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Vida Cristã
Rio, 14/4/2010
 

A beleza das tempestades

Elias Boaventura


 

Aprecio uma tempestade com relâmpagos, trovões, raios e aguaceiro. A tempestade me acalma e me dá segurança.

Creio que aprendi gostar dela desde minha infância como morador rural. Éramos, eu e meus irmãos, capinadores e apanhadores de café em área próxima de nossa residência e assim que a chuva começava ouvíamos a esperada ordem do pai: meninos venham para casa, vem chuva forte e perigosa.

Juntávamos rapidamente os “cacumbus”, se houvesse tempo, colhíamos espigas de milho, e marchávamos rápidos para nosso aconchego, à espera de que a chuva fechasse o tempo.

A chuva desabava e tinha início a um gostoso cerimonial. Todos os espelhos eram cobertos, ninguém pegava em garfos, facas, ferros ou ferramentas, exceção feita às panela no fogão de lenha.

No cair da tarde, em uma grande cozinha de chão batido com um bom fogão de lenha, tinha início a mais gostosa reunião familiar acompanhada de inhame, cará, milho verde e batata doce, assados, servidos com chá de folha branca, mercurim ou de laranja.

Rolavam as histórias dos pais, às vezes músicas com uma pequena sanfona, até que viesse a ordem para irmos dormir com a mesma roupa que vínhamos do trabalho.

Aguaceiro, relâmpago, trovões se tornavam aconchegantes e passavam a ser sinônimos de carinho e segurança. Nós rezávamos para que as tempestades viessem principalmente na parte da tarde. Era bom demais.

Mais tarde, já moços, conheceram um amigo que morava em uma gruta, toda de pedra, em grande área de mineração. Narrei-lhe minha experiência e ele com entusiasmo me convidou para viver uma tempestade na fazenda dele e lá fui eu com ele, em dia que a tempestade se anunciava baixar.

A chuva caía aos cântaros e assim que lá chegamos ele mostrou-me uma janela perto de um para-raio e aconselhou-me. Aqui você poderá ficar mais ou menos tranqüilo. Quando a tempestade ficar brava não se assuste e se você tiver coragem vai contemplar algo indescritível.

Duas horas depois o fenômeno começou. Estrondosos e assustadores trovões que faziam tremer a própria casa, relâmpagos cruzavam os céus como se anunciassem uma catástrofe, as enxurradas davam-nos a idéia de cachoeiras e os vendavais sacudiam a envergavam as árvores de modo ameaçador e de extraordinária beleza.

Tentei, apavorado, afastar-me da janela, mas ele me constrangeu dizendo não faça isto, não deixe o medo te cegar, contemple esta beleza da tempestade, ela é muito menos perigosa que a vida e sem a maldade dela.

Aceitei a exortação e retornei para contemplar aquela fúria da natureza, que de fato era um lindo espetáculo e uma decisiva manifestação de força da ordem natural.

Na manhã seguinte o tempo estava claro, as aves e as plantações pareciam celebrar a varredura que os vendavais e as chuvas fizeram na atmosfera e podia-se respirar a gostosa aragem do ambiente, confirmando o que por lá se dizia, depois da tempestade vem a bonança.

Não sei se em função disto, aprendi a gostar e ver positivamente as tempestades, as crises e as perdas da vida. Tenho mesmo a tentação de entender a existência como uma seqüência de grandes perdas, semelhantes às tempestades que corretamente gerenciadas se transformam em gratificantes vitórias.

Hoje, tenho que admitir que os momentos de grandes crises em minha vida foram aqueles em que mais cresci e mais me aproximei de mim mesmo o que me fez até criar certo receio dos períodos de calmaria.

Deve ser um possível defeito de formação, mas confesso que tenho orgulho dos momentos críticos e tensos de minha vida e tenho reclamado das pessoas que organizam meu currículo pela insistência deles em esconder minhas tempestades e fracassos vividos, dos quais me orgulho tanto.

Aos meus jovens alunos tenho advertido, que tomem muito cuidado com os momentos felizes, porque quase sempre são neles que escorregamos e rolamos ribanceira abaixo.

Vista a vida de um lugar seguro, cada um pode viver as tempestades naturais, sociais, ou de qualquer natureza, que não só são lindas e agradáveis aos olhos como também ótimas para levar-nos a um encontro conosco, a sentirmos mais de perto nossos limites e possibilidades e perceber a existência do outro.

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