No livro de Provérbios, encontramos no texto de Pv 6:16-19, a afirmação de que Deus abomina o que semeia contenda entre os irmãos. Tal atitude produz prazer naquele que provoca a contenda, pois do contrário não a semearia. Seja conseguindo um cargo – que ficará vago, uma posição de destaque numa comunidade, seja destruindo um relacionamento do qual sente inveja, seja pelo simples prazer de destruir o outro, seja porque a língua é grande e não cabe na boca, o que provoca a contenda pensa em si e no seu prazer, e é, portanto, um egoísta.
Em toda Bíblia, Deus não se agrada com atitudes de egoísmo e estimula homens e mulheres a amar o próximo e dedicarem-se a ele, falando sobre o amor ao pobre, à viúva, ao estrangeiro entre outras mensagens de cuidado e proteção mesmo com os desconhecidos e desvalidos, que nunca poderão devolver qualquer atitude a eles favorável. Em Jesus, Deus expressamente amplia esta noção nos ordenando a amarmos os nossos inimigos e orarmos pelos que nos perseguem. Seu olhar para conosco, que nos dá a redenção e nos levanta do pecado sem que mereçamos tal atitude de amor, precisa estar também dentro de nós fazendo-nos também olhar o outro com esse olhar de amor Ágape.
Neste texto de provérbios a abominação que o Senhor sente deve-se ao fato de que além de ser uma atitude egoísta, ela provoca e se alimenta da separação entre outras pessoas. Ou seja, ao mesmo tempo que tem o componente do indesejado egoísmo, ao semear a contenda entre irmãos, o que semeia também impede que um bom relacionamento progrida, dividindo e não ajuntando. Duplo erro, egoísmo que pratica o mal, que causa prejuízo. Deus não só não se agrada, como abomina.
Não parece sensato, então, termos estas atitudes na igreja, no trabalho, no lar, na vida. E tenho certeza que não é o objetivo de todos. Porém é no dia a dia que semeamos a discórdia sem percebermos. É muito mais frequente do que pensamos, se e quando nos auto avaliamos. Somos assim, centrados e egoístas, com muito mais facilidade do que somos abnegados e dados aos outros. E nesta centralidade, rotineiramente ganhamos nossas vantagens às custas de outros e de outros relacionamentos.
Fofocas e comentários desnecessários são corriqueiros. Em tom de segredo, de algo que conto “somente para você” falamos o que não precisava ser dito, que causará separação e que – aqui e acolá – nós nem temos a certeza daquilo que narramos como fato. Criamos e promovemos estereótipos. Falamos de pessoas e grupos de pessoas a partir de nossos olhares de vida, desconectados muitas vezes das realidades do outro e suas verdadeiras intenções. Corriqueiramente preconceituosos, juízes e julgadores.
Se trocássemos interações de divisão por aquelas de união, já ajudaríamos muito o mundo em suas mazelas. Pessoas felizes, com bons relacionamentos, são pessoas que constroem vidas melhores. Sorriem mais, amam mais, ajudam mais. A cada pessoa ou relacionamento destruído, os efeitos colaterais se espalham e aumenta – pouco a pouco – a tristeza na humanidade. Podemos não ter o controle de grandes decisões mundiais, mas podemos controlar nossas interações. Fazer pouco, com alguns efeitos colaterais positivos ainda é melhor que não fazer nada de bom.
Deixemos de praticar o mal e pratiquemos o bem. Em todas as esferas, em toda a vida.
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