desordem social tem gerado uma desordem religiosa, onde a pergunta “Quem somos nós?” É vital para definir o que queremos fazer a esta conjuntura, ou mesmo: qual a razão da nossa existência? É importante deixar claro quem somos e para que existimos. E tal definição deve ser, acima de tudo, conhecida da comunidade interna. Todos(as) os(as) metodistas precisam saber e memorizar essa lição.

O momento em que vivemos está profundamente permeado pelas forças do mercado, em especial, o mercado globalizado. O individualismo justifica a indiferença. A busca do lucro a qualquer preço passa a ser parte fundamental da ideologia dos grupos religiosos de “sucesso”. A exclusão social das multidões, sem acesso ao mercado, ao lado da valorização do sucesso pessoal de quem sabe competir ou gozar das vantagens do oportunismo agravam a violência social. O quadro religioso se tornou confuso com a emergência dos novos critérios, distantes dos valores éticos fundados na valorização da vida, da solidariedade e do amor.

A Igreja de Cristo vive dramaticamente esse momento. Ao mesmo tempo em que se constata uma grande movimentação religiosa, com uma constante busca em Deus, na verdade a maioria busca o transcendente, o sobrenatural, o místico e o mágico. Tudo isso fez com que a religião se tornasse o refúgio do povo. Essa situação favorece o despontar de movimentos, os mais diversos, no seio das Igrejas e da sociedade. O religioso passou a ser produto de mercado, pois a lógica que nos move é a do consumo. Líderes religiosos de toda ordem abusam do messianismo, da magia, do misticismo extremado, afetando, mesmo, a verdadeira natureza da Igreja e o sentido da fé. A sociedade contemporânea parece ter se incompatibilizado com o caminho da cruz. No meio de toda essa situação, corremos o risco de perder a configuração de nossa identidade e o sentido de nossa finalidade – a vocação para a qual fomos chamados(as). Por isso, precisamos resistir a todo processo de massificação e manipulação da experiência religiosa, por meio de maior cuidado pastoral e, acima de tudo, dinamizar nossa vivência eclesial, priorizando o discipulado e o ensino na Escola Dominical, elemento fundamental na nossa identidade metodista; mas, dar, também, especial atenção à preparação dos membros para a vida e a missão da Igreja.

6) O desafia missionário

A missão da Igreja e do ministério pastoral
Todos conhecem o que os Cânones dizem sobre a Missão da Igreja Metodista em seu Art.3º “ A missão da Igreja Metodista é participar da ação de Deus no seu propósito de salvar o mundo. Parágrafo único – A Igreja Metodista cumpre a sua missão realizando o culto de Deus, pregando a Sua Palavra, ministrando os sacramentos, promovendo a fraternidade e a disciplina cristãs e proporcionando a seus membros meios para alcançarem uma experiência cristã progressiva, visando ao desempenho de seu testemunho e serviço no mundo.

Diante disto a Igreja Metodista formulou sua visão já aprovada em Concílio: Nossa visão missionária como Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro é:
“Levar o Evangelho para cada pessoa, um grupo de discipulado para cada rua, uma igreja em cada bairro, povoado e /ou município”, para se “ganhar 1 milhão de discípulos e discípulas até o ano de 2014.”

Parece que estamos exagerando? Não. Exagerando está o inimigo destruindo milhares de adolescentes, como vimos na pesquisa do Ministério da Saúde, fora crianças e jovens acima de 18 anos.

Como liderança no Concílio Mundial Metodista, tenho visto como Deus tem multiplicado a Igreja Metodista em vários países do mundo, a Igreja Metodista da Coréia tinha em 1970, 71.500 membros, hoje tem 1.802.000, isto em 39 anos. Mas no início dos anos 90 já haviam passado de 1 milhão de membros. E assim por diante ocorreu com África do Sul, Nigéria, etc. Por que o Metodismo no Rio de Janeiro estaria condenado a ser uma Igreja pequena? Alias já não somos mais uma Igreja pequena. Só nos últimos cinco anos organizamos, entre novas igrejas e campos missionários, 112 novas frentes de trabalho, quase o mesmo número de igrejas que tínhamos em 1988: 130 igrejas locais há 21 anos.

Assim, nós estamos no caminho, tendo o ministério de Jesus como nossa Referência. Afinal Jesus era o Filho de Deus, e um missionário.

“E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” (Mt. 9.35-38)

Mas também o ministério da Igreja Primitiva nos desafia e motiva, somos herdeiros do Pentecostes, e da Igreja que ali nasceu, pregava com intrepidez, como Pedro fez:

“Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas”. (At. 2.36-41)

Olhando a história do Metodismo, João Wesley deixou muito claro por que Deus havia levantado os metodistas: “Não formar uma nova seita, mas reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a terra”. Neste sentido é que fortalecemos nossa identidade cristã e wesleyana. Para cumprir a nossa nobre missão deixada clara por Jesus em duas grandes comissões à Igreja:

“Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”.Mc. 16.14-18)

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. (Mt. 28. 18-20)

Não temos de inventar. Basta obedecer. A bênção vem com nossa submissão e obediência, lembre-se de Ezequiel, a única maneira de transformar o Brasil de um vale de ossos secos em um exército de Deus numeroso é:

“Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos? Respondi: SENHOR Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o SENHOR Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o SENHOR. Então, profetizei segundo me fora ordenado; enquanto eu profetizava, houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles; mas não havia neles o espírito. Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso”. (Ez. 37. 3-10)

Dentre os ministérios da Igreja, Deus constituiu o ministério pastoral como guia e servo do rebanho, a Igreja de Deus.

O ministério pastoral é essencial à vida da Igreja, Ele foi instituído pelos apóstolos como um modo de dar forma e unidade à Igreja, para que todo serviço refletisse o próprio ministério de Cristo. O ministério pastoral da Igreja Metodista tem uma de suas formas na ordenação de pastores e pastoras e constituição da Ordem Presbiteral.

“Wesley compreendeu que, ao lado dos ministérios leigos, havia um ministério especial, o da ordem presbiteral, que carregava pesadas responsabilidade a respeito do “depósito da fé”, da unidade da Igreja, da transmissão do carisma da ordem (ordenação), e que essa ordem era a real e autêntica sucessora apostólica. Por isso mesmo, era bastante exigente para com os pastores e exigia deles, mais do que quaisquer outros, senso da ordem, da disciplina eclesiástica, do compromisso com o corpo eclesial como um todo” (As Marcas Básicas da Identidade Metodista, Biblioteca Vida e Missão, p. 730.

Ser pastor hoje é um desafio, vimos a complexidade da sociedade contemporânea. Há um apelo da terra, um gemido por homens e mulheres de Deus, que denunciem o pecado e anunciem a graça revelada em Jesus Cristo.

Moody narra um testemunho sobre um velho pastor que é uma realidade sentida entre nós. Vejamos o que ele diz: “Lembro-me também de um outro velho pastor, que me disse certa vez: Sofro de doença no coração. Não posso pregar mais do que uma vez por semana”. Um colega o estava ajudando, pregando no seu lugar e fazendo visitas. Ele ouviu falar dessa unção renovadora e disse: “Eu gostaria de ser ungido para o meu sepultamento. Antes de partir, gostaria de ter o privilégio, mais uma vez só, de pregar o Evangelho com poder”. Ele orou, então, para o Senhor enchê-lo com o Espírito.

Encontrei-o, pouco tempo depois, e ele me contou: “Tenho pregado oito vezes por semana, em média, e houve muitas conversões durante todo esse tempo”. O Espírito veio sobre ele. Não creio que o problema de saúde que tivera tenha sido resultado de muito trabalho; pelo contrário, foi por ter tentado funcionar sem óleo, como uma máquina sem lubrificação.

Não é o muito trabalho que leva os pastores ao esgotamento; é o esforço de trabalhar sem o poder do Espírito.

CITAÇÕES:
1 - Achroyd, P.R. – Peakes Commentary on the Bible. Nova Iorque: Thomas Nelson and Sons Ltd., 1962. p. 603.
2 - Sicre, José Luis – Profetismo em Israel. Petrópolis, Vozes, 1996. p. 235.
3 - Born, A. Van – Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 1.223.
4 - Brow, Colin – O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova , 1981. p. 194.
5 – Born, A. Van – op. cit., p. 60.
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OBS: Esse texto é a parte introdutória do documento episcopal "Síntese do Relatório do Bispo Paulo Lockmann para as reuniões distritais de delegados(as) ao XXXIX Concílio da I Região Eclesiástica" publicado em nosso site (http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/SÍNTESE-DO-RELATÓRIO-DO-BISPO-PREPARADA-PARA-O-PRÉ-COPNCÍLIO.pdf).

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