Ataraxia é uma palavra em grego que é traduzida por "ausência de inquietude", "tranquilidade de ânimo", paz interior.
Foi um momento da história grega quando a decepção com o coletivo deu lugar a individualização. Não havia mais esperança por um progresso na sociedade. O esforço, então, dos filósofos foi trabalhar para promover a felicidade interior.
Este período teve início com a conquista da Grécia pelos macedônios em 322 a.C. devido a expansão militar do Império macedônio, efetuada por Alexandre Magno.
O que caracteriza o período helenístico foi um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. A filosofia continuou as atividades das escolas Platônicas (Academia) e aristotélicas (Liceu) dirigidas por Platão e Aristóteles.
O centro das reflexões passa da vida pública para a vida privada. As preocupações coletivas cedem lugar às preocupações individuais. Ao invés de refletir sobre os problemas da sociedade, passa a cuidar da intimidade do indivíduo, da vida interior do homem.
Neste período surgiram quatro principais correntes filosóficas: O epicurismo, o estoicismo, o pirronismo e o cinismo.
Epicurismo é um sistema filosófico, que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Seu fundador foi Epicuro (324-271 a.C.).
Os estoicos por sua vez, afirmavam que todo o universo é governado por uma razão universal divina que ordena todas as coisas, onde tudo surge a partir dele e de acordo com ele. O estoicismo propõe que os indivíduos vivam de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença. O estoicismo possui duas consequências éticas: uma é que a pessoa deve viver conforme a natureza, e a segunda é que um homem sábio torna-se livre e feliz quando não se deixa escravizar pelas paixões e pelas coisas externas. Esta corrente foi fundada por Zenão de Cítio (336-263 a.C.).
O Pirronismo ou Ceticismo é a doutrina fundada pelo filosofo Pirro de Élida (365/275 a.C). Seu ideário é totalmente voltado para o lado prático, material, cotidiano da vida. Afirma que não se deve ter, nem emitir, qualquer julgamento (ou juízo) sobre coisa alguma. Nada se deve afirmar ou negar sobre quaisquer fatos, seres, ou objetos, pois o intelecto humano é limitado e incapaz de chegar à verdade sobre qualquer coisa. Ao invés de julgar as coisas, deve viver o presente e as aparências do momento sem sofrer para explicar os acontecimentos.
O cinismo por sua vez, foi uma escola filosófica grega, fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. A sua origem vem da palavra grega kýon (que significa "cão"), pelo fato de Diógenes de Sinope, seu maior expoente, dormir no local que era usado frequentemente como abrigo para cães, para assim demonstrar o seu desacordo com o modo de viver dos homens. A maior virtude para eles era renunciar os bens e prazeres terrenos até conseguir uma total independência das necessidades vitais e sociais. O autodomínio permitia alcançar a felicidade, entendida como o não ser afetado pelas coisas más da vida, pelas leis e convencionalismos. A felicidade é viver livre dos bens materiais.
Hoje os brasileiros estão vivendo um momento de pessimismo com relação a situação do país. Mais de 90% dos brasileiros não veem saída para a situação. Vivemos em uma total desesperança com as estruturas sociais, e apesar da Operação Lava a Jato, o brasileiro ainda desconfia que a corrupção e a impunidade vão reinar nas camadas políticas por muito tempo. Pesquisas indicam que 95% da população brasileira não confia em partidos.
Esta angústia afeta diretamente a Igreja. Diante de instituições tão fragmentadas, custo de vida altíssimo, aumento no desemprego e relatórios diários de corrupção, a Igreja pode ter mais força para continuar caminhando na contra mão do Evangelho, se preocupando cada vez mais com a paz interior, cada vez menos lutando pelo próximo, e se afastando mais da construção de projetos e valores para um mundo melhor.
Como o Epicurismo, procuramos o prazer nos cultos para nos sentirmos bem. Como os estoicos, vivemos a indiferença diante do caos das sociedades. Como o pirronismo, vivemos as aparências do momento sem refletir para explicar ou modificar os acontecimentos. Ou como os Cínicos, achamos que, o bom mesmo, é viver sem os bens materiais. Conformamos-nos com a situação miserável dos outros e vemos nisso algo positivo para a vida.
Devemos procurar a paz interior (Ataraxia) em Cristo Jesus. O culto, os retiros, as orações, devem ser instrumentos para despertar a nossa esperança e nos auxiliar em nossa ação no mundo.
Cristo Jesus desperta nossa alegria para a missão. Continuamos olhando para o céu e para o próximo no desejo ardente de ser o sal da terra e a luz do mundo. Nossa esperança e trabalho pela sociedade devem ser o grande diferencial. Podemos construir um mundo melhor. Nesta caminhada contra a correnteza do pessimismo a igreja ora: Kirius Eleison!
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