Vivemos numa sociedade onde as coisas são avaliadas pelos resultados, pelos índices de popularidade, pelo poder de compra e aquisição, pelo ter, pelo possuir, onde o princípio do serviço na perspectiva do Evangelho de Cristo é algo ultrapassado.
Vivemos numa sociedade onde se busca levar vantagem em tudo e ter sucesso a qualquer preço, onde o espírito do serviço é relegado para os considerados “fracos” e “débeis”.
Vivemos numa sociedade que se caracteriza em criar estereótipos e modelos que identificam “vencedores” e ridicularizam “vencidos”.
Vivemos numa sociedade que influencia os diferentes segmentos, inclusive a própria Igreja de Cristo, em suas diferentes cores denominacionais, que tem perdido a perspectiva da sua missão em ser sal da terra e luz do mundo.
Aliás, isto não é novo, na sociedade do primeiro século da Era Cristã, os movimentos de exaltação do ser humano como semideus estava presente e criava slogans e doutrinas acerca da individualidade humana, ou do servir-se do outro ou do que é de outrem.
No entanto, mesmo que pareça romantismo, extraímos do texto bíblico que servir ao próximo é algo belo, bom, bonito, agradável, vantajoso, melhor do que qualquer outra coisa. Estes são os significados da palavra grega kalós que aparece, entre outros textos, em I Pedro 4.10.
Neste versículo que saiu da pena do apóstolo Pedro aparece além da palavra kalós, os termos que se traduzem por dom, serviço e mordomo, respectivamente xárisma, diakonia e oikonómoi.
São quatro palavras em apenas um verso, mas que dizem muito acerca do serviço, ou do ministério, ou mesmo da vocação, porque todos foram vocacionados por Deus para viver a vida de forma digna e servir uns aos outros em todo o tempo.
A recomendação do apóstolo Pedro é para que todos façam isto a partir do dom que receberam e o façam como bons despenseiros de Deus. Em outras palavras, ele está propondo um princípio norteador que afete as relações humanas, sejam em que contexto for, pois o importante é servir e servir é bom.
A palavra grega kalós tem a sua origem no verbo kaléo, que por sua vez indica o ato de chamar, de nomear alguém para uma função ou convocar para uma determinada missão.
O termo grego kléseos, traduzido costumeiramente por vocação, também tem sua origem no verbo kaléo. Em outras palavras, o que está sendo dito é que a vocação é bela, é bonita, é prazerosa, é vantajosa, sobretudo porque ela se dá no contexto ou na missão de servir aos outros.
O apóstolo Pedro, em sua experiência de vida e ministério, sabiamente recomendou aos líderes que exercessem o dom que receberam não constrangendo as pessoas, tampouco com ganância, soberba e dominação. Ele chega a utilizar a palavra “sórdida” (I Pedro 5.1) para se referir a estas atitudes reprováveis e inaceitáveis na vida de um líder. Exercer qualquer tipo de liderança com estes adjetivos é perder completamente a perspectiva divina da beleza do serviço voltado para o bem dos outros.
Ah! Temos tanto a aprender sobre isto. Seria mais fácil para os líderes exercerem suas responsabilidades se adotassem este princípio da beleza do serviço e se dedicassem para promover o bem de seus liderados. Seria mais fácil para os sacerdotes cumprirem com seus ministérios se perceberem suas ovelhas como seres humanos para os quais podem oferecer a “gratuidade” do carisma que receberam de Deus. Seria mais fácil para governantes cumprirem, ao menos uma parte, de tudo aquilo que prometem e juram fazer ao assumirem os seus cargos. Seria mais fácil para os líderes revolucionários motivarem as pessoas a lutar pelos seus direitos se houvesse mais alegria e prazer naquilo que se faz.
Como afirmou Hugo Assmann, “precisamos recuperar o saboreamento da graça naquilo que fazemos. Revolucionários tristes só podem fazer tristes revoluções”. A sociedade precisa da graça, da beleza, da alegria do ato de servir uns aos outros. Este é um caminho de libertação e transformação.
_____________________________________________________________________
BIBLIOGRAFIA
ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1996.
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do Novo Testamento: grego – português. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1984.
RIENECKER, Fritz e ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1985.
Voltar