“Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas”. (Lc 14.26)
Esta passagem bíblica me chama muita atenção, pois de vez em quando me aventuro em algumas pescarias a bordo do meu pequeno “grande” barquinho, de 5 metros, o “Príncipe da Galiléia”, que me proporciona bons momentos de lazer com alguns companheiros que, às vezes, sobem a bordo, não mais que quatro passageiros por causa da capacidade e que se lançam ao mar comigo em busca da pesca maravilhosa. Mas quando a maré não está pra peixe o que rende mesmo são bons momentos de prosa, muita história de pescador e comunhão.
Mais uma vez, Jesus opera um milagre semelhante àquele que realizou nos primeiros dias entre os discípulos (Lc 5.1-21). Ele os encontra em terreno familiar e lhes enche as redes com grande quantidade de peixe. Trata-se do mesmo Senhor que eles conheceram alguns anos antes, com o mesmo poder, apesar de ter morrido e ressuscitado. Ele voltou por um curto período de tempo a fim de completar a mensagem que veio transmitir.
Estes momentos finais fixarão nos discípulos um entendimento de Cristo que já começa a se aprofundar. Esses homens, que lutaram o tempo todo para compreender a verdadeira missão de seu Mestre, com o auxílio do Espírito Santo, enfim, saberão por que ele veio. Sustentados por tal conhecimento, divulgarão a mensagem do Evangelho pelo mundo, com ousadia e intrepidez.
Há pouco tempo, Pedro havia falhado com Jesus, negando-o três vezes (Lc 22.24-62), mas Jesus lhe dá outra chance, vindo ao seu encontro compartilhar uma refeição e expressar preocupação, por três vezes seguidas, com o relacionamento entre eles. Seu cuidado com Pedro ensina que a graça de Deus nos alcança mesmo quando falhamos com ele do modo mais grosseiro possível. Ele perdoa quem se arrepende e o ama de verdade.
Duas vezes Jesus pergunta se Pedro o “ama”. Na terceira vez, se o “ama mais do que estes”. João escolheu duas formas gregas diferentes para a palavra amor. Alguns estudiosos especulam que Jesus na verdade se referia a dois tipos de amor, o primeiro (agapao) alusivo ao amor dedicado pela pessoa como um todo, incluindo sua força de vontade, e o segundo (phileo) algo mais espontâneo e emocional.
Fosse ou não intencional essa distinção, a Bíblia ensina que Jesus deseja que o amemos com um amor completo. Quer que escolhamos amá-lo por nossa vontade, nos bons e nos maus momentos, quando sentirmos que o amamos e quando não sentirmos nada. E amá-lo com um amor que flua livre com a emoção, impulsivo, afetuoso, brotando do coração. Assim como acontece com o amor romântico duradouro, nosso amor por Jesus deveria ser passional e, ao mesmo tempo, envolver uma decisão da mente e vontade.
Cada vez que Pedro responde, Jesus lhe pede para cuidar de suas ovelhas. Em algumas de suas palavras finais, ele lembra os discípulos que amálo significa cuidar das pessoas que o próprio Deus coloca em nossas vidas.
Jesus chama a si mesmo de pastor e dedicou seu tempo na terra a cuidar de muitos que cruzaram seu caminho e outros tantos a quem ele tomou a iniciativa de buscar. Agora todos nós, cristãos, levaremos adiante essa missão, mantendo guarda temporária do rebanho divino até a volta do Pastor.
Voltar