John Wesley, como teólogo anglicano, professor em Oxford, era grande conhecedor da História da Igreja. Sua espiritualidade provinha da Bíblia, da tradição, dos Reformadores e dos Pais da Igreja.
Escrevendo ao Dr. Conyers Middleton, ele fez uma lista em ordem cronológica dos principais Pais da Igreja: “Clemente Romanos, Inácio, Policarpo, Justino Mártir, Irineu, Orígenes, Clemente Alexandrinus, Cipriano, aos quais eu acrescentaria Macarius e Efraim Syrus”.
Os Pais da Igreja são os cristãos que viveram no final do I século até o VII século e deixaram um legado espiritual.
No último artigo estudamos Irineu de Lyon. Seguindo a ordem de Wesley, conheceremos hoje Orígenes de Alexandria (185-254).
Orígenes é o personagem da Igreja Primitiva que mais deixou escritos e dados biográficos à posteridade. Foi conhecido, à sua época, pelo apelido de Adamâncio (“o homem de aço”).
Nasceu de uma família cristã em Alexandria, por volta do ano 185, tendo recebido sólida formação religiosa (sob Clemente) e também secular, completada na escola do filósofo Amônio Sacas, pai do neoplatonismo, o que lhe permitiu ter uma erudição filosófica incomparável entre os Pais da Igreja.
No ano 202, seu pai Leônidas foi martirizado durante a perseguição do imperador Sétimo Severo, e os bens da família foram confiscados. O jovem Orígenes incentivou seu pai a ser fiel até a morte e diz-se que sua mãe teve que esconder suas roupas para que ele não saísse de casa e fosse preso. Para poder manter a mãe e seis irmãos menores, Orígenes abriu uma escola de gramática (literatura) e, pouco depois, diante da ausência de quadros qualificados, já que muitos haviam fugido ou sido mortos pela perseguição, o bispo Demétrio de Alexandria incumbe a Orígenes, então com 18 anos de idade, a dirigir a escola de catecúmenos, enquanto procurava enfrentar a forte perseguição aos cristãos.
Por algum tempo, seguiu com as duas escolas, mas quando a família teve condições de se sustentar por si própria, dedicou-se exclusivamente à catequese e, nesse particular, opera-se um verdadeiro milagre para a época: sua reputação entre os alexandrinos era tão alta que muitos pagãos e gnósticos passaram a frequentar a escola de catecúmenos para aprender diretamente do jovem mestre.
Orígenes levava uma vida austera, rigorosa, a ponto de ser quase certo que, interpretando ao pé da letra Mateus 19:12, castrar-se a si mesmo e fazer-se eunuco para Deus, atitude extrema que o impediu de ser ordenado sacerdote por Demétrio.
O historiador Paul Johnson (“História do Cristianismo”, Ed. Imago, 2001, pág. 75), qualificando-o de “fanático religioso”, relata que Orígenes “abriu mão de seu emprego e vendeu seus livros para concentrar-se na religião. Dormia no chão, não comia carne, não bebia vinho, tinha apenas um casaco e não possuía sapatos”.
Já próximo dos 30 anos de idade, deixa a direção da escola com Héraclas e, seguido de alguns discípulos que ele próprio escolheu, aprofunda-se nos estudos bíblicos e filosóficos, passando a escrever sua vasta obra, incentivado por Ambrósio, um homem rico de Alexandria que, pela pregação de Orígenes, havia abandonado a heresia valentiniana convertendo-se à ortodoxia da Igreja.
Ambrósio tinha uma profunda sede intelectual e, vendo em Orígenes as qualidades do pensamento que tanto prezava, passa a financiá-lo para que suas ideias fossem conhecidas de todos. Neste período, Orígenes também viaja muito, visitando Roma, Cesaréia, Jordânia, chegando a ser levado com escolta militar a Antioquia, onde a mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Maméia, desejava conhecer melhor o cristianismo.
Moderno a seu tempo, Orígenes dirige um tipo de escola para “simpatizantes” do cristianismo, ou seja, jovens pagãos que queriam entender me-lhor o que a nova religião pregava, e que Orígenes apresentava-lhes a visão cristã dos grandes problemas filosóficos.
Entre suas muitas viagens, uma feita à Jordânia reconduz o bispo Berilo de Bostra à ortodoxia, e aproveita para discutir com um grupo de cristãos que afirmavam que a alma morre com o corpo e ressuscita com ele. Entretanto, nova perseguição irrompe sob o comando do imperador Décio, em 250, e Orígenes é preso e torturado, não com o fim de matá-lo, mas para que renegasse a sua fé, visto que uma eventual apostasia sua produziria efeitos notáveis nos demais fiéis, já que, dos seus contemporâneos, era a figura mais relevante do cristianismo. Pouco tempo depois, Décio morre e Orígenes é liberto, morrendo pouco depois, aos 69 anos de idade, provavelmente em 254.
Orígenes deixou uma obra gigantesca, sendo que o catálogo compilado por Eusébio dá conta de 2.000 escritos, enquanto Epifânio diz que Orígenes escreveu impressionantes 6.000 obras.
Fonte: Vida e Obra de Orígines. In
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