IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
Fundada em 15 de Junho de 1902

Boulevard Vinte e Oito de Setembro, 400
Vila Isabel - Rio de Janeiro - RJ
CEP: 20551–031     Tel.: 2576–7832


Igreja da Vila

Aniversariantes

Metodismo

Missão

Artigos e Publicações

Galeria de Fotos

Links


Missão e Evangelização
Rio, 29/4/2011
 

Por um futuro Missionário (Marcos 1:12-15)

Bispo Paulo Lockmann


 

Com a proximidade do XIX Concílio Geral, é um ensejo significativo para que, como irmãos e irmãs, como família e como Igreja Metodista, avaliemos nossa caminhada e a retomemos com propósito novo. Desse modo, poderemos colher frutos mais abundantes no novo período eclesiástico (2012–2016); afinal, sabemos que: “Pelos frutos os conhecereis”.

Tendo isso em mente, coloquei-me diante da Palavra de Deus e ali deparei-me com o texto de Marcos 1.12-15 que relata um momento do início do ministério de Jesus. Creio ser ótimo podermos nos espelhar em Jesus, e, desde a experiência do Evangelho, orientar a nossa vida e futuro.

Este texto tem alguns núcleos de profundo significado teológico vivencial. São eles: 1° “...o Espírito o impeliu para o deserto...”; 2º “...esteve no deserto 40 dias, sendo tentado por Satanás...”; 3º “...foi para a Galileia, anunciando o Evangelho de Deus...”; 4º “...o tempo está pleno e é chegado o Reino de Deus, arrependei-vos e crede no Evangelho...”.


1) “...o Espírito o impeliu para o deserto...”

A partir de que planejaremos a nossa vida missionária neste novo período eclesiástico? Que pensamento e motivação nos guiará? Seja a nível pessoal ou eclesiástico, nós todos iniciamos o novo período com sonhos e aspirações.

Alguns planejam fazer um curso, a fim de se prepararem melhor para a vida e a missão. Outros pensam mudar algo na sua casa. Há os que querem obter uma promoção em sua carreira profissional. Os jovens esperam alcançar aprovação nos seus estudos, e com isso encontrarem um lugar de trabalho. Os mais idosos seguem, às vezes, uma rotina cansativa, carentes de amor e carinho. E a Igreja, diante de tudo isso, planeja continuar a ser uma Comunidade Missionária a Serviço do Povo.

Na maioria dos casos, a vida, numa sociedade de mercado, guiada pelo consumo, se organiza em cima de ideais e desejos materiais e, muitas vezes, individuais. Pensar e planejar como Igreja é romper com projetos pessoais.

Aqui, já surge o primeiro desafio do texto, pois mostra Jesus não guiado por seus desejos pessoais, mas guiado pelo Espírito de Deus.

A pergunta que surge é: Damos nós espaço para que o Espírito de Deus também nos conduza como conduzia Jesus, o nosso Mestre? Quando falo em ser conduzido pelo Espírito, eu penso não somente em ser membro de uma Igreja Metodista e dela participar, mas, sim, sentir que os meus ideais, o sentimento que me guia a cada dia, são impelidos e impregnados dos ideais que o Espírito de Deus nos dá, através da Palavra e do testemunho interno do Espírito (cf. Rm 8.16), como o amor, a justiça, a solidariedade com os que sofrem. Ou seja, sentir-se como Jesus, impelido em direção ao confronto: o deserto. Sobre impulso igual esteve João Wesley em toda a sua vida. Nada o impedia; doenças, chuvas, tempestades, perseguições, foram obstáculos que ele enfrentou sem recuar. “Quinta-Feira, 28 de janeiro de 1958 - Encomendei-os a Deus e parti em demanda de Deverel Long-bridge. Pelas dez horas, encontramos uma carroça carregada num lugar profundo e estreito. Havia um trilho estreito entre a estrada e a sua margem. Eu entrei nesse trecho e João Frenbath me seguiu. Quando a carroça chegou perto, meu cavalo começou a empinar e tentar subir a ribanceira. Isso assustou o cavalo atrás de mim, e o fez saltar; tanto jogava ele a cabeça para cá e para lá, que o cabresto pegou na minha capa e me puxou para trás, e eu caí. Caí exatamente no trilho entre a carroça e a ribanceira, tão bem como se alguém me tivesse deitado ali. Ambos os nossos cavalos ficaram quietos, um atrás de mim, e o outro adiante. Assim, pela proteção divina, eu me levantei sem ser machucado, montei de novo, e segui a viagem.” (1)

2) “...esteve no deserto por 40 dias...”.

E aqui surge já o segundo elemento, o qual explica, em parte, por que algumas pessoas não querem se deixar conduzir plenamente pelo Espírito, preferindo ser cristãs por tradição, ou por algum interesse pessoal, e não para um compromisso diário. Alguns temem até onde o Espírito pode levá-los. Estes querem, de seu compromisso com Deus, compensações, e nunca lutas e problemas como os que Jesus teve de enfrentar em seu ministério desde o deserto. E alguém poderia dizer: E isso não é certo? Quem escolhe propositadamente o deserto?

A questão que se coloca é: O que é melhor? Se optamos por uma vida onde nós escolhemos o caminho mais conveniente, sem total compromisso com Deus, com sua Palavra e seu Espírito de Amor, seguindo nosso entendimento, também teremos problemas. Não temos garantia de que este aparente caminho sem espinhos, sem deserto, sem cruz, estará isento de problemas. Vocês e eu, meus irmãos e irmãs, sabemos que não. Prova disso é a situação em que o mundo está. Vemos toda sorte de violência, opressão, miséria num mundo segundo projetos bem pessoais. Vejamos alguns exemplos bíblicos: Jesus poderia ter optado por ser carpinteiro, pressões não faltaram para isso; sua família foi atrás dele com o intuito de levá-lo para casa (cf. Marcos 4.31-35). Outro exemplo é o do jovem rico que, desafiado por Jesus a segui-lo, optou por ficar com sua riqueza, mas triste, pois o texto é claro ao dizer: “...ficou muito triste...” (Lc 18.18-23). Concluindo este aspecto, reproduzo o testemunho de um jovem que viveu na Suécia; dizia ele: “Os suecos são um povo rico, mas, na sua maioria, infeliz; o número de suicídios é enorme; lá, a venda de bebida alcóolica é controlada, pois o alcoolismo é um grave problema social, mas, mesmo assim, muitos saem de férias, para embriagar-se na Dinamarca”. Não sei se tal depoimento é plenamente correto, mas o que sei é: nossa felicidade e tranquilidade só podem ser encontradas, numa vida centrada na Palavra de Deus e conduzida pelo seu Espírito. Só há vida plena onde o Espírito está agindo como nos mostra a visão de Ezequiel 37. 1-14 ou Paulo, em sua carta aos Romanos 8. 11-16.


3) “...foi para a Galileia, anunciando o Evangelho de Deus...”.

Estar disponível para Deus e sensível à ação do seu Espírito significa sair da rotina e assumir um encargo concreto no anúncio da Palavra de Deus.

Não é estar entre quatro paredes de um templo somente, mas, como Jesus, eleger um alvo (um lugar) objetivo, para o qual sentimos que Deus nos envia. E lá vivermos e anunciarmos o Evangelho. Em nosso caso, são as muitas “Galileias” que há no Brasil.

O lugar carrega significado em si mesmo: Galileia traz, como ponto de início do Ministério de Jesus, um conteúdo significativo: “... anunciando o Evangelho de Deus...”

Optar pela Galileia foi um ato de compromisso feito por Jesus, era uma adesão aos pobres, enfermos e oprimidos. Galileia não era um lugar distinto, segundo a frase de Natanael: “... de Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1.46). Mas, sim, um lugar de muita miséria, de muita exploração é o que nos apontam as multidões carentes e famintas. Este compromisso de Jesus é característico dos que são guiados pelo Espírito; eles se alinham com os injustiçados, os pobres. Nesta linha de pensamento, é que R. Vidales afirma: “O pobre é o sacramento do pecado coletivo.”

Com isso, temos a Boa-Nova do Messias Jesus, seu compromisso com os pobres: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres...” (Lc 4.18). Os pobres da Galiléia e de todo o Israel podiam se alegrar, pois chegara: “... o ano aceitável do Senhor”. Este Ano da Graça era, sem dúvida, um Jubileu permanente, um tempo de libertação, e de cura; tempo de saciar a fome de justiça, e a fome de pão (cf. Mc 8. 1-12). Há um espaço para cada um de nós nesta tarefa, pois como no mundo do Novo Testamento, seguem existindo os pobres, e estes continuam sendo alvo prioritário do amor de Deus. Por isso mesmo, do nosso amor também, pois devemos dar seguimento à missão de Jesus. Isso, foi uma escola para crianças pobres.


4) “ ...o tempo está pleno e é chegado o Reino de Deus, arrependei-vos e crede no Evangelho...”.

Aqui entra outro resultado concreto do seguimento de Jesus e de uma vida guiada pelo Espírito.

Quero sublinhar que o Reino de Deus é uma realidade histórica, e o elemento básico no anúncio do Evangelho. E, deste modo, fugir a todas as interpretações triunfalistas, alienadoras e desencarnadas da realidade concreta que o anúncio do Reino quis e quer apontar. Segundo, que o Reino de Deus é um projeto concreto inaugurado por Jesus a partir da Galileia do século I.

A ideia da presença do Reino é anunciada, além do nosso texto, em Mc 9.1, onde Jesus declara que alguns dos seus ouvintes não iriam morrer sem ver que o Reino havia chegado. Mas não há dúvida, existem claras alusões à presença do Reino de Deus, como na parábola do Semeador (cf. Mc 4. 3-9), na Semente que cresce em segredo (Mc 4. 26-29), e em tantos outros textos.

De modo que fica evidente que o Reino de Deus é o núcleo da mensagem de Jesus, no sentido de que a História da Salvação culminou com a encarnação do Messias Jesus, e tem uma continuidade qualitativamente superior no anúncio do Reino por este Jesus, e na radicalidade com que Ele vive e apresenta os sinais característicos do Reino de Deus.
Cabe sublinhar que a presença do Reino é marcada por sinais concretos, como disse Jesus aos discípulos de João Batista, quando lhe perguntaram se ele era o Messias, Jesus respondeu: Vão e digam a João Batista: os cegos veem, os coxos andam, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Reino de Deus (Lucas 7. 18-23).

Fica a pergunta: Quais são os sinais concretos do Reino de Deus na minha caminhada e da nossa Igreja Metodista? Será que não é o momento de alterar as nossas prioridades e nos dedicarmos mais ao Evangelho, permitindo assim que o Espírito nos conduza a cada dia?

Finalmente, os Evangelhos nos apontam o convite à conversão ao Reino de Deus, como um converter-se a um Deus que não está “lá em cima” ou “lá fora”, mas a um Deus que nos provoca na história. Semelhantemente ao que já fizera com o povo de Israel no Egito. Sim, nos provoca e nos convoca ao arrependimento e à conversão.

Assim, não há adesão ao Reino, há, sim, conversão ao Reino de Deus, e ao Senhor do Reino, Jesus. Esses elementos deverão ser o núcleo central do nosso projeto missionário em nosso Brasil neste início de milênio, tornando efetivo nosso ideal “O Evangelho para cada pessoa, um grupo de discipulado em cada rua, uma igreja em cada bairro ou cidade, com vistas a alcançar 1 milhão de discípulos/as.”

Em Cristo

Bispo Paulo Lockmann

_____________________________________________________

CITAÇÃO:
Buyers, Paul Eugene. Trechos do Diário de João Wesley. São Paulo: Junta Geral de Educação Cristã, 1965.

Voltar


 

Copyright 2006® todos os direitos reservados.