O atleta não é coroado se não lutar segundo as normas
1) “... o atleta não é coroado, se não lutar segundo as normas.” (2Tm 2.5)
Acabamos de encerrar os jogos Pan-Americanos, as Olimpíadas das Américas. Alguns atletas foram coroados, e outros, não. Queremos dizer: ganharam medalhas de ouro, prata ou bronze.
Foi tudo um esforço, meses de treinamento, horas por dia, alguns gastam 12 horas por dia, é dedicação absoluta, um rigoroso profissionalismo. Quem não cumpre estas regras de treinamento e dedicação não vence nunca, e logo está fora dos selecionados, os quais integram a equipe de um país.
Ficamos chocados, quando alguns são desclassificados, porque cometeram um pequeno erro, segundo as regras da modalidade, seja no atletismo, nas competições em equipe, enfim, ocorre exatamente o que Paulo escreve a Timóteo: só alcança o coroamento, o atleta que luta (disputa), segundo as regras. Assim, os jogos Pan-Americanos nos dão lições valiosas: para vencer, é fundamental dedicação integral e radical, e não quebrar as regras.
2) Nosso grande desafio
Nós, enquanto Igreja, também estamos em uma grande tarefa; como um atleta, nós temos alvos, queremos alcançá-los, não queremos ser perdedores, tampouco ser excluídos da equipe (ministérios). Porém, algumas coisas básicas são exigidas de nós, para alcançarmos o alvo. Qual seria o alvo? Antes, definamos qual é a tarefa, pois não se acerta o alvo sem saber o que fazer, e como fazer.
A tarefa é: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28.19). O modo pelo qual devemos realizar isso está definido pelo apóstolo Pedro: “... e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.” (Atos 6.4). E o nosso alvo é: “advertindo a todo homem e mulher e ensinando a todo homem e mulher em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem e mulher perfeito em Cristo.” (Cl 1.28).
a) Ide e fazei discípulos.
Eu não preciso escrever muito sobre essa ordem; foi Jesus quem determinou. Nós escolhemos o padrão bíblico e wesleyano de discipulado, através de pequenos grupos, na igreja e nas casas.
Para conhecer esse modelo wesleyano, vejam como nos conta Dr. Ensley, no livro já citado: “Quando uma pessoa dava evidência de justificação, ou entrada na vida cristã, tornava-se membro de uma classe. Esta era uma unidade menor da sociedade, com cerca de 12 pessoas, sob o cuidado pastoral de um líder. Essa pessoa, de madura experiência cristã, visitava seus convertidos em intervalos regulares – uma visita por semana era o ideal – e examinava suas almas. Esses líderes faziam relatórios periódicos a Wesley sobre o progresso espiritual de seus membros. Aqueles que desejavam uma comunhão religiosa mais íntima eram colocados em pequenos grupos formados por pessoas de mentalidade parecida que se reuniam durante a semana para uma discussão religiosa. Em geral, o líder começava a reunião, falando sobre a condição de sua alma.”
Na verdade, conforme nos instrui o manual do discipulado do Colégio Episcopal, discipulado no modelo metodista é um estilo de vida cristã madura e santa. Hoje, reconhecemos que muitos membros estão sem pastoreio. O discipulado vem para também suprir essa carência.
b) “...nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.”
A demanda da presença do pastor/a, e mesmo de um líder de ministério, é sempre muito grande, especialmente dos que têm família, trabalho, enfim há uma sucessão de prioridades que se colocam no caminho de quem deseja atender a palavra de Pedro. Com certeza, toda justificativa por que não conseguimos nos dedicar mais à oração e ao estudo da Palavra tem relevância e sentido. No entanto, nossa fidelidade a essa recomendação de Pedro em Atos dos Apóstolos vai decidir se somos frutíferos ou não no ministério ao qual fomos chamados.
b.1) “...nos consagremos à oração...”
Deixem-me repartir alguns testemunhos históricos sobre o tema da oração. O conhecido escritor cristão M. Bounds disse: “cada líder deve ser proeminentemente um homem ou mulher de oração. Nenhum conhecimento substitui a oração. Falar com homens sobre Deus é uma grande tarefa, mas falar com Deus sobre os homens é algo ainda maior. Não é possível que alguém fale bem e com sucesso aos homens sobre Deus, se não tiver aprendido a falar com Deus sobre os homens. Mais que isso, palavras sem oração, são palavras mortas.”
Esse é um dos nossos grandes problemas: temos palavras de ordem, palavras bonitas que os pregadores fazem a congregação repetir, mas não convertem ninguém, não mudam a vida do povo, falta unção nessas palavras, pois sem oração, não há unção.
Dr. A.J. Gordon exorta, dizendo: “Nossa geração está perdendo rapidamente seu contato com o sobrenatural, com o poder de Deus, e, em conseqüência, o púlpito está aceleradamente caindo para o nível do palco.” Muita festa, muito show, e pouco arrependimento, pouca palavra de Deus.
Dr. Francis Ensley, em seu livro simples, mas clássico João Wesley, o Evangelista, diz o seguinte sobre a vida de oração de Wesley: “Temos a impressão de que o Senhor estava sempre junto ao cotovelo de Wesley, para validar as suas orações. Ele nos conta que em Yarm a chuva cessou depois de dois ou três minutos em resposta à oração. Em Newcastle, a chuva ameaçava cair, mas não caiu, enquanto o pregador não terminou o sermão – chovendo depois, abundantemente. Wesley comenta: ‘Como Deus regula bem o tempo dos pequenos e dos grandes eventos, para o avanço do seu reino1’. Em Newell-Hay: ‘No momento exato em que comecei a pregar, o sol saiu e brilhou fortemente sobre minha cabeça. Percebi que, se continuasse, não poderia falar durante muito tempo, e elevei meu coração a Deus. Em um minuto ou dois, o sol estava coberto por nuvens, permanecendo oculto até o término do culto. Aquele que preferir pode chamar isso de acaso. Eu chamo de uma resposta à oração’.....Ele salvou um edifício do fogo por meio da oração. Em outra ocasião memorável, orou por seu cavalo coxo, que alguém lhe disse estar irremediavelmente aleijado, e o cavalo melhorou, enquanto caminhava.”
Com essas lições de homens de Deus, como Wesley, fica difícil não considerarmos que temos colhido pouco, porque temos orado pouco. Acolhemos modismos, novas ênfases, sempre esperando resultados de estratégias humanas. Nenhuma estratégia substitui a oração; a oração traz Deus e seu poder para dentro de nosso ministério, ele assume o controle, e o resultado é a multiplicação dos frutos.
b.2) “ ...e ao ministério da palavra...”
Preciso juntar a isso, o tema que Pedro também colocou, que é o dedicar-se à Palavra de Deus.
Deixem-me começar com a observação de Jesus sobre as Escrituras; logo no sermão do monte, Ele ensinou: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.” (Mt 5.17-19). Não podemos ter um ministério frutífero sem sermos zelosos em aprender a Palavra e ensiná-la. Bastante inspirado é o testemunho dos discípulos de Emaús, quando dizem: “E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” (Lc 24.32).
Precisamos, como pastores e pastoras, ouvir Jesus nos falar pelas Escrituras, aquecer nosso coração, e nós com o coração aquecidos pela Palavra, seremos instrumentos para aquecer o coração do povo que Deus nos tem dado para pastorear e liderar.
Paulo tinha tal zelo; diz ele aos líderes da igreja em Éfeso: “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa.... Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.” (Atos 20.20, 32). Ensinando a Timóteo, ele dá uma exortação, conhecida de todos nós, mas sempre estimulante: “... e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.” (2 Tm 3.15). E, depois, define por que é decisiva a Palavra de Deus na vida do servo e da serva de Deus: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste” (2 Tm 3.14).
Quando passamos a Wesley, a lição não deixa de ser preciosa. Vejamos o que nos diz o mesmo livro de Ensley: “Ele nos conta que, em seus dias de estudante, resolvera ser um ‘homo unius libri’ – homem de um único livro... A Bíblia entra bem fundo no cerne da experiência de Aldersgate! Em 24 de maio de 1738, Wesley consultou duas vezes a Bíblia; uma vez em 2 Pedro, outra em Marcos 12. À tarde, ouviu o coro da igreja de São Paulo cantar o Salmo 130. Mais tarde – muito significativamente –, durante a leitura do comentário de Lutero sobre a Epístola aos Romanos, Wesley teve seu coração aquecido. Note como ele descreve sua experiência quase inteiramente em termos bíblicos. Ele sentiu que havia sido salvo “da lei do pecado e da morte” – uma expressão paulina. Começou a orar por aqueles que “o perseguiam e o caluniavam” – uma citação direta de Mateus. Fala sobre o estar sob a lei e a graça – categorias paulinas. Depois diz que em Aldersgate passou de servo a filho – reminiscência da parábola do filho pródigo. As idéias bíblicas eram as moedas com que seu espírito fazia transações, e refletem os longos e duros labores na sua aquisição.”
c) “...a fim de que apresentemos todo homem e mulher perfeitos em Cristo...”
Este é o alvo da nobre tarefa de ganhar as pessoas para Cristo: fazer delas discípulos e discípulas, de tal maneira que possamos apresentá-las perfeitas em Cristo. Maturidade e santidade é o que garante ao nosso rebanho vida abundante aqui, e vida eterna com Deus.
Para concluir, deixem-me dizer ainda algo decisivo que li de Wesley Duewel: “A igreja local é construída ou destruída pelos seus líderes, o povo em geral imita o líder, só os líderes que oram têm seguidores que oram. Um líder piedoso, dinâmico, que ora é um dom de Deus para o povo. Um líder fraco e descuidado na oração é em geral um impedimento para Deus e para o povo. Os líderes que sabem como orar são o maior dom de Deus para a Igreja e para a terra.
Nada é mais importante na vida e no ministério do líder do que ter uma vida exemplar em tudo. A sua liderança não pode ser mais eficaz do que o seu testemunho de vida. Seu procedimento prepara o caminho para a recepção das suas palavras. Isso é verdade tanto em seu próprio povo quanto entre os não salvos.
O exemplo da sua vida valida ou invalida o seu ministério. Você não tem mais credibilidade em qualquer comunidade do que a sua vida garante. Você deve encarnar o que diz. Você deve demonstrar que o evangelho é verdadeiro.”
Bispo Paulo Lockmann
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