Noutro dia eu vi uma charge que mostrava o nascimento de um bebê nesses tempos. Ele já saía do útero com um celular na mão e enviando mensagens avisando de seu nascimento. Inusitado, impossível, mas cuja ideia é clara: Cada vez mais a tecnologia vem embutida nas novas gerações.
Tal convivência precoce com a tecnologia produz seus benefícios e seus problemas. O ideal seria conseguir a primeira sem ter o segundo atrelado, mas não parece que temos isso ainda. Mas podemos pensar também se pelo menos as boas consequências da tecnologia precoce compensam suas eventuais consequências danosas. Claro que esse papo dá muito pano pra manga e geraria mais um livro do que um texto no Jornal da Vila. Nesses dias, por exemplo, noticia-se o aumento da miopia entre jovens e, está lá, o uso de celular e computadores pode (Pode!!, percebe ?) ser uma causa. Em muita coisa ainda não temos o consenso necessário para afirmar e decidir com segurança.
Talvez a maior consequência ruim seja o distanciamento das relações afetivas face a face. Considerando que boa parte de uma boa conversa acontece pelas expressões não verbais, o celular, e suas tecnologias textuais principalmente, conseguiram o feito de nos levar a termos uma conversa pobre justamente agora que podemos conversar com muito mais gente. Nesse canal de comunicação que limita nossa total expressão, o emitente fala (escreve) suas ideias que nem sempre serão lidas da forma correta pelo receptor que pode dar a entonação que quiser ao ler cada palavra, pausando onde quer, mesmo que o emitente não tenha pausado em lugar nenhum. Tenta-se com os emoticons compensar essa limitação acrescentando-se carinhas e mãozinhas no final da mensagem. Mas nunca será tão efetivo quanto uma conversa olho-no-olho. A conversa textual não é o problema em si, sempre existiram cartas, bilhetes e telegramas. O problema é quando não se percebe a pobreza que ela tem e a pessoa se engana pensando que está conseguindo de fato uma conversa de qualidade. Não está!
Claro que conversas olho-no-olho ainda acontecem. Porém entra em jogo aí uma nova convivência desta nova geração que também é um problema: a falta da dedicação necessária. Via de regra cada vez mais a nova geração conversa com mais de uma pessoa ao mesmo tempo e acha que dá conta e que é normal. Quando a conversa ao vivo acontece, o celular está perto ou na mão mesmo, ou ainda na frente do rosto, fazendo com que aquele que está ali, ao vivo, não tenha do outro sua total atenção. É uma conversa olho-no-olho prejudicada pela necessidade cada vez maior de estar atento a tudo, numa febre de urgência que raramente é plenamente justificada (sempre pergunto ao jovem se ele é médico parteiro – se não for, pode desligar o celular que ninguém precisará dele com a urgência que ele atribui a si mesmo). Aqueles que conversam ao vivo poderiam, sem prejuízo nenhum, desligar seus celulares durante a tal conversa olho-no-olho, mas não o fazem: “vai que alguém posta alguma coisa?” Para essa necessidade de estar atento a tudo, já existe o nome da doença que vem sendo estudada seriamente pela psicologia, chama-se FOMO (do inglês Fear of Missing Out), em português livre, medo de ficar por fora de alguma notícia.
É preciso ensinar a nova geração que a afetividade demanda tempo de qualidade. São três passos: 1) Ensinar o que é afetividade, que é diferente de sexualidade, supressão de carência ou promiscuidade de relacionamentos – posturas que tentam compensar a ausência de afetividade mas não conseguem; 2) Ensinar que tempo é um recurso que deve ser controlado – controlar o próprio tempo e escolhas de onde e com quem estar ao invés de vê-lo passando enquanto ficam enfurnados nas suas telas de celular; e 3) Ensinar que qualidade num relacionamento só se consegue com atenção, dedicação e comprometimento personalizados, ao invés de tentar falar com todos ao mesmo tempo, falando muito e mal.
Surge na igreja então a competição por atenção e ouvido de qualidade. Não raro jovens e juvenis mexem no celular (adultos também) durante o culto. Alguns até me já mostraram que estavam se aprofundando sobre o que eu pregava – consultando no Google, ou postando elogios on-line sobre aquele culto. Mas nesse afã, com toda boa intenção, saem da minha frente e entram na frente do celular. Me deixam falando sozinho! Eu não gosto. Para mim é tão rude quanto seria se alguém, no meio da pregação se virasse de costas pra mim.
Uma geração que demanda mais trabalho para que a mensagem do Mestre chegue não aos ouvidos, pois lá chega, mas ao coração e ao espírito. É mais um complicador. Eu pergunto: Estamos mudando nossas estratégias ou pensamos que os alcançaremos da mesma forma que alcançávamos nas décadas de 60 ou 70 quando um jovem era menos elétrico ? Novos jovens demandam novas formas.
Deus nos abençoe.
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