Maria Newnum
Poucas mulheres pentecostais, católicas, protestantes e mesmo as ligadas aos organismos ecumênicos se acham vítimas de discriminação de gênero nos espaços eclesiásticos.
Especialmente nas comunidades locais elas são “pau para toda obra”: Varem o chão, limpam banheiros, organizam liturgias belíssimas e põem flores perfumadas no altar; de onde lá do alto, os homens comandam confortavelmente o show! Sendo assim, muitas se sentem “agraciadas” e participantes da cena cotidiana eclesiástica.
Poucos deles demonstram apreciação ao trabalho delas. Mas elas não ligam: ficam lá embaixo, algumas como verdadeiras “tietes”, ovacionado egos de personagens que, se não fora o palco montado por elas, não brilhariam.
Essa é a realidade pouco percebida; e as cenas seriam cômicas, não fosse pelo trágico fato de que revelam a condição de ostracismo imposto, por elas a tantas mulheres brilhantes.
No metodismo brasileiro isso é visível a olhos nus. A prova mais contumaz é que após mais de 100 anos de história a Igreja elegeu apenas uma bispa e que há regiões que nunca tiveram uma única Superintendente Distrital. O pior disso tudo é que as mulheres, que são maioria votante na igreja, não acham isso estranho.
De modo muito particular, alguns homens que transitam nos altares decorados pelas mãos das mulheres são comprometidos com a eqüidade de gênero e têm desafiado e defendido a participação feminina no episcopado e nas diversas instâncias de decisões de nossa igreja. Aliás, provavelmente foi essa consciência de equidade e esforço que possibilitou a eleição da Bispa Marisa Ferreira.
Sim! Há na Igreja Metodista brasileira homens que, por terem luz própria, não temem serem ofuscados pelo brilhantismo das mulheres.
Porém, o fato é que esses homens não se sentem amparados pelas mulheres; estão sozinhos numa luta do “machismo as avessas”. Algo certamente está fora do lugar não? Como entender isso e buscar respostas?
Primeiramente há de considerar que há pelo menos dois grupos de mulheres na igreja: 1) Mulheres que foram ensinadas desde a infância que o poder é coisa de homem e que lugar de mulher é na cozinha ou, no máximo, cuidando da ornamentação da igreja, dirigindo ministérios de intercessão, ação social e coisas semelhantes... 2) Mulheres que têm medo de conjugar o verbo “poder” na primeira pessoa: Eu posso!? Poucas acreditam que podem. E, baseadas nessa crença, nem tentam e nem votam em outras.
Tendo em vista o 19º Concílio Geral da Igreja Metodista, há algumas perguntas:
1) A Bispa Marisa Ferreira será reeleita? 2) Será que houve paridade de gênero na composição da delegação que decidirá a vida futura da Igreja Metodista pelo voto? 3) Qual é o número de candidatos ao episcopado? Há paridade de gênero? Sabendo que não há; será que as mulheres delegadas farão alguma proposta para reverter essa situação?
O 19º Concílio Geral deverá contemplar alguns “ensejos de caráter ético”, pois o 18º Concílio Geral foi descrito, até por bispos eméritos, como um dos mais vergonhosos na história do metodismo do Brasil.
O tempo se fará novo nesse 19º Concílio Geral, para homens e mulheres. Será oportunidade de reescrever a “novidade histórica” de uma instituição carente de transformações urgentes; transformações estas que definirão os rumos missionários da Igreja Metodista. E nesse sentido, vale lembrar que são as mulheres as principais impulsionadoras da missão; sem elas, as coisas simplesmente não acontecem. Todavia, e apesar disso, qual é o lugar definido como delas na Igreja Metodista?
Benedita da Silva, a primeira mulher negra Governadora do Estado do Rio de Janeiro, quando perguntada como uma empregada doméstica da favela se sentia pisando nos tapetes vermelhos do Palácio, respondeu sem pestanejar: “Não tenho qualquer problema em pisar em tapetes vermelhos porque já os lavei muito em minha vida.”
Não há absolutamente nada de errado em lavar os banheiros, os tapetes, decorar os altares e tantos outros serviços essenciais para a caminhada das comunidades e da missão. Entretanto, quando essas tarefas são “quase” o único espaço de atuação para as mulheres, compete a elas um despertar crítico.
Que o 19º Concílio Geral determine quais são, de fato, as ênfases missionárias da nossa Igreja e que as mulheres reavaliem seus papeis na história e no cotidiano do metodismo brasileiro.
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