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Rio, 28/12/2020
 

Nesse tempo de Advento, vamos falar um pouco de Encarnação e Cristologia

Pr. Alexandre Brilhante


 

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo 1.14)

Nos tempos atuais, alguns grupos cristãos questionam a celebração do Natal, quanto à datação e a outros costumes que se incorporam a essa importante tradição da Igreja.

Realmente, a sociedade secular tenta distorcer o real significado de algumas de nossas celebrações cristãs, como o Natal. Mas não é à toa que essa festa tem a característica de ser ornamentada com tantas luzes no interior das casas, em fachadas de residenciais e centros comerciais.

De fato, Jesus é a Luz do mundo e esse assunto diz respeito a uma importante doutrina do nosso Canon, a Encarnação. Segundo Otto Piper, renomado exegeta do Novo Testamento (NT), as controvérsias teológicas sobre a doutrina da Encarnação se desencadearam entre o século terceiro e quinto d.C., porém a igreja primitiva não tinha uma crença na origem divina e autoridade de Jesus.

Os cristãos primitivos não estavam interessados nos problemas metafísicos que implicavam no trabalho e pessoa de Jesus, mas da significação prática que seu Senhor tinha para a salvação deles e para os destinos da humanidade.

É por essa razão que os escritores do Novo Testamento não tratam da encarnação como um fato que é relevante em si mesmo, porém mais como resultado do propósito divino de salvação. Jesus indica que foi enviado pelo Pai ou o Pai que o deu à raça humana (Jo 3.16). Isto quer dizer que a Encarnação é um evento originado na vontade do Pai.

É por essa razão que o NT o descreve como determinado desde a eternidade. (Ef 1.4); II Tm 1.9; 3.8. A mais clara expressão do propósito divino da Encarnação é dada em Jo 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna”.

Paulo expressa a mesma idéia em Ef 1.4: “Ele escolheu-nos nEle (Cristo) antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle”.

Na Encarnação, também é mostrada a misericórdia divina e amor a uma humanidade que odeia Deus e rebela-se contra Ele. Em Rm 5.6, Paulo declara que Cristo morreu, a seu tempo pelos ímpios.

Um outro fato histórico importante e surpreendente é que povos pagãos desejaram deuses que descessem da sua habitação celestial ou grandes homens que se levantassem e pusessem um término à miséria da humanidade. Mas a nenhum homem ocorreu que Deus assumiria, Ele próprio, a vida humana. Esse segredo só se descortinou na ressurreição e, assim, podendo ser proclamado a todos os povos através da Igreja (Ef 3.9-11).

O mesmo Deus que é revestido de sua glória no céu é, todavia, capaz de depor todas as suas prerrogativas e tornar-se um ser humano sem, apesar disso, cessar de ser Deus ou perder seu poder divino. A Encarnação é a revelação da onipotência do seu amor, que é tão forte que pode trazer vida eterna para uma humanidade que está a perigo de perecer completamente, porque homem algum é capaz de escapar da morte e pecado.

Foi no Concílio de Calcedônia (451), que a doutrina ortodoxa sobre a natureza de Cristo (Cristologia) se consolidou, assegurando que, em uma só pessoa, Jesus Cristo, há duas naturezas – a humana e a divina – cada qual de

modo completo e integral, e que essas naturezas são orgânicas e indissolúveis. Em suma, a doutrina ortodoxa nos proíbe dividir a pessoa ou confundir as naturezas. (Strong, Teol. Sist. 673)

Muitas heresias do passado tentaram negar essa afirmação central do cristianismo. Vejamos algumas delas:

- Os Ebionitas: negaram a realidade da natureza divina de Cristo e asseguravam ser Ele meramente homem ou sobrenatural concebido. Esse homem alcança uma relação peculiar com Deus à época do batismo. O Ebionismo foi o judaísmo dentro dos arraiais da Igreja Cristã e sua negação da divindade de Cristo era ocasionada pela aparente incompatibilidade desta doutrina com o monoteísmo.

- Os Docetistas (doxéw- parecer, aparecer), 70-170 d.C. Como a maioria dos gnósticos do II século e os maniqueus do III século, negavam a realidade do corpo humano de Cristo. Este ponto de vista era a sequência lógica da admissão do mal inerente da matéria. Se a matéria é má e Cristo puro, então o corpo humano de Cristo deve ter sido meramente aparente. Docetismo foi simplesmente filosofia pagã introduzida na Igreja.

- Os Arianos (Ário, condenado no Concílio de Nicéia, 325 d.C.) negaram a integridade da natureza divina em Cristo. Consideraram o logos que se uniu à humanidade de Jesus, não como possuidor de divindade absoluta.

- Os Apolinarianos (Apolinário, condenado em Constantinopla, 381 d.C.). Negaram a integridade da natureza humana de Cristo. De acordo com esse ponto de vista, Cristo não tinha o pneuma humano, senão o que era provido pela natureza divida.

- Os Nestorianos (Nestorius removido do patriarcado de Constantinopla, 431 d.C.) negavam a união real entre a natureza divina e humana de Cristo, tornando-a união moral e não orgânica. Sustentaram duas naturezas e duas pessoas, em vez de duas naturezas e uma pessoa.

- Os Eutiquianos (condenados em Calcedônia, 451 d.C.) negaram a distinção e coexistência de duas naturezas e afirmavam uma mistura de ambas em uma que constitui um tertium quid, ou terceira natureza. Para eles, o humano deveria ser absorvido pelo divino. Os Eutiquianos reduziram duas naturezas em uma.

Atualmente, novas cristologias surgem dentro de novos climas intelectuais influenciados pela revolução causada pela crítica histórica. Para nós cristãos, a Encarnação é mais importante que as reflexões humanas a seu respeito. Nem a lógica dos antigos nem as pesquisas históricas dos modernos podem apreender por si mesmas o mistério de Cristo. Sem ser contra a lógica, mas acima dela; sem ser contra a pesquisa histórica, mas indo além dela, a afirmação cristã é de que “Deus está em Cristo reconciliando o mundo consigo.”

Então, celebremos o Natal com muita alegria, comunhão e gratidão a Deus. Feliz Natal!

(fonte: Antologia Teológica, Júlio Andrade (Org) – Editora Fonte Editorial)

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