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Rio, 5/4/2007
 

A Terra está doente - Mensagem do profeta Oséias (Os 4:1-19)

Bispo Paulo Lockmann


 

A TERRA ESTÁ DOENTE
A mensagem do Profeta Oséias (Os 4.1-19)

“Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus.” (Os 4.1).

1) Quando o mal se instala na vida do povo.
As notícias são, em sua maioria, assustadoras neste início de 2007. São dias difíceis: a guerra no Iraque mata todo dia dezenas de pessoas, a natureza está em revolta, chove onde raramente chovia, e não chove onde sempre choveu.

Deus nos fez mordomos da criação (cf. Gn 1.28-30), e nós nos tornamos opressores da criação. O aquecimento global atinge a todos. Continuando como está, em mais 50 anos, parte das cidades litorâneas, como o Rio de Janeiro, submergirão, pelo menos em parte. O mau uso da natureza, na maioria das vezes, não ocorre por parte das populações nativas. As sociedades tidas como “primitivas” têm uma relação muito mais respeitosa e preservacionista da natureza. O capital internacional é reconhecidamente depredador; o que vale é o lucro. Dentro em breve, não veremos mais somente a guerra pelas fontes de energia, especialmente o petróleo como é no Iraque, mas, sim, por fontes de água potável. Desperdiça-se e se polui as fontes de água, os oceanos, como exemplo, temos a Baía de Guanabara.

A violência presente nas relações institucionais e pessoais: governantes, membros do ministério público são ameaçados de morte, quando se recusam a compactuar com os diversos esquemas de corrupção, a maneira como se quita a oportunidade de educação, saúde, moradia, emprego, de mais de 40 milhões de brasileiros, os quais aprenderam a se contentar com uma bolsa de alimento. Tanta insensibilidade está gerando milhares de marginalizados, especialmente entre os jovens. Estes não são respeitados, educados, enfim, humanizados, mas tratados como bichos, e muitos deles respondem como tal. É violência gerando violência. Morre mais gente inocente na violência urbana contra a criança, as mulheres, os negros nos grandes centros no Brasil do que na guerra do Iraque. Por último, foi a morte do menino João Hélio, 6 anos de idade, que teve sua vida ceifada por jovens e um menor, inoculados pelo vírus da morte, para os quais a vida lhes deu muito pouco, e, por isso, a vida de ninguém tem qualquer valor. Por isso, matam e matam até serem também mortos.

Para nossa consideração sobre o mal e a morte no mundo, passo a alguns números atualizados até o final do século XX.
Hoje, no mundo dos homens e mulheres:
1) Uma em cada cinco pessoas vive em absoluta pobreza, de modo que sua sobrevivência está em jogo diariamente. Em números reais, são cerca de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas.
2) Cerca de 1,5 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a nenhuma forma de ajuda médica.
3) Dois em cada cinco seres humanos são mal nutridos.
4) Nas últimas quatro décadas do século XX, os 10 países mais ricos do mundo aumentaram sua fatia no produto mundial bruto de 70% para 83%.
5) Em 1990 os países do 2º e 3º mundos transferiram para o “mundo desenvolvido” mais 21 bilhões de dólares, além do que receberam de auxílio.
6) As estruturas de pecado das quais lemos Oséias falar manipulam anualmente os seguintes recursos:
a) Crime organizado – 600 bilhões de dólares.
b) Tráfico de drogas – 150 bilhões de dólares.
c) Crime financeiro – 2 trilhões de dólares.
d) Pornografia – 20 bilhões de dólares
e) Jogos de azar – 700 bilhões de dólares.
f) Gastos militares – 1 trilhão e 100 bilhões de dólares.

Esses são dados não atualizados em 2007. Podemos deduzir que esses índices pioraram, dadas as notícias e tendências que vemos na imprensa nacional e mundial.
E, agora, o que fazemos diante de tudo isso? Vamos aprender com Oséias, onde ele identifica a causa de Israel, no reinado de Jeroboão II, ter chegado a uma situação de opressão, mentira, corrupção e violência, na qual, guardadas as proporções, tem muito a ver com o quadro descrito acima.

2) O que o Profeta Oséias denuncia.
Deixem-me dizer que, embora o enunciado seja ambicioso, reconheço ser meu espaço pequeno para traduzir tudo que nos ensina o profeta. Ficaremos com o que consideramos o essencial.


O profeta Oséias era originário do reino do Norte – Samaria; foi contemporâneo de Amós, pois começou a profetizar no período de Jeroboão II; seu ministério continuou após Jeroboão II. Sua indignação contra as classes dirigentes de Israel é tão dura quanto a de Amós. “O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios.” (Os 4.2), como em Amós: “Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta.” (Am 5.12). Nesse conjunto de semelhança entra a linguagem simbólica própria, quando descreve o seu casamento com uma adúltera, e usa a infidelidade da sua esposa para ilustrar a relação de Israel com Deus, marcada pela infidelidade do povo para com o Senhor (cf. Os 3.1). Há, no entanto, na profecia de Oséias, a possibilidade sempre desejada por Deus, ou seja, do arrependimento e conversão do povo a Deus. “Volta, ó Israel, para o SENHOR, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído. Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Perdoa toda iniqüidade, aceita o que é bom, e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios.” (Os 14.1-2).

Dentre as transgressões do povo de Israel contra o Senhor e seus mandamentos, estão:
a) “...a terra se prostituiu, desviando-se do SENHOR.” (Os 1.2c)
Quando o profeta fala da prostituição de Israel, não considera a exclusividade de sentido que o termo tem para nós, envolvendo a sexualidade. No sentido profético e bíblico, é muito mais: é desviar-se dos propósitos de Deus, no caso, o povo afastar-se da aliança com Deus, quebrara seus mandamentos , por isso a descrição de prostituir-se e desviar-se. Devemos sempre lembrar que o Senhor, o Deus dos profetas, é um Deus ético . Assim, nós, hoje, quando quebramos os mandamentos de Deus, estamos nos prostituindo, nos desviando de Deus. O mundo hoje, a terra, está em prostituição, desviada de Deus, por isso há tanta falta de justiça, e há a banalização da vida, etc...

b) “...Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus.” (Os 4.1).

b.1) “... não há verdade ...”
Esta é a palavra do Senhor, como no capítulo 1.1, aqui, não é um narrador, é uma nova parte do livro, onde Deus fala ao povo: “...vós, filhos de Israel”. Aqui, verdade não é no sentido grego de um conceito, onde se encontram o pensamento e a realidade; esta é uma compreensão ocidental. No mundo bíblico, emmet – verdade, da raiz mn, de onde vem amém, é fidedignidade, coerência entre palavra e ação. No Judaísmo rabínico, verdade se confunde com a Palavra de Deus.

A verdade é tudo que não havia em Israel em tempos de Oséias. Havia engano, se celebravam cultos pomposos a Deus, mas Deus não estava presente; afinal, o culto escondia a quebra constante do mandamento: “Não dirás falso testemunho contra teu próximo.” (Ex 20.16). Hoje, nós ouvimos mentiras dos políticos, dos comerciais de televisão, e até no meio religioso há mentiras sendo praticadas, como, por exemplo, Igrejas que prometem prosperidade num ato místico e mágico. Deus está em contenda contra a nossa terra, também, por causa da mentira que entre nós se instalou.

c) “... nem amor ...”
A que conceito de amor se referia o profeta Oséias, quando diz que Deus está em contenda com a terra, porque não há amor? O primeiro termo é o verbo aheb, que pode significar o ato sexual, o amor conjugal, o amor fraternal e entre amigos, é o verbo traduzido maiormente na tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, pelo termo ágape ou verbo agapao. O amor de Deus é exclusivo e, inclusive, mandamento (cf. Dt 6.5). No caso de Oséias, o amor do Senhor por seu povo é o fundamento da Aliança. Israel e o Senhor são inseparáveis, por isso o uso da união do profeta com uma adúltera. Essa relação em amor foi profanada pela esposa infiel – Israel, que negou o amor.
Assim, podemos dizer que o sentido de amor que Oséias dá, fala da relação entre o povo e Deus, mas não só, pois os discursos proféticos mostram que a ausência de amor, temor de Deus, seu juízo, traz uma relação de indiferença, insensibilidade para com o próximo, e, neste caso, o termo que o profeta usa mais freqüentemente é hesed, cujo significado é mais abrangente, traduz amor, fidelidade, generosidade, e até misericórdia. No caso de Israel, a ausência do amor gerava opressão do pobre (cf. Os 4.3), da viúva, enfim, aumentava os marginalizados. Onde Deus está, seu amor (aheb e hesed) precisa ser vivido. Neste caso, o amor volta a ser elemento decisivo na reconstrução da paz, da justiça e, assim, da prosperidade.

Desse modo, atualizar o amor de Deus, hoje, é o caminho de sarar a terra, fazer com que o verbo de Deus – Jesus – se faça carne, nos atos do povo de Deus, e habite entre nós, “... cheio de graça e verdade ...”

d) “... nem conhecimento de Deus ...”
As expressões do verso 6 do capítulo 4 de Oséias ilustram e explicam o porquê da ausência de conhecimento de Deus: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” (Os 4.6).

Por outro lado, quando se fala no Antigo Testamento de conhecimento, não é o conhecimento grego, teórico, o pensamento lógico, mas, sim, fala da vida, do experimentar, viver, ter conhecimento de algo ou alguém, é acima de tudo ter comunhão, compartilhar a vida com o alvo de conhecimento. O termo pode expressar a relação sexual entre marido e mulher. Em resumo, o conhecimento de Deus começa pela comunhão e intimidade com Deus. Pois quem conhece a Deus descobre seu amor paternal: “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho.” (Os 11.1). O uso de Israel menino indica dependência do Pai – Deus, intimidade e comunhão, isto é, o conhecimento que faz do filho (Israel), obediente, fiel, submisso. O conhecimento de Deus pode ser expresso no texto do próprio Oséias: “O SENHOR, o Deus dos Exércitos, o SENHOR é o seu nome; converte-te a teu Deus, guarda o amor e o juízo, e no teu Deus espera sempre.” (Os 12.5-6).

Ah! quanta distância do conhecimento de Deus está o mundo presente; é como diz o profeta: “Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem.” (Os 4.3). A terra brasileira também está de luto, não somente pela morte do João Hélio, mas também porque a natureza está sendo assassinada, as matas amazônicas agonizam; os artistas da Globo iniciaram uma ação para parar a destruição da floresta amazônica. A vida de crianças, a vida da natureza está ameaçada: Quem as salvará? Nós temos a mensagem, o mandado missionário, as pedras já estão clamando.

e) “... O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote ...” (Os 4.6a).
A minha, a tua, a nossa responsabilidade é grande nisso tudo que está acontecendo com o nosso mundo. A sentença do profeta em seu contexto incidia sobre os líderes religiosos de Israel. Hoje, também incide. A participação dos ditos evangélicos, conforme os meios de comunicação, não é com o grupo do bem. Aparecemos mais freqüentemente como grupo do mal; os escândalos da bancada evangélica no Congresso Nacional mostraram isto. Sabemos que há uma propaganda constante contra os evangélicos, e nosso dever é vigiar para não terem do que nos acusar.

A acusação do profeta foi clara: “... porque rejeitaste o conhecimento (de Deus), também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim ...” Quem não deseja cair na rejeição de Deus, precisa restabelecer a dignidade do altar, da intimidade com Deus, de uma teologia bíblica, comprometida, primeiro, em conhecer e ouvir a Deus. Não dando ouvidos aos desejos e cobiças do nosso próprio coração, crescendo no amor e conhecimento do Senhor. Aqui, também, a mensagem de Oséias é o caminho da bênção: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.” (Os 6.3). “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los e voltemos para o SENHOR.” (Lm 3.40). O Senhor é rico em perdoar.

3) O que o Profeta anuncia?
Nem tudo é denúncia do pecado e condenação na profecia de Oséias. Há várias declarações de amor, de misericórdia, de esperança, de perdão; na verdade, as denúncias do pecado são atos de amor e advertência, que visam ao arrependimento e à conversão do povo. Desse modo, a pregação do profeta, e também a nossa, hoje, deve, junto à denúncia clara, audível, sem subterfúgio, levar o povo ao arrependimento e ao reencontro com Deus.

Vejamos alguns vários momentos de apelo à conversão, os sinais de que há esperança:
a) No primeiro capítulo: “Disse o SENHOR a Oséias: Põe-lhe o nome de Não-Meu-Povo, porque vós não sois meu povo, nem eu serei vosso Deus. Todavia, o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que se não pode medir, nem contar; e acontecerá que, no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo.” (Os 1.9-10).

b) No segundo capítulo, referindo-se a sua mulher adúltera: “Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E lhe darei, dali, as suas vinhas e o vale de Acor por porta de esperança; será ela obsequiosa como nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu da terra do Egito.” (Os 2.14-15).

c) No breve capítulo 3: Depois, tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao SENHOR, seu Deus, e a Davi, seu rei; e, nos últimos dias, tremendo, se aproximarão do SENHOR e da sua bondade.” (Os 3.5).

d) No capítulo 6, há um notório convite ao retorno à intimidade com Deus, a receber dEle a cura: “Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele. Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.” (Os 6.1-3).

Poderia continuar mostrando como o profeta reflete o juízo, mas também a bondade, amor, justiça e misericórdia de Deus. O ápice se encontra no capítulo final, quando diz: “Volta, ó Israel, para o SENHOR, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído. Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Perdoa toda iniqüidade, aceita o que é bom e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios.” (Os 14.1-2).

Para Oséias, o restabelecimento da comunhão com Deus trará sobre a terra a justiça: “Então, disse: semeai para vós outros em justiça, ceifai segundo a misericórdia; arai o campo virgem; porque é tempo de buscar ao SENHOR, até que ele venha e chova a justiça sobre vós.” (Os 10.12). Atentemos para as lições de Oséias, e construamos um tempo de esperança e de cura para nossa terra e seu povo. Amém! Amém! Amém!

Com carinho e oração por todos vós, povo metodista.
Vosso irmão Bispo Paulo Lockmann

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