IGREJA METODISTA EM VILA ISABEL
Fundada em 15 de Junho de 1902

Boulevard Vinte e Oito de Setembro, 400
Vila Isabel - Rio de Janeiro - RJ
CEP: 20551–031     Tel.: 2576–7832


Igreja da Vila

Aniversariantes

Metodismo

Missão

Artigos e Publicações

Galeria de Fotos

Links


Protestantismo
Rio, 3/9/2007
 

Evangélicos na mídia: serviço ao Evangelho ou ao mercado?

ZZ Outros Colaboradores ZZ


 

Introdução

Um dos grandes fenômenos no Brasil de hoje é a intensa presença, em especial dos evangélicos, nos meios de comunicação (mídia) eletrônicos. É importante enfatizarmos a expressão “intensa presença” que marca os nossos dias porque a relação igrejas e mídia não é novidade. Desde o advento da eletrônica no século XIX, as diferentes igrejas procuraram colocá-la a seu serviço.

No entanto, nesse passado e até meados do século XX, não havia um destaque e um privilégio à mídia como meio de propagação de grupos religiosos, como podem ser percebidos hoje. Uma explicação para essa mudança de postura e de estratégia é que as igrejas estão acompanhando a tendência do sistema sociopolítico e econômico que hoje rege os destinos do mundo, o sistema do mercado e do livre comércio de produtos os mais diversos, e que é regido e garantido pelos meios de comunicação social. Daí a tão proclamada “globalização” – a quebra de barreiras econômicas e comerciais e, como conseqüência, o alargamento de fronteiras culturais e políticas.

Não pode restar dúvida de que a presença nos meios de comunicação é hoje, na era da mídia eletrônica, importante para qualquer grupo social religioso ou não que queira tornar públicas suas propostas e mensagens. Porém, o desafio que se coloca aos cristãos e cristãs de hoje, em especial no Brasil, é responder à pergunta: Para que estar presente na mídia? Qual tem sido a contribuição da presença das igrejas na mídia para o cumprimento da vontade de Deus neste mundo?

Sai o evangelismo e entra o consumo e a diversão
Em nossos dias é possível identificar, ao analisarmos a crescente presença dos evangélicos na mídia, as seguintes características:

• As ênfases na cura, no exorcismo e na pregação da salvação em Cristo que predominavam nas programações há 20 ou 30 anos já não mais predominam; cedem espaço à diversão. Hoje, a programação é variada e adaptada à dinâmica dos programas de outras emissoras, com ênfase no lazer. Na TV, exibem-se os clipes e os shows musicais, filmes bíblicos, programas de auditório, de entrevistas e debates. Nas rádios FM, o modelo é o mesmo das outras: música na maior parte do tempo, entrevistas, debates, jornalismo (menor parte), jogos e distribuição de brindes para os ouvintes. Tanto na TV quanto no rádio, o conteúdo troca a ênfase na salvação e nos milagres pela pregação da prosperidade financeira como bênção de Deus e da guerra espiritual e oferece também respostas religiosas para questões atuais como depressão, estresse, drogas, crises familiares.

• Na atualidade, não há mais a figura carismática destacada dos televangelistas como no passado de Rex Humbard, Jimmy Sweaggart, Nilson Fanini ou Roberto McAllister. Hoje há os apresentadores mais ou menos “famosos” que possuem os próprios programas, de acordo com a faixa de público-alvo e com a temática trabalhada, dividindo a exposição de sua imagem com os cantores-artistas, a exemplo das outras emissoras. O único personagem que vem dos anos 70, o pastor R. R. Soares, transformou na TV o que tinha antes o formato de um culto religioso para um formato de programa de auditório e abriu espaço para as apresentações musicais gospel, revelando buscar acompanhar a tendência de busca de audiência entre os evangélicos – o Show da Fé.

• Na mídia evangélica a ênfase da mensagem transmitida não é na “Igreja” e na adesão a ela, mas no cultivo de uma espiritualidade que não depende dela, mas que é autônoma e individualizada. O que se enfatiza não é a Igreja mas a experiência religiosa que independe da Igreja e pode ser conseguida pela TV ou rádio, isto é, pela mídia pode-se aproximar de Deus, independente da ligação a uma comunidade de fé.

Estas características unem-se ao fato de que os evangélicos são agora um segmento, um mercado em plena expansão. A mudança de postura quanto à pregação da salvação retrata bem isso. Se no passado havia uma ênfase no convite à conversão e na divulgação da denominação religiosa, hoje, a programação das rádios FM, os programas televisivos e a infinidade de páginas religiosas na internet são na maioria dirigidas ao público já vinculado a alguma igreja. Exemplos como podem ser encontrados nos comerciais veiculados na programação das rádios e da TV, em que os apelos são “enriqueça a sua igreja com o produto x”, “aprofunde a sua fé com o produto y”, “fique mais perto de Deus com o produto z”, “presenteie o seu pastor com o produto tal”...

A divulgação dos locais de culto de quem dirige a programação fica em segundo plano. O principal é a exibição de conteúdo musical por meio de clipes ou apresentação de cantores/as e grupos musicais gospel – dada a força do mercado da música evangélica. Os demais aspectos da programação (debates, sessões de oração, estudos e sermões) não têm a ênfase da pregação da salvação mas em uma determinada doutrina para conquista de público para a programação e de consumidores para os produtos veiculados.

Portanto, a mídia evangélica passa a congregar uma comunidade de consumidores em que a ligação a uma igreja ou denominação já não é o que mais importa e sim uma audiência que leve a uma aproximação individual com Deus e à diversão “sadia”. Este é o apelo evangélico em tempos de cultura gospel.

Como julgar?
Os elementos descritos acima demonstram que a crescente presença dos evangélicos na mídia não é apenas um fenômeno religioso mas corresponde ao que está acontecendo no mundo com o predomínio do sistema do mercado financeiro. Por meio do rádio e da TV evangélicos pode-se hoje participar de uma igreja, de mais de uma, ou de nenhuma, sem compromisso, a distância. Eles buscam fazer chegar a Deus por meio do consumo de produtos e da diversão e com o oferecimento de mensagens, orientações, estímulos, consolos.

Portanto, nesse novo modo de vida religioso, não importam mais a adesão a uma comunidade, a profissão de fé, o rol de membros, o compromisso com uma comunidade; o que importa o acesso a Deus. E isso pode acontecer por meio do consumo e da diversão – especialmente o lazer musical –, mais do que pela pregação da palavra, pelo estudo, pela partilha em comunidade e pelo compromisso social.

Quando nos voltamos para a Palavra de Deus para avaliar essa situação que predomina hoje, lembramos que os relatos bíblicos apresentam Deus como um grande comunicador que lança mão de diferentes meios para recuperar sua comunhão com a humanidade. As palavras, as ações, os seres vivos, os fenômenos da natureza, tudo é meio para a comunicação divina, a ponto de Ele eleger a vida humana para comunicar-se integralmente: Jesus Cristo, o portador da “boa notícia” (Evangelho) de que a redenção da criação é possível. E como Jesus Cristo comunicou o Evangelho? Por meio de atitudes, gestos, palavras, símbolos. Ele era a Palavra feita carne. Uma comunicação desinteressada, gratuita, que não se reduziu à busca de resultados calculados mas que espalhou mensagens e ações que indicavam compromisso com a dignidade de vida, valorização do ser humano, misericórdia, indignação com a injustiça, chamado ao arrependimento, diálogo e amizade – tudo isto da parte de Deus.

Julgar a presença das igrejas na mídia? Sim, podemos: o modelo de comunicador do Evangelho é Jesus Cristo. É ele o inspirador das práticas religiosas predominantes na era da mídia eletrônica?

Voltar


 

Copyright 2006® todos os direitos reservados.