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Rio, 17/9/2010
 

Unimep fora do tempo

Elias Boaventura


 

Tenho a sensação que na UNIMEP perdemos o sentido em relação ao tempo. Digo isto porque percebo em nosso convívio que não temos tempo que nos agrade, se não vejamos.

O nosso passado de UNIMEP não é aceito e não o queremos mais em nosso presente, diz um professor.

“Para uns, período maravilhoso, de grandes vitórias de retumbante manifestação de compromisso e criador da verdadeira identidade da Instituição que a sustenta e a energiza para enfrentar os reveses.

Para outros, período de insensatez, de imprudência, de desvios das reais finalidades da Instituição, que se viu mergulhada em desatino e que a compromete até nossos dias pela rejeição que o marcou.

Para uns e para outros, trata-se de um tempo que não nos parece nosso, que até nos inibe e não nos é possível nem desejável repeti-lo, porque não é mais um tempo nosso.”

Nosso passado unimepiano, equívoco ou acerto, foi um tempo que passou, mas que nos continua julgando e pesando sobre nossos ombros a nos dizer: este passado não ficou e não passa, ainda que não o queiramos nos empurra para o futuro.

De fato, nosso passado unimepiano constitui exortação difícil de ser assimilada por ser muito rigorosa. Por mais que queiramos esquecer ele está sempre desabando em nossas cabeças, causando-nos intolerável desconforto por ser uma construção nossa que queremos recusar e esquecer.

Portanto, o passado não é mais um tempo para nós, nem porto onde possamos ancorar. Não é lugar para retornarmos. É um legado que nos desafia. Mais do que uma saudade, é uma convocação de esperança. Ele nos deixa nus diante do presente e nos remete a um futuro de esperança.

Realmente nosso passado não é tempo para se viver no presente. O mundo mudou e tudo ao nosso redor já está contaminado pelo presente e pelo futuro. Será que o passado não influencia o presente e o futuro?

Nosso passado realmente não nos oferece colo, ao contrário, continua a nos desafiar no sentido de entendermos o presente e com esperança caminharmos para o futuro, que embora incerto, nos diz – vale a pena continuar a luta.

Tão ou mais incomodador de que nosso passado é o aflito presente que vivemos, que pode ser nossa criação, mas não é nossa opção. É filho pródigo.

Este tempo vai aos poucos nos minando. Estamos cabisbaixos nele e tentando caminhar, mas não temos rumo. Rigorosamente corremos o risco de estarmos morrendo com ele.

Passando por nossos lindos corredores quase sempre só nos deparamos com a angústia, a insegurança e a ameaça estampadas nos rosto de muitos. Nosso entorno é inquietante.

Ouve-se muito, “estou com medo de ser demitido, mas até que isto seria bom porque não aguento mais meu ambiente de trabalho, com o relacionamento tenso a que se chegou. Estou partido, precisando ficar e com vontade de sair. Estou triste, estou doente com a sensação de quem se encontra na maca, no corredor de um hospital com a notícia de que o médico faltou”.

Rigorosamente não queremos este tempo porque ele nos maltrata e se aproxima de nós, quase sempre, como um torturador impiedoso a minar nossas energias e a nos destruir.

Alguns começam a dar sinais de não suportar o peso de tanta aflição.

Muitos abandonaram a luta e foram se ancorar em outras plagas. Outros ainda permanecem apesar da sofreguidão, dos sustos das grandes ondas, mas já ameaçam a abandonar o barco e gritam – “se ficarmos onde estamos vamos nos afogar, temos que sair daqui e desta situação urgentemente ou vamos morrer todos juntos. Não podemos ficar onde estamos”.

A fala de um companheiro revela o peso de nosso momento.

“Neste tempo de aflição, que não queremos como nosso tempo, vivemos um pesadelo, um desconforto terrível, onde não é permitido sonhar. Parece que estamos irremediavelmente a nos sucumbir.

Este agora não é o tempo que imaginei estar construindo. Tempo estranho, estéril e sofrido não o queremos para nós”.

Olhando o entorno desde o olho do furacão considero nosso presente difícil, muito sofrido, mas também tempo de reconstrução, de esperança, que nos pede para não desprezarmos as conquistas do passado, mas olharmos para as oportunidades que nos apresenta o futuro.

O presente nos diz ainda – Vale a pena prosseguir e não deixar escapar o sentido da luta atual, embora a caminhada nos seja difícil.

Existe razão para os que pensam assim?

Neste momento parece que sim, mas nosso futuro é uma construção que tem laços conosco e apesar da escuridão em que estamos vivendo finca seus pés no presente e clama por nós.

Estamos condenados a marchar e não há alternativa até porque ...
...“Numa terra de fugitivos aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo”.

A convocação é para que arrumemos a casa, abramos as janelas e respiremos novos ares de esperança.

A arrumação da casa é dolorosa, mas temos que fazê-la, despindo-nos de nossas intransigências mórbidas, de nossos doentios dogmas que nos travam e nos tornam lentos em demasia.

Apesar do cansaço não podemos parar sob pena de sermos atropelados e cairmos estatelados. Nosso presente não é colo, mas está engravidado de esperança, que extraiu do passado e nos remete ao futuro.

O futuro de fato encontra-se poluído, o caminho cheio de armadilhas com tudo a disparar à nossa frente e a nos obstruir a marcha como afirma um dos trôpegos caminhantes de Emaús.

Como eles vamos prosseguir até o momento da transfiguração. Vai valer a pena para o reinício de novas caminhadas.

Pois é! Agora só nos resta olhar para o futuro, antes que ele passe por nós e não o percebamos.

Creio que o melhor para nós é aceitarmos que a “incerteza é o novo nome do futuro”.

Dizem alguns dos nossos – “o futuro que tentamos ver e às vezes conseguimos deslumbrar não nos parece promissor porque enxergamos tudo a disparar na nossa frente e conspirar contra nossos sonhos e a nos obstruir o caminho”.

Temos a sensação horrível de que estamos tomados de uma lentidão mórbida e que só vamos chegar a lugar nenhum e atrasados.

Outros consideram – “Muitos caminhantes prosseguem velozes à nossa frente, obstruindo-nos às trilhas, empurrados por propósitos que não temos e não fazem parte de nosso jeito de ser, mas nos embaraçam”.

Quando tentamos nos reanimar somos envolvidos em armadilhas perigosas que nos aterrorizam. Tais armadilhas nos assustam como às redes mal tecidas, a eficácia e competência mal entendidas, a força do mercado cujo conceito já não é mais tão abstrato e fluido porque se expressa em concorrências desleais, muitas já nutridas por capital estrangeiro.

“O futuro está poluído tomado por nuvens de poeira sufocante e parece que não há espaço para nós como somos e não queremos ser diferentes,” definia um companheiro.

Pessoalmente, encontro-me na cratera deste vulcão ou se quiserem no centro deste árido deserto e tenho tentado superar esta visão tão trágica das análises que se fazem. Acredito que faço este esforço pelo vício da esperança que me domina.

A questão que levanto é simples: temos um tempo futuro na UNIMEP?

Nosso futuro já está acontecendo. Ele se mistura com o passado e o presente e com eles acaba formando um trio de esperança, que nos empurra.

Ao mesmo tempo em que temos de nos desvencilhar do passado e do presente, temos que nos agarrar a eles para a construção do futuro.

Temos que estar atentos ao desenrolar do processo mais amplo que nos envolve e nos embasa o derredor, sem permitir que eles destruam nossa essência.

Somos confessionais, nosso compromisso é com a libertação e muito mais importante que salvarmos nossa empresa é preservarmos nossa vocação de compromisso.

Vamos prosseguir e construir um tempo novo para nós que antes de tudo seja também o tempo do outro, tempo de solidariedade e de comunhão.

Elias Boaventura - Setembro/2010

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