Descobrindo um Ministério
A maneira como Paulo interpreta sua prisão em Filipos é bastante positiva. Ele não entra em depressão. Quem já esteve preso sabe quão deprimente é ver-se nas trevas de uma cadeia. É a negação do propósito de Deus para a vida humana. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5:1).
Paulo, apesar de preso, sentia-se em liberdade, esta aparente contradição só é resolvida pelo Evangelho. Paulo, assim que se viu preso, tratou de descobrir qual era o propósito de Deus. E descobriu! Deus queria que ele pregasse o Evangelho à guarda pretoriana e demais oficiais (Fp 1:12-13). Tarefa que Paulo só poderia fazer lá no cárcere onde trabalhavam estes homens. Não esquecendo de Onésimo, escravo fugido da casa de Filemon, e que, preso com Paulo, ouviu a sua pregação e se converteu na prisão (Fm 10).
Alguém poderia dizer: “Ele não poderia pregar na rua ou em outros lugares que esses guardas freqüentavam?” Na verdade a resposta seria: sim. No entanto, para aqueles homens duros, acostumados a matar, a maneira de agir de um preso como Paulo seria o melhor meio para a evangelização. Certamente já haviam ouvido muitos oradores, cristãos, mas nunca haviam visto um preso como Paulo.
Outro propósito que Paulo descobriu foi que os irmãos, que antes eram tímidos na pregação, passaram a pregar: “com mais desassombro a Palavra de Deus” (Fp 1:14).
Outro ministério que Paulo desenvolveu na prisão foi o de escritor inspirado por Deus. Temos as cartas do cativeiro (Filipenses, Efésios, Colossenses), obras profundas que têm inspirado a Igreja através dos séculos.
Nos momentos difíceis podemos descobrir novos ministérios em nossa comunidade; precisamos enfrentá-los com fé, e com atitudes positivas, crendo que o Senhor peleja por nós.
Em situações como a que Paulo enfrentava as pessoas como são, ele diz que algumas pessoas da igreja de Roma, onde estava preso, pregavam de boa vontade, outros por inveja (Fp 1:15-16). Apesar da motivação equivocada de alguns apóstolos, se alegrava porque, de todos os modos, Cristo estava sendo pregado.
“Porquanto para mim o viver é Cristo.” (Fp 1:25)
Paulo transmite para a igreja em Filipos segurança e esperança. Esta posição de fé procedia da visão de Deus que Paulo tinha. Deus em Cristo era o Senhor da História, um Deus soberano e poderoso, capaz de promover sua libertação.
Paulo sabia que os irmãos e irmãs em Filipos estavam preocupados com ele, queriam saber como estava sua saúde, seu processo, se ia ser condenado, ou se ia ser solto. A resposta de Paulo a tais perguntas eram típicas. Ele respondeu que o Evangelho ia bem e estava sendo cada vez mais pregado; e quanto a ele, quer vivesse ou morresse, Cristo seria glorificado no seu corpo, pois para ele o viver era Cristo e o morrer era lucro.
Acredito que Paulo tinha esperança de vir a ser solto, mas não estava seguro plenamente disto, já que sua prisão em Roma durava mais de dois anos (61-63 d.C.).
Segundo os pesquisadores da vida de Paulo, ele teria sido preso em Jerusalém em 58, sendo levado para Cesaréia, onde permaneceu até o ano 60, quando apelou para César, sendo levado a Roma, onde chegou em 61, após naufrágio e outras experiências conforme lemos em Atos 21:28. Em Roma teve uma prisão domiciliar; mais tarde esta prisão foi apertada. Não sabemos quanto tempo durou cada etapa desta prisão, apenas que seu período foi de 61 a 63, tendo Paulo sido inocentado das acusações e solto. Mais tarde, segundo as pesquisas, teria sido preso de novo, quando escreveu as cartas pastorais a Timóteo e Tito.
A verdade é que Paulo buscava ser solto, prova disto é sua opção dizendo: “E convencido disto, estou certo de que ficarei, e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé.” É verdade que este ficar tinha dois sentidos: 1) não vou morrer, nem serei condenado; 2) serei sim liberto e irei até vós.
Finalmente, Paulo conclui este capítulo com algumas exortações à igreja em Filipos (Fp 1:27-30). Começa enfatizando uma vida digna, testemunho aprovado, um padrão de vida de acordo com o Evangelho (v. 27a). Desafio que continua valendo hoje. A seguir apela à unidade: “firmes em um só espírito (propósito), com uma só alma” (v. 27b). Com o tema “Comunidade a Serviço do Povo”, dependemos da unidade na Igreja, visto não existir comunidade sem um mínimo de unidade entre as pessoas que compõem a Igreja. As lutas e adversidades devem nos unir mais e mais, nunca nos amedrontando, mas devemos lutar juntos pela fé evangélica. O desafio da missão é mais urgente que nossas possíveis diferenças.
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