Discipulado Integral
Robert Stephen Newnum (*)
Causa admiração a popularidade de certos modelos de discipulado que têm rodeado tanto nas igrejas neo-pentecostais ou pentecostais quanto nas igrejas históricas tra-dicionais. Alguns são travestidos de “Encontros com Deus” ou discipulado pessoal.
Uma busca na internet mostra como este modelo é amplamente difundido nesses dias.
Esses modelos tomam sobre sí o caráter bíblico, criando hierarquias e delegação do poder fortemente autoritário e destoante do modelo de pastoreio de Jesus. Basta um exame prévio das Es-crituras para perceber que o mé-todo que Jesus usou foi o de en-sinar os/s discípulos/as e depois soltá-los/as no mundo, realizando o ministério de forma autônoma, tendo como espelho o único e grande Mestre: Jesus.
Na igreja primitiva houve várias discussões sobre a maneira certa de evangelizar e receber novos/as convertidos/as. No concílio em Jerusalém, Paulo foi chamado pa-ra explicar porque não estava seguindo a “cartilha” dos apóstolos.
Paulo não estava exigindo que os convertidos/as “não-judeus” pas-sassem por uma “doutrinação” judaica e um seguimento rígido dos rituais e práticas judaicas.
Mas, sem a “rebeldia” de Paulo, a igreja continuaria com uma sei-ta dentro do judaísmo. Não terí-amos a igreja que conhecemos hoje.
Hoje vemos um discipulado que ensina a obediência cega. Quem não entra na “visão”, isto é, quem ousa questionar a “autoridade” ou tem um jeito diferente de ser é etiquetado de “rebelde”. Já ouvi de um pastor: “Ovelha rebelde se mate e come!” Jeito esquisito de discipular não?
O discipulado integral entende que o crescimento na caminhada da fé começa com aprendizagens básicas da fé que levam ao cres-cimento autônomo. É esperado que a pessoa supere os estágios de dependência e atinja crescimento e maturidade com o passar de tempo. Imagine o fracasso de ver que um/a filho/a, aluno/a ou membro da igreja que não saia do estágio do leite ou da papinha? É um sinal inequívoco que houve falhas no processo de ensino-aprendizagem.
Como pais, os/as pastores/as per-cebem que no início, “a criança” (membro-discípulo/a) depende quase por completo de seus cui-dados. Mas o processo do disci-pulado e a maturidade na fé de-vem levar a depender menos e menos, dando condições para tomar decisões conscientes críticas e autônomas. O que não excluí sentar para pedir conselhos, sugestões e colo amigo.
Nesse sentido o discipulado integral valorizar o crescimento e a maturidade e deixa sempre em aberto o espaço para trocas e conselhos amorosos. Este é o alvo do discipulado integral e que parece estar em sintonia com o discipulado de Jesus. Nele, a pessoa é dependente, mas, autônoma.
Tenho experimentado em meus 35 anos de ministério pastoral essa perspectiva, em especial com alunos e alunas. Sabem que podem recorrer quando precisarem, que não tenho respostas fáceis e prontas e que muitas vezes, como pai, pastor, discipulador e amigo vou responder que “não sei”, ou que é preciso dar tempo ao tempo, orar, deixar a poeira da vida ascentar. Até mesmo Jesus, o maior discipulador e nosso mestre, certa vez disse: “Pai, se for possível passe de mim esse cálice...”
É temeroso insistir em seguir modelos de discipulado que criam pessoas dependentes, medrosas e mistificadas, qual borboletas em volta da luz, em torno de figuras humanas, que julgam deter poderes sobrenaturais.
Jesus se fez humano e habitou entre nós. Sua simplicidade humana, seu abraço acolhedor e amigo, é o exemplo do discipulado integral que precisamos resgatar e oferecer às pessoas que, como filhos/as, alunos/as, fiéis e amigos/as nos procuram em confiança pastoral.
O discipulado integral prima em ajudar pessoas a viver e crescer na sua fé com autonomia e maturidade.
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(*)Robert Stephen Newnum é teólogo e pastor metodista, formado em Filo-sofia, Mestre em Teologia e Doutor em Ciências da Religião. Ele é pro-fessor no Cesumar e Cemetre em Maringá.
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