Para aquele que crê em Jesus Cristo como Senhor e Salvador de sua vida, a comemoração da passagem de um ano que termina para outro que começa não tem o mesmo significado que se vê nos fogos de artifício, nos muitos litros de champagne derramados, pelas festas faraonicamente luxuosas e pelas roupas brancas ou douradas ou rosadas, que segundo a cor prometerão para o ano que entra paz, amor ou dinheiro.
O cristão é aquele que crê em Jesus Cristo e se sabe habitado por seu Espírito. Portanto, sabe que essa coisa chamada “tempo”, depois que o Espírito foi derramado sobre toda a carne e sobre toda a história não se prende mais à contagem cronológica que os seres humanos vêem passar com tanto medo e pavor.
Para nós cristãos em quem o Espírito Santo habita, o tempo não é mais um tempo linear (kronos), mas um kairós (tempo de Deus) que encontra só em Deus sua unidade de medida. Nesse sentido, não se trata mais de um tempo submetido à caducidade (2Cor 5:17 – “Se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram e tudo se fez novo”)
Por isso, as coisas não mais podem ser medidas com os parâmetros temporais de antes. Em Cristo não somos mais a brevidade, a caducidade, a transitoriedade humana da velha vida desligada e rompida de Deus. Ao contrário, agora somos templo do eterno Espírito Santo de Deus, somos casa da eternidade divina, somos herdeiros e membros e cidadãos do Reino eterno de Deus. Nossa vida não pode mais ser medida apenas em dias, semanas, meses e anos.
Paulo adverte severamente os gálatas sobre isso, já que estes ainda se regiam: 1) dependentes de ritos (Gl 6:15 – “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incurcusição, mas o ser nova criatura) e por
2 por novilúnios, meses , anos, festas temporais (Gl 4:8-11 – ler este texto).
Em Cristo e por Cristo, esses ciclos cronológicos foram superados. O cristão não apenas espera um novo céu e uma nova terra (2Pd 3:13 – “nós porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça), mas já vive de fato, agora, uma nova ordem de coisas, uma nova criação (onde o 1º é o último, o que se humilha é exaltado, o que ri vai chorar e o que chora sorrirá). “As coisas antigas já passaram... Deixando/esquecendo as coisas que para trás ficam prossigo para o alvo da soberana vocação).
E embora este novo esteja ainda sendo dolorosamente parido (cf. Rom 8, 21 ss – em que a criação geme com dores de parto esperando pela hora da plena redenção), na verdade já está acontecendo concretamente para aqueles que vivem em Cristo, aqueles para quem já chegou a eternidade e que caminham a passos largos para a plenitude dos tempos. É o Espírito que realiza e atesta todo este novo, estas coisas tornadas novas, fazendo de todos novas criaturas, novos homens e mulheres, o novo povo, a nova família, as novas relações de amor, ainda que o ser humano exterior envelheça e esteja submetido à erosão/corroção/corrupção do tempo.
O Ano Novo, portanto, carrega em seu bojo esta mensagem: as coisas antigas se foram e tudo que vivemos já está penetrado pelo novo trazido pelo Espírito Santo. A passagem do Ano está incluída neste novo permanente que perpassa todas as coisas e não permite que nada seja tragado pela erosão que destrói, estraga e faz decair.
A nossa fé não permite portanto, que nos detenhamos – como os gálatas que Paulo admoesta – numa divisão do tempo que nos faz permanecer obcecados pela passagem dos dias e pelos períodos que se sucedem. Ela nos diz – isso sim – que o definitivo já aconteceu. O Novo Testamento não cessa de proclamar que em Jesus Cristo Deus disse Sua Palavra definitiva, que nunca será superada por coisa alguma que possa novamente ser dita.
Assim também, do momento em que o Espírito do Filho foi derramado, as coisas velhas e caducas se foram definitiva e permanentemente. E o novo se instalou para sempre em meio a nossa história, fazendo-a sempre nova, renovada, diferente, surpreendente.
A celebração do Ano Novo, portanto, tem esta conotação. Olhamos o ano que passou e fazemos um balanço de nossas vidas. E olhamos para o que começa como símbolo daquilo que nossa vida sempre é e nunca deixou de ser: a novidade da presença de Deus que permanentemente, por seu Espírito, faz novas todas as coisas. A cada passagem de ano devemos perceber o mais importante da nossa novidade de vida: Deus sempre cumpre suas promessas. E cumprindo-as, é sempre Novo, sempre Maior, sempre mais Amoroso e Generoso. Deus está sempre conosco, e sempre de forma nova, diferente, pois sua Palavra, que é seu Filho Jesus Cristo, não cessa de redimir a história e seu Espírito não cessa de atualizar para todos os tempos e culturas essa redenção e essa salvação.
Dias, meses, anos, séculos, etc... devem, portanto, ser instrumentos e meios, de quantificarmos cronologicamente a história humana, devem ser instrumentos e meios para fazermos planejamentos e balanços, mas não podem ser um fim em si mesmos, não podem ser tratados por nós de modo mágico.
Pois a novidade de nossa vida não veio, não vem nem virá nunca do tempo que passa, da passagem de ano novo.
Recebemos a novidade quando nos reconciliamos com Jesus. Ontem foi tempo de novidade, hoje é tempo de novidade, e amanhã, e em cada um dos 366 dias de 2010 será dia de novidade.
Se com o fim do ano termina o ano contábil, o ano letivo, etc... todo dia é dia de novidade, de fidelidade, de avaliação e de manutenção/realização de propósitos que nos façam crescer na graça eterna do eterno Deus. Nossa vida não pode ser marcada por ritos humanos como este de passagem de ano, mas pela graça imensa de Deus que não se confina nem reconhece tempos ou épocas.
Celebremos, portanto, o Novo que sempre esteve presente entre nós, mas que na passagem do Ano sentimos de forma mais forte. FELIZ ANO NOVO!
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