UMA LEITURA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE – Parte I
A Teologia da Prosperidade tem conseguido, ao mesmo tempo, apaixonados defensores, e severos críticos, tanto entre as Igrejas Cristãs Históricas como entre os pentecostais. Trata-se de uma ênfase teológica que trabalha com a tese de existência de uma corrente do mal, presente na humanidade desde a origem do mundo, responsável por toda sorte de males que atingem a humanidade, transmitida de uma geração à outra por palavras e pensamentos negativos, conscientes e inconscientes, que precisam ser quebrados para a inserção das pessoas na “corrente das bênçãos”.
Os neopentecostais (1), especialmente a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus, desenvolvem uma proposta litúrgica e ministerial com o objetivo de proporcionarem às pessoas à transição de uma corrente à outra. Entendem que os segmentos eclesiásticos que os precederam não deram conta dessa questão.
As origens da Teologia da prosperidade remontam à Mary Baker Eddy, natural de “Bow, Estado de New Hampshire, E.U.A., procedente da Igreja Congregacional (2). Mary teria adotado a linha do “pensamento positivo” como forma de negação da existência do mal e de livramento dos efeitos negativos do pensamento sobre o físico, após ter procurado o " hipnotizador e curandeiro Finéias Parkhust Quimby ”, por causa das frequentes enfermidades (3).
Posteriormente, Mary teria sido curada das “seqüelas graves de uma queda no gelo” numa experiência religiosa vivenciada durante a leitura do texto de Mc 2.1-12, sobre a "cura do paralítico." (4) Essa experiência teria levado Mary a se tornar defensora e divulgadora das idéias que enaltecem o poder da palavra falada e do pensamento positivo na vida das pessoas que lutam por um estilo de vida livre dos sofrimentos e das intempéries que assolam a humanidade.
Como instrumentos de divulgação dessa proposta e dos passos para alcançá-la, Mary “fundou uma escola em Lynn, Massachusetts” (5); escreveu e publicou um folheto (6); publicou um livro intitulado: Ciência Cristã como chave das Escrituras (7); alegou ter elaborado a obra por inspiração, ou seja, “recebido do Senhor”, na linguagem pentecostalizada, mas, análises posteriores revelaram cópias integrais (plágio) de “trinta e três páginas de um manuscrito do Dr. Lieber sobre os escritos de Hegel.” (8) Criou também a “Faculdade de Metafísica de Massachusetts” (9) e a “Sociedade Editora da Ciência Cristã”, para a publicação diária, semanal e mensal de diferentes jornais, além de folhetos sobre a Ciência Cristã. Todos voltados para "a cura cristã da humanidade". (10)
O passo decisivo para a concretização das idéias de Mary ocorreu em 1879 quando organizou a “primeira Igreja de Cristo Cientista, que fundamentada no livro Ciência e saúde como Chave da Escrituras” onde Deus é tido como “Princípio, e a Ciência Cristã como o Espírito Santo”. Nessa perspectiva, o “outro consolador” (Jo 14.16) é entendido como a Igreja Ciência Cristã, o livro Ciência e Saúde e todos os outros meios que permitem chegar às pessoas as “boas novas” do pensamento positivo (11).
Na cristologia Mary também apresenta inovações ao explicitar um enfoque por via média entre o “Jesus Histórico e o Cristo da fé” (12). Na linha do pensamento positivo de Mary Jesus é visto como “uma idéia”, fruto da “consciente comunhão de Maria com Deus (13). Afirma que “Jesus não era o Filho de Deus num sentido diferente daquele em que todo homem é filho de Deus... O que os evangélicos chamam de ressurreição era a demonstração da Ciência Divina, o triunfo da Verdade e do Amor imortal sobre o erro". (14)
Mary faleceu em 1910, mas deixou uma herança que atravessou as fronteiras do universo sincrético religioso. Começou no contato com o benzedor “Quimby”, influenciou diversos líderes, alcançou o ápice nos 30 e 40 nos Estados Unidos (15) e chegou ao Brasil a partir da segunda metade da década de 70 com as Igrejas Neopentecostais, especialmente a Igreja Universal do Reino de Deus e na Igreja Internacional da Graça de Deus (16).
Na segunda metade da década de 90 transpõe novas fronteiras ao chegar às Igrejas Cristãs Históricas como Renovação Carismática Católica e em Igrejas do protestantismo Histórico, especialmente na Igreja Metodista e na Igreja Presbiteriana. Razões que levaram os bispos metodistas a elaborarem uma Carta Episcopal sobre o assunto onde afirmam que a Teologia da Prosperidade:
"Parte do princípio de que todos são filhos do Rei (Deus, Jesus) e que, portanto, recebem os benefícios desta filiação em forma de riqueza, livramento de acidentes e catástrofes, ausência de doenças, ausência de problemas, posições de destaque, etc...oferece fórmulas para fazer o dinheiro render mais, evitar-se acidentes, livrar-se de doenças e problemas, aumentar as propriedades, além de viver uma vida sem dificuldades". (17)
Outros aspectos da trajetória da tese do pensamento positivo de Mary ao neopentecostalismo, com fortes influências nas igrejas Cristãs Históricas, especialmente na hinologia recente serão abordados nos próximos textos. Por questões pedagógicas prefiro apresentá-la em três ou quatro etapas para fundamentar bem os passos panorâmicos facilitando assim o acompanhamento e a reflexão por parte dos leitores.
No próximo texto apresentaremos as mediações norteamericanas de Essek William Kenyon e Kenneth Hagin, nos anos 30 e 40, antes da chegada do tema ao Brasil no final dos anos 70. Os leitores estão convidados a mais algumas milhas conosco!
Messias Valverde
CITAÇÕES
(1) Termo utilizado para designar as Igrejas Pentecostais que surgiram no Brasil a partir da segunda metade da década de 70.
(2) In:Ciência Cristã, p.1.<http://www.solacriptura-tt.org/seitas/ciência>cristã-planetaev.htm.
(3) Idem.
(4) In: Mary Baker Eddy fiel seguidora de Jesus Cristo,p 1- www.piccportoalegre.org/eddy.htm.
(5) www.ciência <http://www.ciência> e saúde.com.br/vocêsabia 01.htm.
(6) www.ciência <http://www.ciência> e saúde.com.br/vocêsabia 01.htm.
(7)In: Ciência Cristã, op. cit. p.1
(8) Idem.
(9) Ibidem, p.3.
(10) In: Mary, fiel seguidora, op. cit. p.2.
(11) Cf Ciência Cristã, p.3.
(12) Na questão do Jesus Histórico e o Cristo da fé, o primeiro enfatiza os aspectos físicos e temporais de Jesus, o segundo aborda o lugar teológico que o ressuscitado assume na fé e na pregação dos primeiros seguidores.
(13) Ciência Cristã, p.3.
(14) Idem.
(15) LIMA, Pr. Elinaldo Renovato de. A Teologia da prosperidade à Luz da Bíblia, in: www.assembléiadedeus-rn.org.br.
(16) LIMA, A Teologia da Prosperidade à Luz da Bíblia..
(17) Colégio Episcopal Metodista. Carta Pastoral sobre a Teologia da Prosperidade, Expositor cristão, junho de 2007
Voltar