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Rio, 26/9/2015
 

A Influência do Judaísmo na Igreja Cristã: Parte II - O Dia da Expiação Bíblica, o Yom Kippur Judaico e a Quaresma Cristã

Pr. Edson Cortasio Sardinha


 

A palavra expiação aparece poucas vezes na Bíblia, mas o seu conceito constitui o assunto principal do Antigo e do Novo Testamento.  Palavras mais conhecidas como reconciliação, propiciatório, sangue, remissão de pecados e perdão estão diretamente relacionadas com esse tema.

Todo israelita sabia que "aos dez do mês sétimo era o Dia da Expiação" (Levítico 23:27).  Havia sacrifícios diários pelo pecado, mas esse era um dia especial, de santa convocação.  Levítico 16 diz que o Sumo Sacerdote: 1. se purificaria com água; 2. vestiria suas vestes santas de linho; 3. mataria um novilho para fazer expiação por si e pela sua família; 4. tomaria uma vasilha de brasas do altar e entraria no Santo dos Santos para que a nuvem de incenso cobrisse o propiciatório, que era o lugar da expiação, da propiciação e da reconciliação; 5. sairia, tomaria o sangue do novilho, entraria pela segunda vez no lugar santo com o sangue e o aspergiria sete vezes sobre o propiciatório e diante dele; mataria o bode para a oferta pelo pecado, ultrapassaria o véu pela terceira vez e faria com o sangue como tinha feito com o sangue do novilho; faria expiação pelo lugar santo e pelo altar do holocausto; imporia as mãos sobre a cabeça do bode vivo, confessaria os pecados do povo e enviaria o bode para o deserto; e tiraria as vestes de linho, iria lavar-se, poria outra roupa e ofereceria um holocausto por si e pelo povo. Esse dia era impressionante, santo e de grande importância porque os pecados de Israel eram expiados por meio de sangue. Já que "é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados" (Hebreus 10:4), esse ritual devia repetir-se a cada ano (Levítico 16:34) até aquele dia grandioso em que Cristo seria "oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos" (Hebreus 9:28).

Hoje este dia é conhecido como Yom Kippur. Yom Kippur é o Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do Judaísmo. No calendário judaico atual começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que coincide com setembro, outubro ou novembro), continuando até ao seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um período de jejum de 25 horas e oração intensa. Este ano de 2015 ocorreu no último dia 23 de setembro, quarta-feira. Teve início ao por do sol do dia 22 de setembro.  Existem 6 proibições no Yom Kippur: comer (come-se um pouco antes do pôr-do-sol ainda na véspera do dia até o nascer das estrelas do dia de Yom Kippur); usar calçados de couro; manter relações conjugais; passar cremes, desodorante, etc. no corpo; banhar-se por prazer e usar eletrodomésticos.

A essência destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à alma. Pela perspectiva judaica, o ser humano é constituído pelo yetzer hatóv (o desejo de fazer as coisas corretamente, que é identificado com a alma) e o yetzer hará (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao corpo). Nosso desafio na vida é "sincronizar" nosso corpo com o yetzer hatóv. Uma analogia é feita no Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma): É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo! 

Durante as orações fala-se o Vidui, uma confissão, e Al Chet, uma lista de transgressões entre o homem e Deus e o homem e seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em hebraico). Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão de qualquer transgressão que se queira na letra apropriada. Em segundo lugar, o Vidui e Al Chet estão no plural, o que pretende transmitir a ideia de que o povo judeu é um povo "entrelaçado", onde todos devem ser responsáveis pelos outros. Mesmo não cometendo uma determinada ofensa, pretende-se transmitir uma carga de responsabilidade por aqueles que a cometeram - especialmente se a transgressão pudesse ter sido evitada por aqueles que não arcarão com as culpas. Ao longo de todo o ano o homem comete toda sorte de erros e pecados, voluntários e involuntários. O processo da teshuvá (arrependimento, retorno ao bem) não poderá realizar-se magicamente em um dia. A tradição judaica coloca ao mês de EluI, último do ano, como prefácio para ir preparando o homem para a reflexão profunda, até o grande caminho interior. Cedo, nas manhãs de Elul se ouve o som do shofar. Uma semana antes de Rosh Hashaná (Ano Novo Rabínico), também durante a madrugada, se dizem as orações que se chamam "selichot" - perdões). O 1º de Tishrei é o grande dia, a base para um ano novo e um novo ano de vida. Depois seguirão nove dias até o dia do perdão. Dez dias, para aprofundar-se dentro de si, afastar o mal, aproximar o bem. O processo chega a sua culminância no dia 10º de Tishrei : Yom Kippur.

A expiação, Kippur, na raiz hebraica, refere-se ao "que cobre", ou seja, o castigo que envolve o ato perverso. Tudo o que se pode anular, deter ou parar é o castigo; mas não o ato cometido; esse ato está aí e a única maneira de superá-lo é através de uma transcendental modificação da conduta pessoal posterior. 

A Igreja Cristã no quarto século criou a Quaresma, tempo de jejum e oração em preparação para o batismo que ocorria sempre no domingo de Páscoa. Depois passou a ser um tempo de preparação de toda a Igreja para a Semana Santa. Vários autores afirmam que a Quaresma teve origem no Dia da Expiação dos Judeus. 

Na segunda-feira da IV Semana da Quaresma a reflexão é realizada em Levítico, justamente sobre o Dia da Expiação. 

Origenes, no século III, fez um belo sermão sobre o Dia da Expiação e o Sacrifício 

de Cristo na cruz. Ele diz:

“Uma vez por ano o sumo sacerdote, afastando-se do povo, entra no lugar onde estão o propiciatório, os querubins, a arca da aliança e o altar do incenso; ninguém pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote. Mas consideremos o nosso verdadeiro sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Tendo assumido a natureza humana, ele estava o ano todo com o povo – aquele ano do qual ele mesmo disse: O Senhor enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do Senhor e o dia do perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no dia da expiação, ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de cumprir sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-lo propício ao gênero humano e interceder por todos os que nele creem.” 

Referências

LERNER, Breno. A Cozinha Judaica. Série receias internacionais. Glosário, pg. 8. Editora Melhoramentos. São Paulo (2001).

Lynn D. Headrick. O que Está Escrito? In http://www.estudosdabiblia.net/

Orígenes, presbítero, Das Homilias sobre o Levítico, – in http://pantokrator.org.br/po/mediacenter/leitura-oficio/leitura-oficio-segunda-feira-da-iv-semana-da-quaresma/

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