O Evangelho de hoje, segundo Domingo da Páscoa, fala de Jesus ressuscitado aparecendo aos apóstolos e lhes dando dons. Contudo Tomé não estava presente. Além disso, não acredita no testemunho de seus irmãos. O Jesus misericordioso com Tomé aparece oito dias depois e dá a graça para que Tomé pudesse crer e se alegrar na salvação (Jo 20,19-31).
Por causa desse texto, este domingo é chamado de Domingo da Misericórdia. A Igreja Católica celebra neste domingo a Festa da Divina Misericórdia, instituída por João Paulo II. Esta festa teve origem na Polônia, em Cracóvia, através das experiências místicas da Irmã Faustina Kowalska (1905-1938).
Independente dessas experiências místicas, o texto fala claramente do Jesus misericordioso se revelando a Tomé e a cada um de nós.
Hoje desejo aprender com John Wesley (1703-1791) sobre a misericórdia de Deus e ser transformado por esta graça.
O Espírito Santo testifica em nosso coração que hoje somos vidas ressuscitadas e diferentes. A nossa marca deve ser a santidade e a misericórdia. Olhando para o Deus misericordioso, precisamos viver esta misericórdia em nosso cotidiano. Wesley dizia: Isto é propriamente o testemunho de nosso próprio espírito, o testemunho de nossa própria consciência de que Deus nos concedeu o sermos santos de coração e santos na nossa conversação. É a consciência de termos recebido interiormente, através do espírito de adoção, as qualidades mencionadas na Palavra de Deus como pertencentes aos seus filhos adotivos: um coração amoroso para com Deus e para com toda a humanidade; confiança semelhante à da criança em Deus nosso Pai; nada desejando senão a Ele; lançando sobre ele todos os nossos cuidados; abraçando todos os filhos dos homens com sinceridade e terna afeição, estando prontos a darmos a nossa vida em favor do nosso irmão assim como Cristo deu a sua por nós; a consciência de que somos interiormente conformes, pelo Espírito de Deus, com a imagem de seu Filho, e que nós andamos perante ele em justiça, misericórdia, verdade e fazendo as coisas que lhe são agradáveis à vista.
A característica de Deus é a sua misericórdia. Wesley dizia: É um Deus de justiça e verdade inquebrantáveis, mas acima de tudo está a sua misericórdia. Podemos aprender isto facilmente daquela bela passagem dos capítulos 33 e 34 de Êxodo. "E Moisés disse: eu te suplico, mostra-me a tua glória. E o Senhor desceu na nuvem e proclamou o seu nome: o Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e gracioso, longânimo e abundante em bondade e verdade, conservando a sua misericórdia para milhares e perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado".
Toda ação de Deus está baseada em sua misericórdia. Wesley dizia: Foi simplesmente pela sua graça, pelo seu livre amor, pela sua imerecida misericórdia que Deus concedeu ao homem um meio de reconciliar-se com Ele, para que não fôssemos separados da sua mão e completamente apagados da sua memória. Portanto, seja qual for o método do seu agrado apontar para a sua terna misericórdia, a sua bondade imerecida, possam os seus inimigos os quais se têm tão profundamente revoltado contra Ele e tão longa e obstinadamente se rebelado contra Ele, ainda encontrar favor aos seus olhos, e é sem dúvida sabedoria para nós aceitá-lo com gratidão.
A misericórdia de Deus é um remédio universal para todos os homens e mulheres. Sem este remédio estaríamos destruídos. Wesley dizia: Atentai, pois, para a justiça e a misericórdia de Deus! A sua justiça na punição do pecado, o pecado daquele de cujos lombos todos nós provimos - Adão e toda a sua posteridade; a sua misericórdia provendo um remédio universal para um mal universal, dando o segundo Adão para que morresse por todos aqueles que tinham morrido no primeiro, de maneira que como "em Adão todos morreram, assim em Cristo todos pudessem viver", pois, como "pelo pecado de um homem sobre todos caiu o julgamento para condenação, do mesmo modo pela retidão de um foi a todos concedido o dom gratuito para justificação para vida", a qual está ligada ao novo nascimento - o começo da vida espiritual que, através da vida de santidade, nos guia à vida eterna, à glória.
Nada vem de nós mesmos. Não existe nenhum bem que provem de nossa natureza. Tudo é pela graça e misericórdia do Senhor. Wesley dizia: "Deus que é rico em misericórdia, ainda que quando estávamos mortos em pecados, deu-no vida em Cristo (pela graça sois salvos), a fim de que Ele pudesse mostrar-nos a excelente riqueza da sua graça em sua bondade através de Cristo. Pela graça sois salvos pela fé e isso não vem de vós mesmos". De vós mesmos não vem nem a vossa fé nem a vossa salvação, mas são o dom de Deus; dom livre e imerecido; a fé pela qual sois salvos e a salvação que Ele vos dá, sendo isto do seu próprio agrado, um simples favor seu. O fato de crerdes é um exemplo da sua graça; o de serdes salvos porque credes é um outro. "Não pelas obras para que ninguém se glorie". Pois todas as nossas obras, toda a nossa retidão anteriores à nossa crença nada valem diante de Deus, senão a sua condenação. Tão distantes estão elas da fé merecedora que esta, não importa quando tenha sido dada, não provém das obras, nem a salvação provém das obras que praticamos quando cremos, pois é Deus que opera em nós e nos dá uma recompensa pelo que Ele mesmo operou apenas ordenando as riquezas da sua misericórdia, não nos deixando nenhum motivo para nos gloriarmos.
Estas reflexões de John Wesley nos auxiliam a viver este Segundo Domingo da Páscoa exaltando e anunciando a misericórdia do Senhor.
Biografia: Sermões de Wesley
I – O Testemunho do Espírito
II – A unidade do ser divino
III – A retidão da fé
IV – Sobre a queda do homem
V – Salvação pela fé.
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